História das marcas: Simond

Este artigo faz parte de uma série de biografias das marcas mais famosas que a atuam no mercado outdoor. São destacadas marcas nacionais e internacionais e da mesma maneira que se fez com as biografias dos principais ídolos, o objetivo é disponibilizar a história empresarial para quem quer saber mais sobre ela. Hoje, a marca é a francesa Simond. O objetivo é, além de trazer um pouco da história de empreendedorismo, traçar um paralelo com a história da humanidade.

Por ser vendida em uma grande rede mundial de lojas esportivas, a marca Simond é vista em muitos escaladores e montanhistas da atualidade. Este potencial de distribuição fez com que a marca chegasse a vários lugares do mundo.

Poucos sabem que a história da marca e do próprio montanhismo são intimamente ligadas. Para muitos a Simond foi efetivamente a primeira marca de montanhismo do mundo. Por estar presente no esporte desde os primórdios, esteve presente em maioria dos grandes momentos do esporte

Como tudo começou

O montanhismo, em um sentido esportivo contemporâneo, nasceu quando em meados do século XVIII, os europeus começaram a ter interesse nas montanhas, começando com as geleiras do vale de Chamonix, na França. O início ímpeto para o montanhismo esportivo é geralmente atribuído à visita a Chamonix por Horace Bénédict de Saussure em 1760. Saussure, um jovem cientista de Genebra, ficou tão fascinado com a paisagem do imponente Mont Blanc (4.807 m), que ofereceu uma recompensa em dinheiro para a primeira pessoa que conseguisse escalá-lo com sucesso.

A família Simond, no início da década de 1820, era constituída de vários irmãos que trabalhavam como ferreiros e “caçadores de cristais”. O “caçador de cristal” é um tipo especial de aventureiro, parte montanhista, parte geólogo e colecionador que, é claro, mantém as melhores descobertas para si e o restante era vendido para serem usados em lustres e joias. Desde o século XVII, os caçadores de cristal subiam ao Mont Blanc antes existir a atividade montanhismo conhecida como um esporte.

Os irmãos Simond trabalhavam manualmente com madeira e ferro, em uma forja nas margens do Arve (curso de água secundário que nasce no passo de Balme no Mont Blanc), fazendo implementos agrícolas e sinos, assim como ferramentas para as suas aquisições oriundas da caça de cristal. A companhia de guias de Chamonix foi fundada em 1823 e os primeiros aventureiros que procuravam explorar o maciço do Mont Blanc, encontraram nos irmãos Simond, que viviam na região e era pouquíssima povoada (além de ter o acesso bastante dificultado), os profissionais de que precisavam para fazer seus equipamentos para as montanhas.

Em meados do século XIX, os montanhistas se reuniam nos Alpes e realizaram as primeiras escaladas de praticamente todos os principais picos da região. Esta época era justamente a segunda etapa da Revolução Industrial, que ocorreu aproximadamente no período de 1860 a 1900, ao contrário da primeira fase quando praticamente somente a Inglaterra se industrializou. Na segunda etapa da Revolução Industrial países como Alemanha, França, Rússia e Itália também se industrializaram.

O emprego do aço, a utilização da energia elétrica e dos combustíveis derivados do petróleo, a invenção do motor a explosão, da locomotiva a vapor e o desenvolvimento de produtos químicos, foram as principais inovações desse período. Por ter os irmãos Simond uma forja para trabalharem com madeira e ferro, em um lugar tão afastado das grandes cidades, é consequência disso.

A expansão do comércio internacional dos séculos XVI e XVII trouxe um extraordinário aumento da riqueza para a burguesia. Isto permitiu a acumulação de capital capaz de financiar o progresso técnico e o alto custo da instalação nas indústrias na segunda revolução industrial. A burguesia europeia, fortalecida e enriquecida, passou a investir na elaboração de projetos para aperfeiçoamento das técnicas de produção e na criação de máquinas para a indústria.

O principal momento no desenvolvimento de Chamonix foi a criação de acesso rodoviário e ferroviário.

Em 1860, uma estrada para carruagens foi construída juntando Genebra a Chamonix via Sallanches. Em 1866, sob o reinado de Napoleão III, as primeiras carruagens puxadas por cavalos desembarcaram na praça da aldeia e em 1901 a linha ferroviária entre St Gervais Le Fayet e Chamonix foi inaugurada. A chegada do trem melhorou muito o acesso a Chamonix no inverno e abriu o caminho para o turismo de esportes de inverno, com o doutor Payot sendo o precursor no vale.

