Infinita Highway: Casal viaja em carro 1.0 durante 11 meses pela América do Sul

Você já escutou a música Infinita Highway? Já teve vontade de largar tudo e sair pelo mundo? Morar em um carro percorrendo quilômetros de distância ou tirar um ano sabático só para se conhecer melhor?

Como diria Fernando Pessoa “navegar é preciso, viver não é preciso”, e o casal de jornalistas Carina e João do Crônicas na Bagagem parece ter entendido o sentido de navegar e fizeram o que muita gente quer e não tem coragem de fazer.

E não, eles não tinham as condições perfeitas como muitos imaginam ser necessário.

Infinita Highway

Bariloche (arquivo pessoal)

Embarcando em um Sandero 1.0 (que, diga-se de passagem, tem sido um fiel companheiro), mais as economias que juntaram ao longo dos 10 anos de relacionamento, o casal de escritores vem compartilhando textos autorais.

Nos textos são descritas as experiências em cada local percorrido, bem como as transformações internas que elas têm trazido a eles (e que textos e que transformações!).

Tudo isso combinando com dicas e fotos incríveis que nos tele transportam aos maravilhosos lugares visitados. A música Infinita Highway, de autoria da banda Engenheiros do Hawaii, foi eleita pelo casal como a trilha sonora dessa fantástica aventura!

“Não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e isto é tudo
É sobretudo a lei
Da infinita highway”

Infinita Highway

Vulcão Chimborazo, Equador (arquivo pessoal)

A humanidade era nômade

Vi.a.jar, verbo intransitivo derivado da palavra “viagem” do latim “viaticu”, significa basicamente o ir e vir a diferentes pontos do mapa através dos mares, terra ou ar e invariavelmente deslocar-se de um lugar ao outro sempre foi inerente à natureza humana.

Muito antes das delimitações geográficas que foram estabelecidas e da construção da sociedade como a conhecemos hoje, a humanidade era nômade. Ou seja, migrava sempre que os recursos naturais de subsistência de um local se tornavam escassos.

O ser humano começou a se fixar territorialmente somente após a Revolução Agrícola, cerca de apenas 10 mil anos atrás.

De certa forma é isso o que o casal tem feito nos últimos meses. Ao som de Infinita Highway já visitaram até agora um total de 9 países, entre eles: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai e Venezuela.

O percurso realizado por eles é de quase 40.000 km (ao final da matéria separamos alguns aplicativos que os tem ajudado nessa trajetória). Para se ter uma ideia, a circunferência do planeta Terra é de 40.075 km.

Infinita Highway

A caminho de Cochabamba, Bolívia (arquivo pessoal)

Como tudo começou?

Carina e João se conheceram em 2010, enquanto trabalhavam cobrindo uma partida de futsal na cidade onde moravam: Bento Gonçalves-RS. O casal está junto desde então.

A ideia inicial de criarem um blog de viagem nasceu em 2015, quando planejaram ir de carro até o Uruguai. O intuito era que o blog não tivesse apenas o cunho informativo sobre “o que fazer em tal lugar”, mas que através de crônicas (estilo literário preferido de Carina) pudessem contar as histórias por trás de cada quilômetro percorrido.

As crônicas trariam reflexões ao leitor e até mesmo provocações um tanto quanto filosóficas acerca do que julgamos entender sobre nós mesmos e sobre o mundo.

Na época eles até chegaram a esboçar um logotipo para o blog, cujos elementos principais eram uma mala em forma de “balão de fala” (simbolizando tanto a bagagem física quanto a ideia da bagagem de vida que sempre tem algo a nos dizer) e um avião de papel almejando que todo conteúdo produzido, ainda que virtual, pudesse tocar todas as pessoas de alguma forma, inspirando-as.

O sonho cresceu

Infinita Highway

Los Órganos, norte do Peru (arquivo pessoal)

A viagem até as terras uruguaianas aconteceu. Mas nesse primeiro momento o blog não ganhou vida e desde então muitas coisas se sucederam. Nos 3 anos seguintes Carina ingressou na faculdade de psicologia e João na de filosofia.

Ambos ficaram à espera do momento propício para tirarem o projeto da gaveta: suas respectivas formaturas ou quem sabe uma demissão repentina.

