Jaquetas de chuva: A história de um equipamento básico para todo montanhista

Baseando-se em pesquisas genéticas da coloração da pele, os seres humanos perderam os pelos do corpo em torno de um milhão de anos. Ficando sem pelos, provavelmente passaram a usar algo para se aquecer. Portanto, muito provavelmente há 170 mil anos, os humanos começaram a usar roupas. Inicialmente o material destas roupas era a pele de animais. Já a costura, começou a aparecer a aproximadamente 40 mil anos, mas as ferramentas para isso eram bem mais complexas que as agulhas e linhas da atualidade.

A tecelagem apareceu há aproximadamente 27 mil anos. Foi partir de então que as civilizações descobriram muitos materiais que poderiam se adequar em roupas como o linho (5.500 a.C.) e a seda (4.000 a.C). A roupa surge então como uma forma de defender o corpo contra fatores ambientais (frio, vento, calor, poeira e neve). Junto da necessidade de vestir-se, apareceu também a necessidade de proteger-se da chuva. As pessoas sempre tentavam se manter secas por qualquer meio disponível há milhares de anos.

As primeiras tecnologias

Uma das primeiras formas de roupas de proteção contra a chuva foi implementada na China Antiga (2.000 a.C a 221 a.C) e eram capas de chuva feitas de palha ou grama. Essas capas de chuva são descritas em poemas datados de 1.000 d.C.. Os agricultores chineses usavam estas capas de chuva enquanto trabalhavam nas lamacentas plantações de arroz durante a estação das chuvas. Essas capas de chuva até funcionavam, mas eram duras e pesadas.

Mais ou menos na mesma época, os pescadores esquimós (mais precisamente os inuítes) começaram a usar um outro material, também impermeável: intestino de baleia. Apesar de ser eficiente, havia muito trabalho para caçar baleias e retirar os intestinos.

Por volta de 1.200 d.C., os índios amazônicos começaram o látex extraído de seringueiras, para criar uma impermeabilização primitiva de calçados e roupas. Esta inovação dos índios amazônicos pareceu interessante aos Europeus, que começaram a aplicar a impermeabilização indígena em suas roupas.

Apesar de eficiente, o látex aplicado nas roupas apresentava um defeito considerável. A borracha se tornava pegajosa no clima quente e extremamente rígida no clima frio. Foi a partir disso, durante a Revolução Industrial, que os processo químicos começaram a ter um papel importante na indústria têxtil.

Charles Mackintosh

Já durante a revolução industrial, mais precisamente em 1823, uma inovação para tornar a roupa impermeável ​​foi feita pelo químico escocês Charles Mackintosh. Macintosh experimentou vários produtos químicos e descobriu que a nafta era capaz de dissolver a borracha e transformá-la em uma pasta. A pasta resultante era capaz de repelir a água.

Ao prensar o revestimento entre dois pedaços de pano, Macintosh conseguiu criar um tecido que, embora o exterior pudesse se molhar, protegeria o usuário da água na parte interior. O químico patenteou este novo método de impermeabilizar roupas e começou fazendo as novas capas de chuva na fábrica têxtil de sua família.

No ano de 1843, Mackintosh iniciou a fabricação em massa de roupas resistentes à água através de uma fusão com uma grande empresa de fabricação de roupas.

Porém, o látex dissolvido era imperfeito. A costura para formar uma peça de roupa perfuraria a borracha, permitindo que a água entrasse e isso degradava com o tempo. Isso foi resolvido com a invenção da borracha vulcanizada em 1839 por Charles Goodyear, e o Mackintosh continuaria como um ícone de roupas de chuva até hoje.

Foi aí que em 1851, a Bax & Company entrou no cenário da impermeabilização e introduziu a primeira lã impermeável, com a marca Aquascutum e desenvolvida pelo John Emary. Aquascutum era uma lã tratada quimicamente e projetada para derramar água. Essa roupa significava que o tecido continuava leve e respirável, mas resistente à água.

Quase 30 anos mais tarde, o alfaiate Thomas Burberry, proprietário da Burberry (uma casa de moda britânica), no final do século XIX, criou um tecido chamado gabardina, com cores e desenhos atraentes para a época. O fio era tratado para ser a prova dágua antes da tecelagem e sua invenção foi patenteada em 1888. O tecido original era impermeabilizado antes de passar à fase de tecelagem e era feito de lã, poliéster texturizado e algodão, fortemente confeccionado. A diferença dos outros produtos existentes na época: relativamente impermeável e mais confortável que os tecidos de à base de borracha.

As roupas de gabardina da Burberry foram usadas pelos exploradores Roald Amundsen (primeiro homem a chegar ao Polo Sul) e Ernest Shackleton (líder da expedição para atravessar a Antártida). George Mallory também usou um casaco deste material na sua tentativa de subir o Monte Everest (8.848 m), em 1924.

Primeira e Segunda Guerra Mundial

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a demanda por equipamentos militares de chuva explodiu e a Burberry foi contratada para fornecer casacos resistentes à chuva para o Exército Britânico. A empresa fez modificações no design para acomodar os requisitos militares, como alças e detalhes de costura. Quando os militares começaram a usar seus casacos ao retornar à vida civil e o casaco impermeável tornou-se sucesso da moda popular da época.

Como os EUA entraram na Primeira Guerra Mundial a partir de 1917, os uniformes militares dos EUA seguiram a tendência do trench coat (modelo desenvolvido por Burberry) de lã resistente à água que Burberry implementou no exército britânico. Após o início da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), a pesquisa militar norte-americana levou à melhoria da tecnologia de proteção à chuva.

Do vinil ao Gore-Tex

Mas, a lã era cara e escassa durante e após a Segunda Guerra Mundial. E, mesmo a gabardina não era totalmente à prova d’água, o que desagradava os clientes ao longo do tempo. Entretanto, muito progresso estava sendo feito em materiais derivados do petróleo e as coisas feitas com ele eram muito mais baratas de produzir.

Foi assim que apareceu o casaco de chuva de vinil, popular nos anos 1950 por causa de sua flexibilidade e capacidade de prova de água. No entanto, o vinil não é respirável e perdeu popularidade com o tempo, especialmente quando os tecidos sintéticos como o nylon apareceram, especialmente porque eram impermeáveis ​​e respiráveis.

No ano de 1969, havia muitas opções disponíveis para roupas de chuva. O algodão encerado era impermeável e respirável, as jaquetas pareciam agradáveis ​​e o vinil, barato. Mas nada disso combinava um peso leve com boa respirabilidade e desempenho. Foi aí que apareceu o Gore-Tex, uma fina membrana de polímero que repele a água em forma de gota, mas permite que ela passe como vapor.

O Gore-Tex tem muito pouca resistência por si só, por isso precisa ser protegido entre duas camadas (externa e interna), protegendo-o de abrasão e perfuração. Essa abordagem em três camadas é semelhante à empregada por Mackintosh e é como as melhores roupas impermeáveis ​​foram construídas desde então.

Além disso a camada externa é revestida com um tratamento repelente de água durável para evitar que ela absorva a água e, assim, perca sua respirabilidade e a camada interna é um tecido mais macio, ideal para o conforto contra a pele e que permite que o vapor de água passe sem impedimentos.

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