A empresa Simond

No ano de 1860, mais e mais visitantes chegavam ao vale de Chamonix e os irmãos Simond dividiam o intenso, e cada vez mais demandado, trabalho na forja. Foi quando François Simond assumiu a tarefa de fabricação de equipamentos de montanha: machados, grampos, trenós, esquis etc. Neste momento, François tinha uma pequena forja no sopé da geleira Bossons a qual tinha um gerador elétrico. Entenda por assumir, criar uma empresa e trabalhar em sua reputação.

Dedicando-se quase que exclusivamente à tarefa de fazer equipamentos de montanha, logo a comunidade percebeu queFrançois Simond tinha um excelente know how para trabalhar com ferro e madeira, pois dominava a tecnologia (possuía forja e a eletricidade) e tinha bom relacionamento com os clientes. O passado como “caçadores de cristais”, também contribuiu para que os produtos fossem concebidos pensando na performance do montanhista. Chamonix, que no final do século XIX estava a caminho de se tornar a capital mundial do montanhismo, viu então a primeira marca de produtos para montanhismo surgir.

A empresa se beneficiou também de poder vivenciar, mesmo que à distância, da Belle Époque (1871-1914), que foi um período de cultura cosmopolita na história da Europa que começou no fim do século XIX. O período, que durou 43 anos, teve progresso tecnológico, científico e cultural na França e isso também impulsionou a empresa de Simond, que era a única à época e no “centro do universo” conhecido como Chamonix.

Todo esse entusiasmo, do qual até os dias atuais colhemos frutos, também rendeu muitas disputas por dinheiro e poder, culminando na Primeira Guerra Mundial em 1914. A Primeira Guerra Mundial é o acontecimento que realmente dá início ao século XX, pondo fim à Belle Epoque.

A realização dos primeiros Jogos Olímpicos de Inverno em Chamonix, em 1924, elevou ainda mais o perfil de Chamonix como destino turístico internacional. Simond, claro, soube capitalizar e consolidou ainda mais seu nome entre os praticantes e curiosos do montanhismo e esqui.

O filho de François, Claudius Simond, começou a trabalhar na forja de equipamentos em 1925 e melhorou toda a infraestrutura que herdou de seu pai. Usada por montanhistas tanto nas primeiras subidas das montanhas mais altas do mundo, quanto nas novas e inovadoras escaladas alpinas, a Simond se tornou conhecida em todo o mundo como a principal fabricante de equipamentos de montanhismo. Parte da missão da empresa era combinar tecnologias recentes com os requisitos dos escaladores para atender às novas demandas da época.

Partindo deste princípio que em 1948, Claudius introduziu o primeiro mosquetão tubular, o qual permitia escaladores ampliar os horizontes da escalada, a qual já estava em expansão. Quando Edmund Hillary e Tenzing Norgay subiram ao topo do Monte Everest, praticante todo o equipamento de montanhismo que utilizavam era da Simond. A primeira piqueta intercambiável (Magnone) foi usada na primeira escalada ao Fitz Roy (3.359 m) em 1952.

Anos mais tarde, em 1960, o neto de François, Ludger Simond, assumiu o negócio da família, exatamente quando o montanhismo e a escalada em rocha começavam ser enxergadas como duas atividades distintas. A partir de uma visão voltada ao design de produto que a Simond lançou o primeiro mosquetão ergonômico (o Cliff), a primeira piqueta curva (the Chacal), os primeiros crampones rígidos (Makalu). No ano de 1988, Ludger Simond construiu instalações maiores e mais modernas, bem ao pé do Mont Blanc.

Em 2004, Ludger Simond vendeu a empresa para a Wichard, uma empresa francesa de ferragens e líder mundial em conexões marítimas. Depois de quatro anos de colaboração, Wichard procurou focar mais o seu negócio em acessórios marítimos e vendeu a Simond em 2008 para o grupo Oxylane, que controla a Decathlon, e a Gallerist (varejista do segmento de vestuário), expandindo a gama de produtos incluir artigos técnicos de gelo de alta qualidade.

Esta relação especial da marca com os outros membros da rede Decathlon permitiu à Simond desenvolver outros produtos como cordas, cadeirinhas e sapatilhas de escalada para servir um número ainda maior de escaladores em todo o mundo.

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