No ano de 2017 realizaram mais uma longa viagem de carro, desta vez com duração de 16 dias. O destino era Minas Gerais. A aventura reacendeu a vontade de colocar o projeto inicial em prática. Muito da inspiração veio ao conhecerem pessoas que faziam esses mesmos tipos de viagens.

Carina e João constaram que o Crônicas na Bagagem não se tratava apenas de uma utopia, mas de algo totalmente exequível.

No início de 2018 se viram passando por um processo de auto descoberta. Na ocasião se perguntaram sobre o porquê dos muitos acontecimentos que estavam vivenciando. Entre eles, suas escolhas profissionais.

Deram-se conta então de que não deveriam esperar o “momento ideal” para colocarem o pé na estrada, pois certamente esse dia nunca chegaria. Infinita Highway começou a virar realidade.

A saída da zona de conforto

A partir do segundo semestre de 2018, e com a efetivação da locação do apartamento deles (que seria uma fonte de renda para mantê-los fora do país), iniciaram o planejamento do que seria a maior viagem de suas vidas até o momento.

Ambos ficariam cerca de 2 anos longe de casa, mas mais perto deles próprios. Fato que resultou inclusive num subtítulo ao projeto que passou a ser chamado: “Crônicas na Bagagem – uma jornada de autoconhecimento”.

Afinal, como já dizia Mário Quintana: “viajar é trocar a roupa da alma”.

Infinita Highway

Teleferiqo, Quito, Equador (arquivo pessoal)

Infinita Highway com R$ 100,00 por dia

Mesmo sem um objetivo definido, Carina e João sempre pouparam uma pequena parte de seus recursos financeiros. Juntamente com o valor do aluguel do apartamento, calcularam ser possível permanecer viajando por aproximadamente 2 anos.

Além disso, estabeleceram o orçamento diário em R$ 100,00 por dia, em média. (Confira aqui uma matéria com projeções de gastos para viajar em modo econômico).

Algumas curiosidades do esquema low-cost que eles vem experimentando, incluem entre outras coisas:

  • Dormir mais de 100 noites no carro, apenas abaixando os bancos da frente, adicionando uma caixa para apoio dos pés;
  • Tomarem banho totalmente nus em meio a uma estrada deserta durante o inverno através de uma garrafa com água fria (ou então tomar banho apenas quando encontram campings ou quando ficam em casas no esquema couchsurfing);
  • Ficar 41 dias sem tomar banho (sendo 4 desses dias seguidos);
  • Cozinhar numa panela elétrica através da ligação junto à bateria extra do carro + um inversor adaptado;
  • Improvisar um “porta potti” (apelidado por eles). Uma espécie de “banheiro” para descarte do “número 2” e das necessidades biológicas (confira aqui outras opções do que fazer nesses casos);
  • Viajar num barco que transporta galinhas.

Ao saírem de casa aos exatos dezoito dias de fevereiro de dois mil e dezenove, com roteiro pouco definido, iniciaram a jornada:

  • Começaram pelo Uruguai e foram até a Argentina, atingindo o primeiro grande marco deles: Ushuaia;
  • Seguiram para o Norte, alternando destinos entre o Chile e a Argentina, conhecendo lugares emblemáticos como a Patagônia, Carretera Austral e Deserto do Atacama;
  • Saíram do Chile em direção a Bolívia, onde atingiram outro marco importante: o Salar do Uyuni;
  • percorreram até o Peru, onde realizaram o sonho de conhecer Machu Picchu, rodando também por outras regiões peruanas, incluindo sua selva;
  • Partiram para o Equador, onde chegaram à “Metade do Mundo”;
  • Do Equador foram para a Colômbia, cruzaram a Venezuela onde conheceram o Monte Roraima e após 10 meses voltaram ao Brasil cujo itinerário consiste em percorrer todos os estados até voltar para casa, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.

Lugares que mais gostaram

Infinita Highway

Monte Roraima (arquivo pessoal)

De todos os lugares no mapa da América do Sul que visitaram até agora, o casal afirma que a Argentina, em especial a Patagônia foi o que mais gostaram. Por lá o que mais os atraiu foi a possibilidade do profundo contato com a natureza além do país possuir uma boa estrutura nos postos de combustível para quem viaja no modo econômico como eles.

