Gestão do esporte: Por que o montanhismo e a escalada esportiva precisa dessa ciência?

Umas das realidades reveladas pelo Censo de Montanhismo 2020/2021 (baixe o relatório completo aqui) foi a de que uma parcela muito pequena dos praticantes de qualquer uma das modalidades pertencem a uma entidade de classe (clube, associação, federação, liga independente, etc) do esporte. A consequência disso é a completa ausência de representatividade perante o poder público.

Outras modalidades, como skate e surf, já tinham percebido a relevância de fortalecer as entidades e em oferecer uma contrapartida para quem se associar. Os dirigentes dessas entidades enxergaram que o pensamento romântico de que pessoas se associam pela “consciência política” ou “união de todos pelo esporte” não condiz com a realidade.

Com vários eventos e competições, as associações e ligas esportivas dessas modalidades conseguiram revelar jovens talentos, ocupar um espaço na grade de TV´s a cabo e/ou streaming e, assim, ver aumentar o número de integrantes que fazem parte da modalidade.

O montanhismo e a escalada esportiva ainda apostam em dirigentes amadores, paralisação dos eventos (sejam eles encontros, seminários ou mesmo campeonatos) e uma verdadeira debandada de associados. Sim, a realidade é dura para quem ama o esporte, mas está aí escancarada para todos verem.

Não há uma solução fácil, nem simples, para que a escalada esportiva e o montanhismo em geral recupere o protagonismo na América Latina. A solução, que não chega a ser utópica, está na Gestão Esportiva.

Gestão Esportiva?

Para quem não conhece o termo, aqui vai uma explicação para leigos: Gestão Esportiva não é Administração Esportiva. Gestão do Esporte, em inglês sport management, é o planejamento, organização, liderança e controle de organizações esportivas. Ou seja, administração seria ligada a órgãos públicos ou sem fins lucrativos, enquanto a Gestão esportiva estaria ligada a empresas privadas e indústria.

Portanto, quem administra para perpetuar somente os ‘parças’, escolhe os responsáveis por tarefas somente baseado em afinidades pessoais ou ideológicas é um chefete, ou um administrador do esporte. Por ser organizado baseado em objetivos difusos e não ligados ao esporte, somente o poder pelo poder, acaba entrando em uma espiral viciosa, na qual parece que tudo sai errado e ninguém parece ajudar.

Um gestor deve ter a capacidade de conjugar e lidar com políticas. Portanto, são habilidades de um gestor esportivo:

  • Flexibilidade: Demonstrar que pode realizar várias tarefas diferentes a qualquer momento, além de ser capaz de assumir funções, e tomar decisões administrativas, que normalmente não faria.
  • Gerenciamento de tempo: Precisam concluir mais em um dia do que é possível e, para ter sucesso, precisam administrar seu tempo com eficácia.
  • Organização: Deve ter certeza de que seu pessoal está nos lugares certos para garantir que os fãs do esporte tenham a melhor experiência.
  • Comunicação: Expressar constantemente as necessidades de sua entidade às de outras entidades, as necessidades de seu departamento às de outros departamentos.
  • Mentalidade analítica: Precisa ser capaz de decompor os dados à sua frente e discernir diferentes padrões. A força vital de organizações inovadoras é ter pessoas talentosas que gostam de desafiar a maneira como as coisas sempre foram feitas.
  • Criatividade: Encontrar uma maneira de se destacar é equivalente ao seu sucesso. Se o gestor é alguém que pode re-empacotar informações ou vir com novos paradigmas, com certeza entrará no radar de alguns executivos de gestão esportiva muito proeminentes.

O esporte como instituição social, no mundo moderno, foi organizado através de uma atividade denominada Gestão Esportiva, que surgiu da necessidade de manter tais atividades físicas regularizadas, formalizadas e legitimadas.

Portanto, Gestão Esportiva é muito mais que “apenas” gerir, é necessário o entendimento do contexto onde se está inserido, desde as suas leis até as características da população local, para poder tomar decisões a fim de suprir as expectativas dessas pessoas, fazendo com que a organização esportiva cresça de maneira sustentável.

