Uma das montanhas mais icônicas da Patagônia é o Monte Fitz Roy (3.359 m), 0 qual é reconhecidamente como o local das escaladas mais desafiadoras de todo o planeta. Porém, poucos se perguntam porque uma montanha no sul do continente sul-americano possui um nome “não indígena”.
A dúvida é devido à uma recomendação adotada pelos ingleses quando fizeram o levantamento topográfico do Himalaia, de preservar o nome da montanha pelo qual a população local o reconhecia. O que, curiosamente, não foi respeitado para as duas montanhas mais altas do mundo: Monte Everest (8.849 m) e Monte K2 (8.611 m).
Entretanto, existe um movimento cultural pedindo que o nome da icônica montanha seja Cerro Chaltén. Chaltén vem de uma palavra Tehuelche que significa “montanha fumegante”, devido a uma nuvem que geralmente se forma em torno do pico da montanha.
Nomes originais
A reivindicação do reconhecimento pelo nome original de uma montanha ganhou relevância com o Monte Denali (6.190 m), que outrora foi batizado de Monte McKinley.
O povo Athabascan (nativo do Alasca conhecidos como Koyukon Athabaskans) que habitava a área em torno da montanha já chama o pico de “Deenali” há séculos. Acredita-se que Denali é uma palavra Koyukon que significa “alto”, “alto” ou mesmo “grande”.
Tudo começou em 1896, um garimpeiro o chamou de “Monte McKinley” em apoio ao então candidato presidencial William McKinley. Em agosto de 2015, 40 anos depois que o Alasca o fez, o Departamento do Interior dos Estados Unidos anunciou a mudança do nome oficial da montanha para Denali.
Povos nativos do FitzRoy
Há mais de 10.000 anos, foram dadas as condições para que os primeiros seres humanos passassem a habitar essa região. Os Aonikenk (em sua própria língua significa “povo do sul”) ou Tehuelches (na língua Mapuche) foram os últimos aborígenes a povoar o sul da Patagônia.
Seus grupos tribais de hábitos nômades migraram pela estepe entre o litoral e a montanha, mobilizados principalmente pela caça de seus alimentos: o guanaco e o nandu-de-darwin. Os Tehuelches também chamados de patagões ou patagônios. O estilo de vida nômade de tehuelches deixou evidências arqueológicas escassa de seu passado.
Não há vestígios de assentamentos Tehuelche relevantes nos arredores da cidade de El Chaltén, devido a sua crença em evitar esta área de florestas e montanhas. Foram eles que nomearam a montanha de “chaltén”, que segundo várias fontes significaria “montanha azul”, “montanha sagrada” ou “montanha fumegante”.
Descobrimento do Fitz Roy
Conforme descrito no artigo sobre a origem do nome e a história desta região, a Patagônia foi descoberta por Fernão Magalhães. No ano de 1520 (portanto, 20 anos após o “descobrimento do Brasil” e 28 anos após o “descobrimento da América), o navegador português Fernão de Magalhães passou pela região do extremo sul do continente americano.
Foi Magalhães que batizou a região a partir de um personagem de seu livro favorito “Palmeirim de Inglaterra” (do autor Francisco de Morais e escrito entre 1541 e 1543) quando teve conato com os tehuelches, que tinham uma altura média de 180 centímetros, em comparação com os 155 cm de média dos europeus da época.
Anos se passaram, e a região não era explorada. O espanhol Antônio de Viedma teve um papel central na colonização do sul da Patagônia na segunda metade do século XVIII. Viedma enfrentou geadas, fomes e rebeliões no processo.
Porém, suas habilidades navais e conhecimentos agrícolas, bem como sua capacidade de negociação para colaborar em vez de enfrentar os indígenas, permitiu-lhe cumprir o mandato do esclarecido rei Carlos III de fundar e administrar colônias em terras desconhecidas do Sul do continente americano.
Os primeiros europeus registros da visualização do Monte Fitz Roy foram do explorador Viedma e seus companheiros, que em 1783 chegaram às margens do lago Viedma (batizado em sua homenagem). A singularidade da região foi registrada com precisão nas notas de seu Diário. Com um estilo simples, mas expressivo, ele descreveu as novas terras, fornecendo um manancial de informações valiosas sobre a nova realidade geográfica.
O batismo do Fitz Roy
Quase 100 anos depois que avistado por Antonio de Viedma, a montanha ainda permanecia sem nome. O batismo seria feito pelo explorador e acadêmico argentino, Francisco Pascasio Moreno, o qual é considerado uma das figuras mais influentes na incorporação argentina de grandes partes da Patagônia e seu posterior desenvolvimento.
Após a graduação em 1872, Francisco Moreno participou da fundação da Sociedade Científica Argentina. A partir disso embarcou na primeira de uma série de expedições científicas que o tornaram conhecido: um levantamento do Território de Río Negro, parte da Argentina que em grande parte ainda desconhecido.
Em janeiro de 1876, Francisco Moreno chegou ao Lago Nahuel-Huapi no sul dos Andes, onde se encontra Bariloche hoje. Em 2 de março de março de 1877, “descobriu” e batizou o Monte Fitz Roy. O nome foi uma homenagem ao comandante da expedição do HMS Beagle (navio da segunda expedição de Charles Darwin pela Tierra del Fuego) na década de 1830: Robert FitzRoy (o sobrenome é emendado mesmo).
Os nativos também o chamavam de Chalten. O Monte Fitz Roy, no entanto, era apenas um dos vários picos que o Tehuelche chamava de Chaltén.
FitzRoy um pioneiro na área da meteorologia, tendo desenvolvido métodos precisos para a previsão do tempo. Ironicamente, a região de El Chaltén é conhecida como o “pior clima do mundo”, além disso faz parte da logística de todos os escaladores que desejam subir o Monte Fitz Roy.

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.