Janja Garnbret consolidou o seu nome como a melhor competidora de todos os tempos, ficando eternizada como a primeira medalhista de escalada esportiva da história. Todas as pessoas que acompanharam as competições de escalada no Parque Urbano de Aomi, jamais de esquecerão de ter visto uma rara superioridade de uma atleta sobre as demais.
Larissa Latynina (atleta russa com mais medalhas na história dos Jogos Olímpicos), Serena Williams (maior tenista de todos os tempos), Lisa Leslie (primeira mulher a dar uma enterrada e vencedora de quatro olimpíadas), Nadia Comaneci (a primeira ginasta a ganhar nota 10 em uma olimpíada), Kerri Walsh (maior campeã de vôlei de praia da história), Simone Biles (quatro outros em olimpíadas e 20 medalhas em mundiais), Martina Navratilova (maior tenista da história que venceu 18 Grand Slams de simples, 31 de duplas e 10 de duplas mistas) e Natalie Coughlin (considerada a maior nadadora da história) possuem agora a companhia da jovem Janja Garnbret.
Diferentemente dos homens, que foram assombrados pela influência excessiva da escalada de velocidade (e para o olhar de muitos prejudicados por essa deturpação de pesos de dificuldades), Janja dominou facilmente todas as disciplinas, não dando nenhuma chance para o azar no bouldering e vias guiadas.
Janja Garnbret foi proclamada campeã olímpica de escalada, a primeira na história da Olimpíada. Miho Nonaka e Akiyo Noguchi, que estavam em casa, a acompanharam no pódio, como segundo e terceiro lugares, respectivamente. Definir a maneira com a qual a jovem atleta eslovena venceu a competição, seria necessário procurar um adjetivo que, talvez, ainda não exista na língua portuguesa. Fosse necessário escolher um adjetivo para definir sua vitória, teria de escolher entre absoluta, suprema, superior, maioral e espetacular.
- Janja Garnbret (Eslovênia) – (5 x 1 x 1) 5,00
- Miho Nonaka (Japão)- (3 x 3 x 5) 45,00
- Akiyo Noguchi (Japão)- (4 x 4 x 4) 64,00
- Aleksandra Miroslaw (Polônia) – (1 x 8 x 8) 64,00
- Brooke Raboutou (EUA)- (7 x 2 x 6) (84,00)
- Anouck Jaubert (FRA)- (2 x 6 x 7) (84,00)
- Jessica Pilz (AUT)- (6 x 5 x 3) (90,00)
- Chaehyun Seo (COR) – (8 x 7 x 2) (112,00)
O fim de uma aberração
De quebra, a melhor notícia que podemos comemorar é a ‘morte’, mais do que merecida, da aberração, e criadora de distorções de resultados, do formato combinado.
Escaladores considerados dos melhores do mundo, como Adam Ondra e Alex Megos, já declararam que nunca mais colocarão a mão em uma parede de escalada de velocidade na vida.
Ainda há muito que discutir a respeito da importância da escalada de velocidade e o merecimento de tal disciplina tornar-se modalidade olímpica.
São ainda três anos até Paris 2024 e várias reflexões a respeito de filosofias do IFSC, devem (e necessitam) serem feitas para que o esporte deixe de ser algo interessante em nome do aclamado, mas ainda não provado em fatos e números, interesse da TV pela escalada de velocidade.
Recorde mundial de velocidade
A final feminina começou com a prova de velocidade, onde não houve surpresas. As duas melhores velocistas, Aleksandra Miroslaw e Anouck Jaubert , encontraram-se no último cruzamento, o decisivo. No final a surpresa para o público: Miroslaw estabeleceu um novo recorde mundial de velocidade com a marca de 6,84 segundos.
Jaubert foi segundo e terceiro e quarto lugares foram ocupados por Miho Nonaka e Akiyo Noguchi , respectivamente. Esse resultado beneficiou os dois japoneses e foi decisivo para os multiplicadores finais.
Porém, o 5º lugar obtido por Janja Garnbret funcionou de maneira estratégica, pois ficando no meio da tabela de classificação, dependeria somente dela mesma para as modalidades que já saiu coroada como a melhor do mundo diversas vezes.
Janja Garnbret soberana no bouldering
Com as linhas de bouldering longe do estilo futurista da final masculina, que privilegiou em demasia a estética de montagem, os route setters conseguiram acertar a mão ajustar o nível.
Com certa facilidade, Janja Garnbret (2T3z 5 3) foi a única escaladora capaz de fazer top nas duas primeiras linhas. Na terceira , não precisava chegar ao topo para ser declarada vencedora. A eslovena já sabia que era a primeira e diminuiu o ritmo.
considerada a zebra da disputa por sua performance na fase de classificação, a norte-americana Brooke Raboutou (0T3z 0 10) não manteve a mesma performance na disciplina. somente o número de tentativas de agarras zonas definiu a segunda, terceira e quarta posições, com Miho Nonaka (0T2z 0 5) e Akiyo Noguchi (0T2z 0 7) repetindo a posição da velocidade.
Janja Garnbret absoluta na via guiada
Somente uma tragédia, ou mesmo uma remota hipótese de Garnbret se sair muito mal, faria a atleta da eslovena perder o ouro na disciplina de escalada guiada. Depois de uma eliminatória em que Chaehyun Seo a venceu nessa modalidade, havia a hipótese que a jovem sul-coreana seria a única que poderia oferecer perigo.
Janja Garnbret não chegou a fazer top, mas caiu faltando cinco agarras para o final e não haveria tempo suficiente. A medalha de ouro passou a ser de Garnbret quando Nonaka caiu e Seo caiu duas agarras abaixo de Janja, terminando em segundo.
Miho Nonaka, que foi uma verdadeira leoa durante toda a olimpíada, ganhou a merecida medalha de prata e Akiyo Noguchi um bronze, um prêmio mais que justo por uma longa carreira como competidora há 17 anos.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.