Também foi nessa região que Carina e João realizaram o primeiro trekking de suas vidas.

Eles também dizem terem sido marcados pelas belezas de Torres del Paine e pelo desafio de escalar o vulcão ativo Villarrica (em Pucón), ambos localizados no Chile.

Já no Peru o que mais os encantou foi a natureza exuberante da cordilheira dos andes, seja no caminho até Machu Pichhu ou na Região de Huascarán.

A filosofia

Infinita Highway

Macchu Pichu, Peru (arquivo pessoal)

Para quem não sabe Fugere Urbem é um termo em latim originalmente usado pelo filósofo Horácio e se destacou após a Revolução Industrial, pois tinha como foco principal a necessidade do homem de se desvencilhar dos pormenores das caóticas grandes cidades.

Resgatando a simplicidade e a forma natural das coisas e do modo de se viver. Semelhante ao que Carina e João tem experimentado.

Em sua tradução literal o termo significa “fugir do urbano/fugir da cidade” e foi disseminado durante o Arcadismo, movimento literário e intelectual nascido na Europa no século XVIII, sendo vivenciado no Brasil através dos inconfidentes mineiros que, entre outras coisas, já visavam questões sociais.

Outro termo em latim, com bastante destaque durante o Arcadismo, foi o Inutilia Truncat. O termo trazia a ideia do “cortar o inútil”, abstendo-se dos exageros, tornando o cotidiano mais simplório porém não menos importante e intenso.

A ideia fazia alusão a outro ideal muito conhecido e inclusive tatuado por muita gente por aí, que é o Carpe Diem. Popularizado por um filme Hollywoodiano dos anos 1980, o termo traduz a essência de se “aproveitar o dia” ao máximo. Capturando da vida toda sua grandeza.

Observando Carina e João é fácil concluir que estão experimentando dessa invejada proeza.

Infinita Highway

Lago Grey, Torres del Paine (arquivo pessoal)

Seja no século XVIII ou no atual século XXI, o fato é que a maioria de nós nos inspira nos feitos daqueles que acreditaram em suas próprias verdades e que escreveram (literalmente) suas próprias histórias. Sejam elas em forma de crônicas, narrativas, contos ou fábulas.

Às vezes o sonho da sua vida pode não consistir em percorrer milhares de quilômetros por terra, desbravar os sete mares ou qualquer coisa do tipo. Mas certamente a chegada até o objetivo final é passível de se tornar realidade se em primeiro lugar for dado um primeiro passo. Investindo energia em prol de um alvo, traçando caminhos e recalculando rotas.

E para os que anseiam fazer uma viagem como essa, alguns aplicativos úteis usados por eles:

  • @ioverlander | informa sobre locais seguros para pernoitar com o carro, onde tomar banho, postos de combustíveis, pontos com internet, etc;
  • @googlemaps | rotas e localização
  • @couchsurfing | rede de hospedagem gratuita nas casas de pessoas cadastradas, o principal objetivo nessa modalidade é o intercâmbio cultural
  • @gastosdiários3 | gestão dos gastos diários
  • @mobills | plataforma para gerir em gráficos os gastos financeiros
    @evernote | bloco de notas para variadas anotações que pode ser usado offline e permite sincronização com a computador
  • @westernunion | transferência bancária do exterior com baixas taxas

Para saber mais

Infinita Highway

Cusco, Peru (arquivo pessoal)

Todo o diário de bordo, os relatos, as dicas e muito mais podem ser encontrados nos canais abaixo, lembrando que a ideia do casal é transformar em livro e em exposição fotográfica toda essa expedição no sul do continente americano e que contam com apoio e patrocínio daqueles que se identificam com o projeto.

Carina e João, nós desejamos que cada paisagem e experiência revele a vocês um novo modus operandi.

Para que através de cada palavra e registro fotográfico, vocês continuem reverberando as tantas verdades escondidas pela poeira do convencionalismo cotidiano e das expectações sociais!

Vulcão Chimborazo, Equador (arquivo pessoal)

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