Há 150 anos Lucy Walker se tornou a primeira mulher no topo do Matterhorn

Lucy Walker foi uma montanhista britânica e é conhecida por ser a primeira mulher a escalar o Matterhorn (4.478 m). O feito é considerado um marco não apenas na história do montanhismo britânico, mas também global. Para historiadores, foi a pavimentação para que mulheres conquistassem seu espaço na montanha.

O Matterhorn é talvez a montanha mais conhecida dos Alpes, depois do Mont Blanc (4.809 m). A montanha fica na fronteira da Suíça com a Itália e foi a última grande montanha dos Alpes a ser escalada, mesmo sendo o 12º pico mais alto da Europa e a décima montanha mais alta da Suíça.

Matterhorn, 2.600m | Foto: Karol Nienartowicz

A montanha é o resultado da colisão de dois pedaços da crosta terrestre, a placa continental africana e placa europeia. O pico é, na verdade, da placa continental africana e, curiosamente, os quatro lados em forma de pirâmide do Matterhorn estão voltados para as quatro direções cardeais.

Mais de 500 pessoas morreram escalando o Matterhorn. A primeira escalada, concluída em 1865, foi mortal, com quatro dos sete membros da equipe morrendo em uma queda durante a descida. Desde então, o Matterhorn permaneceu uma escalada arriscada, com várias pessoas por ano não conseguindo descer a montanha.

A italiana Félicité Carrel de 18 anos quase foi a primeira mulher no Matterhorn. Mas ela tem que desistir de 4.300 metros, porque o vento batia em suas saias e quase a jogava no abismo.

Quem foi Lucy Walker

Lucy Walker

Lucy Walker nasceu em 1836, na América do Norte britânica (que mais tarde se tornaria o Canadá). Sua mãe, Jane McNeil McMurdo, mudou-se da Escócia, grávida, com seu marido em 1836. Anos mais tarde, em 1841, Jane se divorciou para viver com Frank Walker.

Frank e Jane se casaram em 1841 e então se mudaram para Liverpool, na Inglaterra. Em território britânico, Walker se tornou um comerciante de destaque na cidade de Liverpool. Lucy, que adotou o sobrenome de seu pai adotivo, começou a escalar modestamente em 1858, quando foi aconselhada por seu médico a começar a caminhar como uma cura para o reumatismo.

Lucy e seu irmão, Horace, foram para os Alpes em 1858 e ela claramente não aceitava ser deixada no vale ou no hotel enquanto seu pai e o irmão mais novo subiam montanhas. Nos Alpes Walker viveu uma vida diferente e tinha um ‘jeito de ser’ diferente daquele em sua casa em Liverpool.

Os Alpes permitiram a Lucy Walker uma liberdade que não possuía na Inglaterra vitoriana. O período vitoriano é chamado pelos ingleses de Era da Paz (Pax Britannica) e da Prosperidade, pois o Reino Unido passou a dominar um quarto do mundo. Com a industrialização, a produção se expandiu e a oferta de alimentos cresceu.

A Inglaterra se tornou a nação mais poderosa do mundo na Era Vitoriana e se auto denominou Império Britânico. Este avanço deu impulso ao desenvolvimento de uma camada social média e ilustrada.

A família de Lucy Walker passava todos os verões nos Alpes. Assim, seu pai e irmão, Horace, se tornaram escaladores famosos durante esse período pioneiro em que os principais picos dos Alpes estavam sendo escalados pela primeira vez. Foi também nessa época que o montanhismo se tornava popular na burguesia e nobreza inglesa.

Lucy Walker era sempre acompanhada por seu pai e seu irmão, ambos os primeiros membros do Alpine Club e do guia de Oberland Melchior Anderegg. Walker e quaisquer outras mulheres que se aventurassem a grandes alturas tinham considerável preconceito dirigido a elas, pois se acreditava amplamente que o lugar da mulher era em casa, apoiando a sociedade dominada pelos homens da época.

A escalada feminina no século XIX

Lucy Walker

Enquanto os jornais glorificavam as façanhas masculinas nas montanhas, eles frequentemente ignoravam ou satirizavam as mulheres que escalavam. Os periódicos descrevia as mulheres como fracas e inadequadas, ou às vezes apenas “excêntricas risíveis” (um termo elegante para ridículas).

