Seria Janja Garbret merecedora do título de “melhor escaladora de todos os tempos”? A tomar suas performances em 2022, sim. A eslovena não dá hipóteses às rivais e estabelece uma superioridade com autoridade nas finais do novo formato olímpico em que beira a perfeição.
Quando a escalada esportiva fez sua estreia olímpica em Tóquio 2020, ela o fez com a fórmula que incluía todas as três disciplinas, vias guiadas, bouldering e velocidade. Embora a decisão de fazê-lo tenha sido altamente controversa, foi um compromisso temporário que permitiu que a escalada esportiva fosse incluída pela primeira vez nos Jogos, fornecendo o trampolim para Paris 2024, onde, esperava-se, mais medalhas estariam disponíveis e, portanto, a possibilidade de dividir as disciplinas.
A nova aposta da Federação Internacional de Escalada Esportiva (IFSC) parece ter valido a pena e, para o deleite de todos, os Jogos Olímpicos de Paris 2024 verão medalhas concedidas aos atletas de velocidade separadamente, bem como aos escaladores na nova disciplina que aglomera as disciplinas de vias guiadas e bouldering, batizada pela mídia especializada de B&L (bouldering and lead).
Importante lembrar também que em termos de audiência a disciplina de velocidade ainda não emplacou a ponto de justificar sua existência em outra edição dos Jogos Olímpicos. A fórmula B&L fez sua estreia oficial no Campeonato Europeu que acontece em Munique, Alemanha e contou com os oito melhores escaladores das competições individuais de bouldering e vias guiadas desta semana.
A pontuação do evento combinado foi radicalmente diferente do sistema usual da Copa do Mundo e, embora alguns pequenos ajustes possam ser feitos em um futuro próximo, certamente forneceu uma amostra interessante do que está próximo para todos esses atletas: os Jogos Olímpicos em Paris 2024.
Janja Garnbret insuperável e imbatível
As mulheres começaram a ação na quarta-feira com bouldering no início da tarde (horário da Alemanha) e depois de apenas uma hora de descanso com a escalada guiada. Com a temperatura chegando a 32 graus na Königsplatz, a eslovena Janja Garnbret, como de costume, ditou o ritmo.
Ela escalou perfeitamente e escalou à vista as três primeiras linhas antes de cair no início da quarta. Garnbret caiu com força na parte inferior das costas e evidentemente estava com dor, mas deixou isso de lado e superou o problema na próxima tentativa.
Hannah Meul e Mia Krampl fizeram check-in com pontuação igual, logo à frente de Jessica Pilz, que trabalhou duro no boulder que exigia coordenação para se manter na competição. Na final da via guiada, Krampl e Pilz chegaram ao topo para ganhar todos os pontos, enquanto Meul caiu para o terceiro lugar provisório.
Quando Garnbret começou sua escalada, ficou claro que iria para o tudo ou nada para ganhar ou perder. Mas, como tem sido costume, venceu em grande estilo, superando a imensa pressão para conquistar sua terceira medalha consecutiva em Munique esta semana.
CLASSIFICAÇÃO COMBINADA |
Bouldering | Colocação |
Vias guiadas | Colocação |
Total |
|||
1 | Janja Garnbret |
Eslovênia |
99,9 | 1 |
100 | 1 |
199,9 |
|
2 | Mia Krampl |
Eslovênia |
80,9 | 2 |
100 | 1 |
180,9 |
|
3 | Jessica Pilz |
Áustria |
80,6 | 4 |
100 | 1 |
180,6 |
|
4 | Hannah Meul |
Alemanha |
80,9 | 2 |
85 | 5 |
165,9 |
|
5 | Eliska Adamovska |
República Tcheca |
39,5 | 7 |
90 | 4 |
129,5 |
|
6 | Ievgeniia Kazbekova |
Reino Unido |
80,6 | 4 |
45,1 | 7 |
125,7 |
|
7 | Camila Morôni |
Itália |
39,3 | 8 |
65,1 | 6 |
104,4 |
|
8 | Chloé Caulier |
Bélgica |
58,9 | 6 |
30 | 8 |
88,9 |
Jacob Schubert como um bom vinho
Existem dois tipos de atletas: aquele que se desmotiva por não ser favorito e aqueles que treinam para superar os favoritos. O austríaco é daqueles que mesmo com o favoritismo de Ondra, indiscutivelmente um dos melhores escaladores esportivos da história, treinou obcessivamente usando ciência, disciplina e um excelente trabalho de route setting.
O bouldering masculino na quinta-feira provou ser emocionante. Com Adam Ondra, Sam Avezou, Medi Schalck e Jakob Schubert todos separados por uma pequena margem de pontos garantiriam uma final emocionante na disciplina de vias guiadas.
Filip Schenk não escalou tão bem quanto normalmente faz em bouldering, mas ele compensou isso nas vias guiadas alcançando 48+, o que que nenhum outro atleta, exceto Jakob Schubert o fez. O austríaco deu um salt malsucedido e ficou sem a última agarra, o que o colocou na posição de ouro provisória, enquanto Alberto Ginés López ficou em segundo provisório depois de tocar o ponto alto de Schenk.
Adam Ondra, que está acostumado a ser o último a sair (por ter se classificado em primeiro), mas desta vez com a pressão alta, acabou não resistindo. Ondra escalou com menos segurança do que o habitual e escorregou uma vez antes de parar e descansar. Ao reiniciar, caiu na mesma altura de Schenk.
CLASSIFICAÇÃO COMBINADA |
Bouldering | Colocação |
Vias guiadas | Colocação
|
Total |
|||
1 | Jacob Schubert |
Áustria |
80,5 | 3 |
95,1 | 1 |
175,6 |
|
2 | Adam Ondra |
República Tcheca |
80,7 | 1 |
90,1 | 2 |
170,8 |
|
3 | Alberto Ginés Lopez |
Espanha |
61,7 | 5 |
90 | 4 |
151,7 |
|
4 | Filip Schenk |
Itália |
33,6 | 8 |
90,1 | 2 |
123,7 |
|
5 | Luka Potocar |
Eslovênia |
36,8 | 7 |
85,1 | 5 |
121,9 |
|
6 | Sam Avezou |
França |
80,6 | 2 |
40,1 | 6 |
120,7 |
|
7 | Mejdi Schalck |
França |
80,5 | 3 |
15.1 | 7 |
95,6 |
|
8 | Nicolai Uznik |
Áustria |
61,4 | 6 |
1.1 | 8 |
62,5 |

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.