Ilhados pelo negacionismo: Quando poderemos viajar internacionalmente novamente?

Temos de dar os parabéns aos que são simpatizantes do negacionismo. Foram eles os grandes responsáveis por tornar toda pessoa que vem, ou volta, do Brasil, persona non grata em todo o mundo.

Negando veementemente a realidade, a ciência, o bom senso e, principalmente, o pensamento racional, nos tornamos o exemplo perfeito de uma nação que cultiva o Efeito de Dunning-Kruger como parte de nossa cultura e estilo de vida. Não bastasse ostentar a falta de cultura e conhecimento como estilo de vida, observe que todos estes se orgulham de serem negacionistas.

Nos tornarmos párias mundiais, um tipo de cidadão desclassificado e excluído, por culpa desse negacionismo que ficou evidente fazer parte da cultura brasileira. Hoje, perante todos os países do mundo, ao apresentar o passaporte brasileiro, descobrimos (e descobriremos) que estamos à margem da sociedade e excluído do convívio social. Em um mundo globalizado, estamos condenados ao localismo.

Viagens internacionais

negacionismo

Foto: Samuel Chenard on Unsplash

Pensando em viajar internacionalmente? Saiba que destinos perfeitos como Rodellar e Siurana (Espanha), Yosemite (EUA), Piedra Parada e El Chaltén (Argentina), Valle de los Cóndores e Torres del Paine (Chile), entre muitos outros, estão a cada dia proibidos para qualquer brasileiro.

Não porque esteja caro, ou por causa de alguma alta repentina de dólar, ou alguma perda de emprego, mas porque nos tornamos tóxicos e radioativos para a saúde de qualquer população de qualquer país. Encaremos os fatos: hoje qualquer brasileiro é visto como ameaça de combate à pandemia. E a culpa é nossa.

Estamos condenados a ficar ilhados junto de autoridades públicas sem intelecto nenhum e seu séquito de negacionistas. Todos eles presos a uma realidade que sequer existe ou existiu. Pergunte a qualquer um no mundo como o Brasil é visto hoje e saberá que, por mais que argumente o contrário, já somos reconhecidos como o berço do negacionismo e da burrice institucionalizada.

Não é somente culpa dos ressentidos, que já acostumamos ver todos os dias, com seu hábito irritante de negar a realidade. Com a maior taxa de contágio de coronavírus do planeta, uma pandemia incontrolável e, claro, todos os dias um ‘espertinho’ em redes sociais fazendo perguntas para quem lhe aponte onde pode furar a quarentena, é fácil concluir que é o resultado da maneira como nos vemos como nação e parte da uma sociedade.

Enquanto escrevo este artigo, a Bolívia mantém a fronteira com Brasil fechada. Argentina, Chile, Peru, Colômbia, França, Espanha e Argentina, entre muitos outros, suspenderam voos do Brasil, ou mesmo exigem quarentena para quem insistir em entrar. Apenas oito países possuem restrições leves ou nenhuma restrição à entrada de brasileiros no momento: México, Afeganistão, República Centro Africana, Albânia, Costa Rica, Nauru e Tonga.

Sim, o negacionismo nos ilhou e nos exilou.

Foto: Piron Guillaume on Unsplash

Você que se acha no direito de viajar, que achou um jeitinho de auto justificar sua festinha para “só” 30, 40 ou 50 pessoas no réveillon e carnaval, também tem sua parcela de culpa. Possui parcela de culpa também as pessoas que, todos os dias, querem achar um jeitinho no seu grupo de WhatsApp para procurar uma maneira de viajar para outro estado ou país.

Querer achar o seu jeitinho de fugir da pandemia, também é abraçar o negacionismo com unhas e dentes, só que de maneira hipócrita e canalha.

Aqueles que chamam os prefeitos e governadores de ditadores por não manter sua academia aberta, acham que tudo bem ficar uns 10 ou 14 dias trancados em quartos de hotéis em países diferentes do Brasil e que controlaram a pandemia, também são culpados. Países estes, claro, que adotaram o distanciamento social (e seus habitantes colaboraram) e, por isso, estão voltando ao que conhecíamos como normal.

Nestes países, além do coronavírus, foi combatido também o negacionismo de quem não queria colaborar, pois ele é mais mortal que o próprio vírus. Uma população consciente de seu papel como parte de uma sociedade, sabe que todos, amigos e inimigos, católicos e protestantes, direita e esquerda, somente sai de uma pandemia se fizerem a sua parte.

Quando será seguro viajar internacionalmente?

negacionismo

Foto: Hedgehog Digital on Unsplash

Para você que se acha vítima, sentindo que sofreu mais que todos, um pequeno lembrete: o ano passado foi incrivelmente difícil para todos. O início da pandemia trouxe fronteiras fechadas, bloqueios estritamente regulamentados e sérios problemas de saúde para qualquer um que se aventurasse fora de sua bolha social.

Como resultado, muitos de nós tivemos de ficar presos dentro de casa nos últimos 12 meses, esperando pacientemente que o mundo se abra novamente (no caso do Brasil, irá demorar mais a abrir). Com várias vacinas diferentes se tornando mais amplamente disponíveis ao público, há claramente uma luz no final do túnel COVID, especialmente em países que fizeram a lição de casa e compraram a vacina e tiveram um planejamento bem realizado para aplicá-las.

À medida que mais pessoas são vacinadas (das duas doses), é natural esperar que o número de infecções comece a cair. Para quem vive nestes países, há esperança de que possam retomar as aventuras e viagens pelo mundo.

negacionismo

Foto: Camila Perez on Unsplash

Mas, à medida que entramos no segundo ano com a sombra do vírus pairando sobre nós, muitas pessoas desses países já começaram a se perguntar quando será seguro viajar para o exterior novamente. Porém, não se engane, somente depois de totalmente vacinadas as pessoas destes países poderão se reunir com amigos e familiares e, quem sabe, não usar mais máscaras.