Mesmo assim, na segunda metade do século XIX, as mulheres completaram quase 60 primeiras ascensões nos altos picos da Europa e mais de 100 primeiras ascensões femininas. Estas mesmas mulheres montanhistas do século XIX geralmente minimizavam suas realizações em cartas e livros para não parecer nada femininas e correr o risco de ser ridicularizadas.

Muitas mulheres montanhistas do século XIX não escreveram sobre suas expedições. Walker pode ter ficado calada sobre sua escalada para que ela pudesse continuar escalando em paz. Assim como as redes sociais do mundo atual, Lucy ignorou as inevitáveis ​​zombarias e não permitiu que ninguém a desencorajasse.

As atividades na montanha eram geralmente consideradas temerárias e definitivamente não eram para uma dama. Também não era aceitável que Lucy ficasse sozinha com homens durante essas excursões, então suas escaladas sempre incluíam um membro da família.

As realizações de Lucy Walker foram, a princípio, em grande parte despercebidas, exceto por aqueles em sua companhia imediata. Muitas mulheres exploraram as montanhas desde 1850, mas Lucy foi uma das primeiras a escalar e a primeira a continuar por tanto tempo.

A escalada ao Matterhorn

Lucy Walker

Lucy Walker começou em 1858 e parou em 1876, embora continuasse a caminhar e visitar os Alpes após essa data. Ao longo de sua carreira de 21 anos nos Alpes, que começou em 1858, Walker realizou 98 expedições, incluindo 28 tentativas bem-sucedidas em picos de 4.000 metros.

No ano de 1871, Walker soube que Marguerite Brevoort, uma alpinista americana, planejava uma expedição para escalar o Matterhorn. Brevoort fez várias ascensões importantes nos Alpes nas décadas de 1860 e 1870 e tinha como ambição ser a primeira a escalar o Meije (3,984 m) e o Matterhorn.

Ao contrário de Walker, que sempre usava vestidos, “Meta” Brevoort foi a primeira mulher montanhista a usar calças. A rivalidade entre as duas foi das mais famosas do século XIX. Lucy Walker, que já tinha escalado o Eiger (3.970 m), o que também era uma façanha inédita para as mulheres da época.

O grupo de Walker, que incluía o famoso guia Melchior Anderegg, chegou ao cume alguns dias antes de Brevoort em 21 de julho e Lucy Walker se tornou a primeira mulher a ficar no topo do Matterhorn. Foi a escalada mais difícil já alcançada no mundo. Lucy Walker escalou toda a montanha de saia.

Sua ideia de suprimentos adequados para um expedição era champanhe, vinho espumante e pão de ló. Com a escalda ao Matterhorn ganhou renome mundial. Infelizmente Lucy Walker não deixou diários, entrevistas em jornais ou relatos pessoais de qualquer tipo.

Lucy Walker

Ela escalou os picos técnicos mais altos da Europa, enfrentou uma exposição espetacular com cordas pouco confiáveis ​​e foi pioneira em rotas longas e difíceis através dos colos altos. De acordo com amigos que escreveram sobre ela, Walker era espirituosa e animada e tinha uma tendência para se hidratar com champanhe.

Além do Eiger, ela foi a primeira mulher a escalar a Aiguille Verte (1870), Lyskam (1868), Gross Fiescherhorn (1868), Schreckhorn (1867), Weisshorn (1866), Dom (1866), Rimpfischhorn (1864), Grand Combin (1864), Zumsteinspitze (1863), Finsteraarhorn (1862) e o Strahlhorn (1860). Em 1873, ela acrescentou o Taschhorn a esta lista invejável de primeiras ascensões femininas.

Walker continuou a escalar até a casa dos quarenta anos, quando um médico a aconselhou a parar por motivos de saúde que agora são desconhecidos. Ao todo, Lucy completou um total de 98 expedições.

Lucy Walker era uma excelente linguista e tornou-se membro fundadora do Ladies Alpine Club quando este foi fundado em 1907. Conhecida por ser uma pessoa calma, determinada e gentil, não só encorajou outras mulheres em sua escalada, mas mais tarde também os homens.

Era descrita com um senso de humor apurado e não deixava de fazer piadas. Seu guia, Melchior Anderegg, tornou-se um amigo de longa data. Walker continuou a visitá-lo muito depois do fim de seus dias de escalada.

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