História das marcas: Petzl

Continuando com a nossa série de biografias das marcas mais famosas do mercado. Nacionais e internacionais, e da mesma maneira que faz com os principais ídolos, o objetivo é disponibilizar a história do esporte para quem quer saber mais sobre ela. Hoje, a marca é a francesa Petzl. O objetivo é, além de trazer um pouco da história de empreendedorismo, traçar um paralelo com a história da humanidade.

Quem já praticou espeleologia, escalada, corrida de montanha ou trabalhou com técnicas verticais, já deve ter esbarrado em algum produto da Petzl. A marca francesa possui tanta influência na escalada e nos esportes de exploração, que a sua própria história se confunde com a própria atividade.

A comparação é ruim, mas ao menos fornece um parâmetro para quem não conhece a marca: A Petzl está para a escalada como o inventor da bola de couro para o futebol. Sim, porque poucos sabem, mas a empresa francesa foi quem inventou a cadeirinha de escalada, chapeletas, grigri e headlamps. Atualmente é impossível imaginar o esporte outdoor sem estas três invenções.

Esta empresa, que possui faturamento anual de US$ 5,6 milhões, é uma das gigantes do universo outdoor. Sempre engajada em grande parte dos países que atua, patrocina atletas, eventos e em veículos de comunicação todo o tempo. Atualmente a empresa é quase um sinônimo de qualidade e, em grande parte dos países, de apoio a atletas e esportes que explora comercialmente.

A família

Émile Rombauer em 1969

Os primeiros tijolos na fundação da aventura Petzl foram lançados no início do século 20, através da pura determinação de um jovem de 21 anos. Émile Rombauer queria se tornar engenheiro.

Émile era filho de Françoise Petzl, uma jovem proprietária de uma hospedaria de Budapeste, que teve um relacionamento com o pai de Émile, quando ele morava em Budapeste, capital da Hungria, por alguns meses.

Como Émile era um filho “fora do casamento”, foi criado por sua avó e tia, a 400 quilômetros de Budapeste. Émile de repente entendeu por que ele sempre foi tratado de forma diferente de seus seis meios-irmãos e irmãs.

Quando se alistou na Legião Estrangeira (unidade militar da França, criada no século XIX) ele escolheu, de acordo com a recomendação do exército, adotar o sobrenome austríaco: Petzl. Por causa do alistamento teve de visitar a França e logo depois foi mandado para uma missão na Argélia.

Esta longa missão lhe daria a cidadania francesa, assim como o posto de coronel. Tendo cumprido suas obrigações militares em 1907, Émile ficou por um curto período com um amigo em Paris, onde ele trabalhou para uma empresa que fabricava instrumentos científicos.

Do lugar que morava, do outro lado da rua uma bela jovem governanta de uma família burguesa local lhe cumprimentava todos os dias. Era Louise Diot, após um período de namoro comemoraram seu casamento na capital francesa em 21 de novembro de 1908. Três anos depois, o primogênito Edmond Petzl nasceu e a família decidiu se mudar para a pequena cidade de Fourchambault, na França.

A família Petzl reunida

A área tinha muitas fábricas e Émile rapidamente encontrou trabalho, como supervisor com um fabricante de máquinas para trabalhar madeira. Um ano depois, após o segundo filho do casal nasceu: Fernand Petzl.

Infelizmente para o recém-nascido a Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918) começou. Émile Petzl foi convocado e teve de lutar na guerra.

Após voltar, Petzl se mostrava sempre insatisfeito com seus empregos e por isso a família mudava muito de cidade para cidade.

No ano de 1926 ele fez uma decisão que impactou o futuro de sua família, abriu um negócio em Lancey, uma cidade perto de Grenoble. Os Petzl agora estabeleceriam raízes no Vale Grésivaudan, situado entre as montanhas Chartreuse e Belledonne.

Em 1930, Émile conseguiu um emprego na Merlin Gerin, empresa sediada em Grenoble, onde ele ficaria para o resto de sua vida. Durante a década, Émile Petzl revelou um talento considerável para o desenho industrial. Esta paixão fez com que introduzisse os conceitos para os filhos. Ajudado por seus três filhos (que foram orientados a colocar seus brinquedos de lado), começou a construir uma casa em Saint-Ismier.