Maioria dos governos destes países, que fizeram a lição de casa, apesar de todos vacinados ainda irá recomendar que seja feito somente o turismo interno. Portanto, mesmo que também no Brasil aconteça um milagre e todos sejam vacinados até o final do ano (o que não vai acontecer), ainda assim teremos restrições de viagens a outros países.

Goste você ou não, a realidade é essa.

Com todos vacinados no mundo inteiro, ainda assim será necessário usar as máscaras em todos os voos, ônibus, trens e outros tipos de transporte público. Mas, mesmo assim, desde que a pessoa tenha sido vacinada é que deve estar segura para começar a viajar novamente. Mas esse processo irá demorar, pelo menos, um ano.

Um pouquinho de história

negacionismo

O negacionismo na Gripe Espanhola

Para quem frequentou a escola e prestou atenção nos livros de história, assim como nas análises de seus professores, deve ter estudado sobre a Primeira Guerra Mundial. Qualquer professor de história classifica este acontecimento histórico como “aquele que fez a civilização entrar no século XX”.

Próximo do final da Primeira Guerra Mundial (no último ano para ser mais específico), a gripe espanhola, ou gripe de 1918, se espalhou pelo mundo. O mundo estava começando a vivenciar a realidade de viagens internacionais mais rápidas, mais seguras e mais eficientes. Foram estas viagens, especialmente dos soldados vindos da Europa, que ajudaram a espalhar o vírus influenza pelo planeta.

A gripe espanhola foi a última grande pandemia que a humanidade sofreu há exatos 102 anos. De janeiro de 1918 a dezembro de 1920, a gripe espanhola infectou aproximadamente um quarto da população mundial. A população mundial, na época, era de 1,8 a 1,9 bilhão.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que a gripe espanhola tenha sido a pandemia mais mortal da história, com 50 milhões de óbitos entre 1918 e 1920. Ou seja, em valores de hoje, proporcionalmente falando, seria algo em torno de 1,95 bilhão de pessoas.

A pandemia de gripe espanhola, com muito menos habitantes que hoje e com muito menos conhecimento de infectologia, matou aproximadamente 35.000 pessoas no Brasil. Lembrando que naquela época a população total do Brasil era de 30 milhões de pessoas.

Fazendo uma conta simples, em valores de hoje pela proporcionalidade, seriam aproximadamente 256.700 mortes. Ou seja, no Brasil o COVID-19 já matou mais que a gripe espanhola. Chegou a este número porque, assim como hoje, houve vários protestos realizados por negacionistas. Da mesma maneira como hoje.

O mais triste dessa análise, é que fica nítido que como sociedade, o Brasil involuiu. Somos mais despreparados e negacionistas que há 100 anos atrás.

Ter proporcionalmente o dobro de mortes que há 100 anos, nos leva a crer que mesmo com mais saneamento básico, acesso à informação e facilidades de comunicação, não aprendemos nada. Nos consolidamos como uma grande massa de negacionistas que constrói histórias e teorias estapafúrdias e, por ignorância alimentada culturalmente, ainda ignoramos a ciência.

Mas, afinal, quando poderemos viajar internacionalmente novamente?

negacionismo

Foto Lukas Souza on Unsplash

Entenda que a sociedade brasileira, inimigos e amigos, está inteira junta nessa situação de pandemia. Goste ou não, a realidade é essa. Não encarar esta realidade, e apelar para o egoísmo, faz com que pareça ao mundo que abraçamos o negacionismo ainda mais.

Estamos na principal batalha de nossa vida como sociedade, para saber se realmente somos uma nação ou um bando de indivíduos dividindo o mesmo espaço. Precisamos nos enxergar como sociedade, e nos entender como peças fundamentais dessa sociedade, senão ficaremos ilhados e exilados do mundo.

Somente quando mostrarmos nosso entendimento de que a ciência deve ser seguida para acabarmos com o COVID-19, é que vamos poder viajar. Pior, não somente viajar, mas também sem poder ira um cinema, a um parque ou mesmo sem poder estabelecer metas para um treinamento específico.

Se você está obedecendo o distanciamento social, parabéns. Mas ainda há por aí, uma grande massa de pessoas que ainda sai e planeja sua viagenzinha de férias a algum lugar no exterior como se não houvesse nada acontecendo. Esta é a prática hipócrita do negacionismo que impede a todos de ir viajar.

Pois cada vez que estes egoístas insistirem em “ver o mundo de maneira diferente”, porque se sentem mais importante que os demais, para uma ‘trilhazinha’ ou uma ‘escaladinha’ escondida, está adicionando mais e mais dias, ou semanas, nas restrições de viagens a todos os brasileiros. Nacionais e internacionais.

Para poder viajar novamente, para onde quer que seja, podemos tocar o ‘foda-se’, e ver cada vez mais pessoas morrerem (incluindo seus amigos e familiares), ou começarmos a agir como uma sociedade, entendendo que é a hora de colaborar, fazer a sua parte no distanciamento social, para acabar logo com isso. Chegou a hora de darmos um basta no negacionismo.

Mas se precisar de uma data para responder à pergunta no topo do artigo: estaremos nessa de restrições sociais pelo menos até Abril do ano que vem (isso com muita sorte). Portanto, se quiser diminuir este tempo, entenda que se não colaborar logo, pode, inclusive, ser mais que Abril de 2022. Bem mais.

Portanto, para saber quando vai poder viajar internacionalmente, vai depender de seus atos e de cobrar que amigos e familiares façam o mesmo. Somente você e sua ação de consciência social, fará você viajar logo.

Comente agora direto conosco

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.