A história das cordas de escalada

Se você não atende pelo nome de Alex Honnold, muito provavelmente deve frequentemente utilizar cordas para escalar. Aqui mesmo na Revista Blog de Escalada, há o um guia completo da sobre como escolher as cordas de escalada, além de ilustrar quais são os tipos existentes.

Entretanto, você já se perguntou qual a história deste equipamento tão essencial à prática da escalada? Pois é exatamente isso que este artigo se propõe: contar a história das cordas de escalada.

O início

Uma corda é, basicamente, um feixe de fibras trançados entre si para permitir a tração de cargas, fixação de objetos, práticas esportivas (que é o caso da escalada), etc. Precisar uma data exata de quando o ser humano começou a usar cordas é uma tarefa ingrata.

O uso de cordas para caçar, puxar, prender, carregar, levantar e escalar vem desde tempos pré- históricos. Especula-se (sem muita precisão) que as primeiras “cordas” rudimentares eram feitas de fibra vegetal, como as trepadeiras. Há também indícios de que esta técnica, de usar cipós e trepadeiras, foram substituídas por tentativas de torcer e trançar essas cordas para formar as primeiras cordas apropriadas no sentido moderno da palavra.

Restos de cordas, que já utilizavam tecnologia de trançados, foram encontrados em barro queimado na Europa há 28.000 anos. Fragmentos fossilizados de provavelmente corda de duas camadas de cerca de 7 mm de diâmetro foram encontrados em uma das cavernas em Lascaux 15.000 aC.

Nesta mesma época o homem de Neandertal já havia sido extinto e era o período do apogeu da indústria do osso, com a fabricação de zagaias e arpões, junto das cordas.

O Antigo Egito foi provavelmente a primeira civilização a desenvolver ferramentas especiais para fazer uma corda. A corda egípcia data de aproximadamente da 4.000 a 3.500 aC e geralmente era feita de fibras de junco de água. Do mesmo período, outra corda foi desenvolvida feita de fibras de tamareiras, linho, grama, papiro, couro ou pelos de animais.

Estas cordas eram puxadas por milhares de trabalhadores escravos e permitiu que os egípcios movessem as pedras pesadas para construir seus monumentos. A partir de aproximadamente 2.800 aC, cordas feitas de fibras de cânhamo estavam sendo usadas na China.

Desde então a corda, e o ofício de fazer corda, se espalharam pela Ásia, Índia e Europa nos próximos milhares de anos.

Na Idade Média (período da história da Europa entre os séculos V e XV), na região compreendida desde a Grã Bretanha até a Itália, foram construídas linhas de cordas em edifícios e, em seguida, torcidos para formar a corda.

O comprimento da corda foi assim ajustado pelo tamanho da passagem de corda disponível. Isso está relacionado à unidade denominada comprimento da corda. Isso permitia que longas cordas de até 280 metros de comprimento ou mais fossem feitas.

Essas longas cordas eram necessárias no transporte, uma vez que as cordas mais curtas precisavam de emenda para torná-las longas o suficiente para serem usadas.

A história das cordas de escalada

A história real da indústria de fabricação de cordas nos tempos medievais é muito escassa, para dizer o mínimo. Leonardo da Vinci (1452 – 1519) desenhou esboços de um conceito para uma máquina de fazer cordas, mas nunca foi construído. No entanto, feitos notáveis ​​de construção de corda foram realizados sem tecnologia avançada no ano de 1586.

O arquiteto italiano Domenico Fontana (um dos mais famosos de um grupo de arquitetos romanos no fim do século XVI ) ergueu o obelisco de 327 toneladas na Praça de São Pedro em Roma com um esforço conjunto de 900 homens, 75 cavalos e inúmeras polias e metros de corda.

A primeira melhoria real no artesanato de cordas veio com uma invenção em 1792 chamada Cordelier, inventada por Edmund Cartwright. No final do século XVIII, várias máquinas de trabalho com corda foram construídas e patenteadas.

Até o início do século XX, todas as cordas eram feitas de basicamente fibras naturais, como a fibra de coco e o sisal. Nesta época, todas as cordas utilizadas para a escalada eram feitas de fibras naturais. Apesar de já existir práticas de alpinismo avançadas nesta época, o que impulsionou a fabricação de cordas de escalada é a criação do Nylon.