Fernand com o pai Emile

Devido à sua educação rígida imposta pelo pai, os três rapazes filhos de Émile eram trabalhadores dedicados e raramente recuavam de um desafio. Fernand Petzl, o mais novo, tornou-se aprendiz de oficina logo após ganhar seu diploma de ensino fundamental. A partir disso foi “aconselhado” pelo pai a procurar um emprego remunerado para trabalhar com o ofício do que hoje conhecemos como designer.

Assim Fernand Petzl começou a procurar emprego, já que tinha o ofício de ajudante de oficina. Seu próximo trabalho foi com Baumler, um artesão em Grenoble. Lá Fernand Petzl aprendeu a modelar e projetar moldes de madeira para fundições. Este aprendizado foi o que moldou sua carreira e, com isso, a história do montanhismo, espeleologia e da região de Grenoble.

O início

Fernand Petzl em 1939

O início de tudo foi quando o jovem francês Fernand Petzl é introduzido à espeleologia aos 17 anos de idade. Por causa de seu trabalho, rapidamente começou a visualizar novas técnicas para a exploração de cavernas, que naquela época, final da década de 1920, era uma disciplina bastante rudimentar.

Na oficina, depois do trabalho, Petzl começou a produzir equipamentos para usar com seus amigos. Seu objetivo: conquistar lugares inacessíveis no fim de semana seguinte.

Logo que começa a praticar espeleologia, o jovem Fernand vê-se em uma das maiores crises econômicas mundiais. A crise de 1929 foi o início de uma grande depressão econômica, que persistiu ao longo da década de 1930 e teve repercussões em todo o mundo, não apenas nos EUA, mas também nas principais economias mundiais, como a França.

A França conheceu durante todo o período de crise, uma estagnação econômica que afetou a sociedade, sobretudo os jovens, como Fernand Petzl, que teve de se dedicar mais ao trabalho de mecânico e viu suas horas de práticas de espeleologia ameaçadas todo o tempo. O índice de falências na França, na época, era de 11%.

No início da década de 1930, com seu irmão, Edmond, Fernand Petzl foi praticar espeleologia foi explorar uma das muitas cavernas de Dent de Crolles. Por causa da crise de 1929, não havia muitas pessoas praticando a atividade na região, o que favoreceu mais ainda os irmãos Petzl, sobretudo Fernand, dedicar-se mais ainda a equipamentos e técnicas de espeleologia.

Na época a espeleologia estava efervescente na França e entre os pioneiros desse período de exploração de cavernas, estava Pierre Chevalier foi um dos mais apaixonados espeleologistas da época. Chevalier era engenheiro químico em Lyon, também considerado um talentoso escalador do “Groupe de Bleau” (rurma de escaladores de Fontainebleau), que incluía alguns dos escaladores parisienses mais fortes.

Em 1936, Petzl foi apresentado a Pierre Chevalier, então pequeno espeleologista e os dois começaram a trabalhar para melhorar a tecnologia por trás de seu esporte. Seu trabalho em conjunto marcou um momento crucial para ambos e um salto de evolução no esporte jamais visto.

Juntos, eles exploraram 17 km de galerias subterrâneas no Dent de Crolles (uma montanha cárstica da cordilheira Chartreuse) e estabeleceu um novo recorde mundial para exploração de cavernas abaixo de dos 600 metros.

No ano de 1943, Chevalier projetou e testou a primeira corda de náilon para substituir as escadas de espeleologia. Essa tecnologia forneceu a base para quase todos os métodos verticais de segurança que viriam. A inovação de Chevalier levou à primeira descida de caverna de 1.000 metros, quando Petzl explorou a gruta francesa Gouffre Berger na França em 1950. A gruta era, até então, a mais profunda do mundo.

No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, Petzl começou a implementar mais tecnologia na segurança vertical, e em 1968 ele produziu seus primeiros ascensores de corda, então comercializados como “Produtos Fernand Petzl (Fernand Petzl Products)”.

As inovações constantes nos equipamentos, que faziam quebrar recordes em cima de recordes fez com que fossem reconhecidos como visionários do universo outdoor. Assim, o número de encomendas aumentou rapidamente e começaram encontrar um lugar vago e não preenchido no mundo dos esportes, resgate e, posteriormente, em indústria.

Assim foi o início da Petzl como empresa. Em 1968, a produção em massa de ascensores começa em sua própria oficina e dois anos mais tarde, 1970, junto com seus filhos, Pierre e Paul ampliaram a produção e incluíram material de montanhismo. Assim nascia a Fernand Petzl Products.

