Grandes nomes do esporte: Kurt Albert

Kurt Albert inventou o redpoint, o que hoje conhecemos popularmente no Brasil como escalada em livre, e desenvolveu grande parte de nossa atitude filosófica em relação ao esporte atual. O escalador alemão era considerado uma verdadeira lenda vida, e foi graças à busca do aperfeiçoamento da escalada esportiva que ele impactou toda uma maneira de enxergar e vivenciar o esporte. Albert passou por cima de muitos críticos e teóricos da época (os quais nenhum deles são lembrados atualmente) e é amplamente reconhecido como o “pai da escalada esportiva”. A partir de suas ideias é que foram surgindo iniciativas ao redor do mundo a respeito da escalada esportiva.

Desde que morreu na Baviera, estado da Alemanha, após cair de uma via ferrata em Höhenglücksteig em 2010, ainda não apareceu uma personalidade tão marcante quanto Kurt. A importância e influência de um escalador pensador e filósofo, são quase impossíveis de medir. Sua própria história pessoal se confunde com a da escalada si. Na época Kurt Albert tinha 56 anos de idade e deixou um legado imenso após uma queda de 18 metros.

Kurt Albert nasceu em Nuremberg, na Alemanha, e começou a escalar quando tinha apenas 14 anos de idade em 1968. Antes de se dedicar totalmente à escalada em 1986, era professor de matemática e física. Notadamente era uma pessoa de intelecto diferenciado e, talvez por isso, começou a formular vários conceitos que hoje fazem parte das “regras ocultas da escalada”. Diferentemente do que se pode pensar, Albert não era um “conorel” ou um “xerifão” da escalada de seu país. Ele era aberto a ideias e escutava a todos, não importando o nível de escalada. Por trabalhar tanto tempo como professor, sabia que a cada dia avia algo a aprender e que todas pessoas possuíam potencial. Assim como todo grande atleta, sabia que não era melhor do que ninguém.

Aos 17 escalou o Walkerpfeiler nas Grandes Jorasses e um ano depois a face norte do Eiger. No início dos nos 1970 reconheceu o potencial que tinha a escalada livre, a qual era praticada na região alemã da Saxônia desde o início do século XIX. Kurt Albert começou a escalar em estilo livre em sua área de escalada próximo de casa: Frankenjura. Nas vias que ele escalava em livre, pintava um “X” vermelho nas rochas perto de proteções que ele julgava não serem mais necessárias. Certa vez, em vez de colocar os “X” em todos os pitons e grampos, ele decidiu pintar um ponto vermelho.

Assim nasceu o rotpunkt (“redpoint” em inglês). Isso significava que aquela via já tinha sido escalada em estilo livre e, por isso, não fazia sentido subi-la em artificial. Para muitos historiadores foi a origem do movimento de escalada livre, que levou ao desenvolvimento da escalada esportiva alguns anos depois. Dedicando-se totalmente à escalada, foi um escalador revolucionário. Fugia das regras e alardeava que a escalada deveria ser sempre em estilo livre. Para ele a escalada artificial limitava a criatividade do escalador.

Juntamente com um punhado de outros jovens escaladores, incluindo Wolfgang “Flipper” Fietz, Norbert Bätz, Norbert Sandner e pouco depois seu amigo Wolfgang Güllich, Kurt Albert imediatamente começou a estabelecer vias cada vez mais difíceis em sua Frankenjura.

A partir do conceito de “redpoint”, foi subindo a dificuldade das vias de escalada em estilo livre. A primeira destacável em seu curriculum foi a “Exorzist” (7a francês – 7c brasileiro). A via foi encadenada no ano de 1976. Toda esta história de como foi criado o conceito de redpoint, está no livro “Fight Gravity, Klettern im Frankenjura” escrito por ele. No livro Kurt Albert Explica que “o redpoint no começo de uma via, ou variante, significa a possibilidade de escala-la sem o uso de nada artificial como pontos de apoio. Grampos, fitas ou entaladores servem unicamente para a segurança. Portanto, também é não é permitido descansar neles, mesmo que para continuar volte à posição anterior”.

Este é o conceito puro e definido de escalada em livre.

Kurt Albert passou à história do esporte não somente pelo redpoint, mas também por realizar ascensões notáveis. Depois de sua primeira visita em Yosemite, no ano de 1977, o escalador alemão teve sua primeira epifania: escalar grandes paredes em estilo livre. A partir disso conseguiu “livrar” (escalar em estilo livre) duas vias de dificuldade considerável nas Dolomitas, no ano de 1986.

Ao encadenar “Via dos Suíços” (7b+ francês / 8c brasileiro) e “Brandler-Hasse”(7a+ francês / 8a brasileiro), começou sua fase mais histórica. A lista de Kurt Alberta, em paredes grandes, é longa. Mas o escalador alemão realizou em estilo livre em paredes como Dolomitas, Trango Tower, Torres del Paine, Ilha de Baffin, Tepois e Fitz Roy. Todas escaladas fantásticas para a época e até mesmo para os dias de hoje.

A parceria de escalada Albert-Güllich foi tão bem sucedida (os dois escalaram juntos por 11 anos) que um ano mais tarde, a dupla se uniu as vias “Norbert Bätz”, “Peter Dittrich” e “Bernd Arnold” para estabelecer a bela ” Riders on the Storm “, uma linha direta de 1.300 metros da Torre Central de Granito em Torres Del Paine Paine. A Patagonia, que até hooje é desprezada por boa parcela dos escaladores esportivos brasileiros, impressionou profundamente Kurt Albert e em 1995 ele retornou com Bernd Arnold mais uma vez, e com Jorg Gerschel e Lutz Richter ele estabeleceu a “Royal Flush”, graduada em 7c francês (9a brasileiro) no Pilar do Leste do Fitz Roy. De todas as suas grandes paredes, Kurt sempre considerou esta escalada como a mais importante.

Embora sempre extremamente à vontade em casa, diante de uma grande xícara de café na companhia de amigos próximos, como Jerry Moffatt, o antigo professor de física e matemática constantemente procurava novos desafios. Kurt Albert não ficava confinado no mesmo lugar boa parte do ano, masturbando vias que já tinham feito anteriormente. Para ele, a vida era muito curta para ser pequena.

Foi assim que surgiu a ideia de confrontar as montanhas “por meios justos”, o que se traduziu em aproximar-se de alguns dos picos mais remotos do mundo, sem o uso de carregadores ou assistência motorizada. No início do novo milênio, ele experimentou este conceito junto com Stefan Glowacz, Holger Hember e Gerd Heidorn, escalando os 500 metros da “Odyssey 2000” no Urso Polar de Granito da Ilha de Baffin (maior ilha do Canadá). Mais do que apenas uma via, a linha foi o culminar de uma aventura épica que os quatro escaladores completaram em total autonomia, transportando todo o equipamento por mais de 400 km em uma das partes mais inóspitas do planeta.

Albert abraçou esta nova filosofia, montanhas “por meios justos”, de braços abertos e isso imediatamente se tornou seu lema nos anos que se seguiram, muitas vezes na companhia de Stefan Glowacz. Quase nenhuma estação do ano passou sem uma primeira ascensão significativa em alguma parede remota.

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