Do século XVIII até a década de 1930, os escaladores usavam cânhamo trançado ou até mesmo cordas de seda. Tudo isso por um motivo: não existia a fibra sintética. Mas tudo mudou com as invenções da fábrica DuPont e suas fibras sintéticas.

Éleuthère Irénée du Pont

Foi fundada em julho de 1802, pelo francês Eleuthère Irénée Du Pont, como uma fábrica de pólvora, a DuPont tem um papel fundamental na fabricação das cordas de escalada (assim como grande parte de equipamentos outdoor). Du Pont era discípulo de Antoine Lavoisier (o pai da química moderna) como aluno da Régie des poudres (agência governamental francesa responsável pela fabricação de pólvora).

Foi de Lavoisier que ele adquiriu sua expertise em extração e fabricação de nitratos. Com estes conhecimentos, acabou se dedicando primeiramente a pólvora e depois tintas à base de celulose.

Como uma fábrica bem-sucedida, tornou-se uma das empresas mais ricas dos EUA. Após sua morte, em 1834, sua família acabou transformando a fábrica de pólvora em uma companhia de ciência.

No início do século XX, a DuPont começou a experimentar com o desenvolvimento de fibras à base de celulose, eventualmente produzindo o rayon, uma espécie seda artificial. Como o rayon é fabricado a partir de polímeros naturais, não é considerado sintético.

Mas a experiência da DuPont com o rayon foi um importante precursor para o desenvolvimento e comercialização de nylon.

Wallace Carothers

O período de estudo da DuPont em nylon durou um período de onze anos, desde o programa inicial de pesquisa em polímeros em 1927 até seu anúncio em 1938. É creditado ao professor de Harvard Wallace Hume Carothers (que também criou o neoprene) a invenção da fibra de nylon, a primeira fibra têxtil sintética produzida pelo homem, sendo o representante mais famoso do grupo das poliamidas (fibras artificiais com enorme resistência e elasticidade).

Carothers criou o nylon em 28 de fevereiro de 1935 e a invenção foi fruto das pesquisas em ciência e tecnologia desenvolvidas pela Dupont. Nesta época uma das maiores produtoras de cordas da Europa era a Mammut, com vasta linha de cordas de cânhamo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, cordas de nylon começaram a ser desenvolvidas. As cordas de nylon eram significativamente mais fortes e mais elásticas do que as fibra natural. Estas cordas permitiam que um escalador caísse e fosse suspenso de maneira mais suave.

Apesar das claras vantagens das cordas de nylon, alguns escaladores continuaram a usar cordas feitas de fibras naturais até a década de 1950. As cordas de nylon apresentavam também muitas falhas. Quando a corda se esticava durante uma escalada, o nylon retorcido começaria a se desfazer.

No início da década de 1950, a empresa austríaca Edelweiss introduziu a maior inovação no mundo dos esportes de montanha: a primeira corda “kernmantle”. Kernmantle vem da junção das palavras em alemão kern, que significa “núcleo” e mantel, que significa “capa”.

Nascia então o conceito moderno de cordas de escalada, mais resistente à abrasão e mais durável. Mas acima de tudo, era mais seguro escalar, pois este modelo conseguia absorver o impacto de escaladores de maneira confortável. Apesar disso, a corda lançada pela Edelweiss era o equivalente à corda estática dos dias de hoje.

No ano de 1964, as empresas Edelrid e Mammut desenvolveram as cordas dinâmicas capazes de resistir a múltiplas quedas. Estes tornaram-se o precursor da moderna corda de escalada dinâmica. Embora houvesse inovações ocasionais, a corda usada hoje é semelhante em construção, resistência e durabilidade entre os fabricantes.

No final da mesma década, nos EUA, foi fundada a primeira empresa de cordas Kernmantle, a BlueWater Ropes.

A partir de então, com o desenvolvimento de tecnologia, existem diversos fabricantes de cordas de escalada em todo o mundo. As mais conhecidas em todo o mundo, com seus respetivos países e ano de fundação, são:

  • Beal (França, 1976)
  • Black Diamond (EUA, 1989)
  • BlueWater Ropes (EUA, 1969)
  • DMM (Inglaterra, 1981)
  • Edelweiss (Austria, 1953)
  • Mammut (Suíça, 1862)
  • Millet (França, 1921)
  • Petzl (França, 1975)
  • Simond (França, 1860)

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