Indústria do Esporte

Há tempos que a Revista Blog de Escalada divulga dados sobre a indústria do esporte outdoor e como vem crescendo em alguns países. Para saber gerir um esporte é necessário entender todas as partes que fazem parte daquela modalidade.

De acordo com Michael Porter, autor de diversos livros sobre estratégias de competitividade, em 1989, a indústria do esporte se subdivide em três macro segmentos, inerentes à Gestão Esportiva: Prática esportiva, produção esportiva e promoção esportiva.

  • Prática esportiva: Organizações que ofertam como serviço as atividades ligadas ao esporte. Na escalada esportiva são as academias, ginásios e muros de escalada. Elas estão elencadas no Sistema Nacional do Desporto, Lei Pelé, que é definido pelo Art. 4º da Lei 9.615/88.
  • Produção esportiva: Empresas que fornecem produtos para o esporte. Como exemplo na escalada esportiva, os fabricantes de agarras, equipamentos de escalada (cadeirinha, sapatilha, mosquetão, etc) e as roupas esportivas.
  • Promoção esportiva: Empresas que promovem o esporte como um produto. Portanto, a mídia e marketing esportivo são parte dessa parcela.

Portanto, uma gestão esportiva é fazer com que cada elemento da indústria se relacionem da maneira mais harmoniosa possível. Para isso, o pensamento mesquinho de querer ‘escolher’ quem pode ou não pode fazer parte da indústria impede o crescimento do esporte. Para dar um exemplo concreto de atitude autodestrutiva e mesquinha: ligas independentes que boicotam qualquer veículo de imprensa apenas demonstra o nanismo que possui em termos de gestão.

Onde absorver conteúdo de Gestão do Esporte

Como o montanhismo e escalada pode sair do século XX e entrar no século XXI? Com estudo, diplomacia, maturidade e, principalmente, conhecimento. Não há fórmula mágica, mas há alguns atalhos que podem ser encontrados para encurtar a curva de aprendizado.

Um desses atalhos acontece na semana que vem na Summit Sportlab 2021. Evento esse que, além de ser referência no Brasil, permanece ainda esnobado por boa parte de quem deveriam ser os primeiros a buscá-lo: quem está em federações, clubes, confederações e, principalmente, ligas independentes que organizam os campeonatos de escalada (que ganham dinheiro público mas gasta mal).

Os principais nomes da gestão e do marketing esportivo estarão reunidos entre os dias 22 e 23 de novembro no Summit Sportlab 2021, um ciclo de palestras e debates sobre o mercado esportivo que acontecerá de forma online e será transmitido pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). No elenco de palestrantes está a nata do marketing esportivo e da gestão esportiva brasileira.

Encabeçado por Luiz Paulo Moura, empreendedor no setor esportivo há mais de 25 anos e coordenador do Núcleo de Gestão de Esportes do IAG-Escola de Negócios-PUC Rio, o evento pode ser encarado como o All Star Game da gestão esportiva nacional.

Entre os convidados estão:

  • Pitter Rodriguez – Head de Parcerias de Esportes e Mídia Estratégica no Facebook
  • Júlia Censi – Gerente de marketing da Globo
  • Manoela Penna – Diretora de Comunicação e Marketing do COB
  • Fabio Laudisio – Diretor de Novos Negócios e Parcerias da NBA no Brasil
  • Ivan Martinho – CEO da WSL América Latina (Liga Mundial de Surfe).
  • Adriana Behar – Ex-jogadora de vôlei de praia e atual CEO da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei)
  • Nalbert Bitencourt – Ex-capitão da seleção masculina de vôlei e comentarista esportivo
  • Mariana Britto – Executiva responsável de Marketing Esportivo da XP Investimentos

Os convidados irão debater temas como a experiência e engajamento dos fãs, as possibilidades do streaming, produção e distribuição multiplataforma de conteúdo, gestão de propriedades esportivas, programas de patrocínio e o uso de dados, transformação digital, novas tecnologias e inovação no mercado do esporte.

As inscrições podem ser feitas por meio do site Sympla e o programa completo do summit pode ser conferido dentro do site oficial do evento.

A Revista Blog de Escalada é parceira de mídia do Sportlab.

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