Em 1973, uma das primeiras decisões de negócios de Paul Petzl foi começar a projetar equipamentos para outra atividade. Durante seu serviço militar, ele percebeu que as viagens de esqui era uma tortura, devido às luzes antigas e extremamente desatualizadas. Então foi com grande interesse que encontrou o pai ocupado e mostrou uma invenção que Olivier Méot e Olivier Gignoux o trouxeram.

Após vários protótipos, a Petzl desenvolveu a primeira hedlamp do mundo.

A escalada

A Petzl estabelece sua sede na cidade de Crolles, França. Este é o início propriamente dito da fabricação em massa e da criação da marca Petzl.

Por volta de 1977, a empresa começou a olhar mais para a escalada. Nesta época adaptou alguns equipamentos de espeleologia e produziu a primeira cadeirinha para escalada da história. Antes, eram usadas adaptações com cordas e fitas.

Com reputação sólida na espeleologia e montanhismo, a empresa Petzl começou a olhar outros nichos de mercado. Um deles foi a escalada, em especial a escalada esportiva. Em 1981, Patrick Cordier declarou que “as paredes rochosas do Gorge de Verdon se tornaram o local a ser explorado para a escalada de ponta na França”.

Paul Petzl contatou Michel Suhubiette, que havia se mudado para Verdon, para investigar os últimos desenvolvimentos e era o seu principal contato na área. Com a versão final na mão, o jovem escalador começou
usando chapeletas Bolt Petzl, cujo nome, Coeur (coração em francês), veio da sua forma. Assim estava inventada a chapeleta, um equipamento que revolucionou a escalada esportiva para sempre.

Já fabricando equipamentos para escaladores, a Petzl começou a vislumbrar que para ser líder de mercado deveria também inovar e criar algo revolucionário. Afinal o legado de Fernand Petzl foi baseado nisso. Na época a equipe da Petzl estava tentando descobrir como fornecer aos escaladores um dispositivo de segurança tão confiável quanto um cinto de segurança.

Paul, Fernand, Peter e Michel Suhubiette estavam trabalhando na solução, com a ajuda do primeiro engenheiro já contratado pela empresa: Alain Maurice, que mal tinha 25 anos de idade. A empresa acreditava em sua capacidade de inovar, pois o engenheiro fazia seus próprios snowboards desde os 19 anos. A ideia vinha de um projeto do próprio Ferdinand Petzl, que era um descensor auto-blocante que foi criado dez anos antes.

No início da década de 1990, a empresa decide entrar na área de trabalho vertical e indústria. A decisão foi fundamental para impulsionar ainda mais os projetistas e designer da empresa.

A equipe até trabalhou com um designer para ter certeza que o objeto fácil de usar. Ao fim de tudo, conseguiram criar o equipamento, mas tudo tudo o que precisavam era encontrar um nome para esse novo “Dispositivo de segurança com freio assistido”, pronto para ser enviado até o final de 1991.

Durante uma reunião, Michel Suhubiette apareceu e perguntou: “Então, chegaram a algum lugar com o seu grigri?” Mencionando o instrumento de feitiço da boa sorte africana. Assim nasceu o Grigri, em 1991.

Em 1998 apresentam o bloqueador ultra compacto TIBLOC.

Dias atuais

Para a tristeza da família, Fernand Petzl falece em Grenoble aos 90 anos de idade. Sempre focada na união entre usuários e equipamentos, a Petzl criou no início dos anos 2003 o Petzl Roc Trip. Um evento que funcionaria como uma espécie de mutirão para abrir várias vias e reunir todos os atletas patrocinados pela empresa.

Foi um sucesso imediato. O evento, em suas últimas edições, chegou a reunir 800 escaladores e mais 200 trabalhadores na Argentina. O braço da empresa no país vizinho criou praticamente do nada uma área das melhores áreas de escalada da América do Sul, além de ter transformando a cidade Gualjaina.

Faturando atualmente US$ 5,6 milhões por ano, com um total de pouco mas de 700 funcionários, a empresa é o sinônimo de qualidade e de integração com o esporte. Não é nenhum exagero dizer que é muito difícil imaginar escalada, trekking e espeleologia sem a Petzl.

No Brasil a marca possui representação, porém o distribuidor é mais focado em relacionamentos com a indústria e trabalhos verticais, deixando o relacionamento com escaladores e montanhistas em segundo plano. Esta filosofia de relacionamento se reflete na escassez de equipamentos da modalidade em lojas e eventos.

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