EXCLUSIVO – Entrevista Oswaldo Baldin

Se existe algo que se possa falar do escalador Oswaldo Baldin é que ele é do tipo “gente que faz”.

Todos sabem que não é fácil viver de escalada, e que o reconhecimento é difícil de conseguir.

Porém o escalador capixaba não se intimidou com as dificuldades, e conseguiu ser um escalador respeitado no estado dele e no país. Na filosofica de “quem fica parado é poste”, o escalador segue a tendência de usar a internet a seu favor para ficar seguindo em frente sempre.

Baldin este ano está lançando uma série de programas sobre escalada e ecologia.

Procurei o escalador para que ele falasse mais sobre seu projeto e sobre seus planos para a escalada capixaba.

1 – Baldin, 2010 foi “o ano” de conquistas no estado do Espírito Santo?

Sim, foi um ano marcante em quantidade, qualidade, e nos diferentes estilos de vias abertas.

Nas falésias foram ‘descobertos’ três novos points de escalada esportiva. Dois deles no município de Castelo (ao sul do estado).

O maior se chama Apeninos , com mais de 20 vias. E o outro fica dentro de uma área bem estruturada para receber os visitantes/escaladores, que é a Falésia do Furlan: uma parede negativa com vias mais fortes.

No segundo semestre as atenções se voltaram para Pedra do Calogi, na região da Grande Vitória. E em um curtíssimo espaço de tempo o local ganhou um bom número de vias, onde estão hoje as esportivas mais fortes do estado.

E nas paredes espalhadas pelos municípios capixabas rolaram a conquista de vias tradicionais.

No início do ano foram conquistas três vias em Pancas, uma em cada montanha distinta e com estilos diferentes. No meio do ano foi conquistada uma longa via na Pedra Paulista em Itaguaçu, que resultou na maior escalada do estado com 800 metros de extensão.

E mais para o final do ano aconteceu uma conquista no Monte Serrat em Aracruz.

Dentre outras vias que foram sendo abertas em outras montanhas no decorrer do ano.

Acompanhando de perto a escalada por aqui ao longo destes anos, posso afirmar com toda certeza que 2010 foi um ano marcante em abertura de novas vias no estado, gerando assim um resultado extremamente positivo, graças a muita dedicação do pessoal por aqui.

2 – Como está sendo trabalhado o tema de acesso a estas conquistas e a outros locais de escalada no ES?

Sobre as conquistas, nós por aqui sempre partimos do princípio da mais amigável parceria entre escaladores e proprietários das terras onde queremos passar para chegar à montanha.

Então, antes de abrir uma via sempre procuramos os proprietários e explicamos a fundo todas nossas intenções daquele presente momento e do futuro: da freqüência de escaladores que passarão por lá a partir daquele pontapé inicial.

Um exemplo de grande negociação foi com o Complexo de Viana (um ótimo point esportivo). Fomos lá três vezes antes só para conversar detalhadamente com o proprietário, antes de bater o primeiro grampo na pedra.

E lá especificamente, a ACE até assinou um termo com ele, que o isenta de qualquer responsabilidade caso ocorra algo de negativo com algum escalador em sua propriedade.

E dos points depois de abertos, por aqui não sofremos muito com este problema de acesso em locais de propriedade particular, ainda. Temos só um caso isolado de acesso fechado a uma via tradicional em Guarapari.

Um grande problema que temos é por conta da proibição da escalada em algumas Unidades de Conservação, como é o caso da Pedra Azul.

Mas com negociações que já vem sendo feita ao longo dos anos, espero que em um futuro (que seja breve) possamos usufruir também destas montanhas que estão dentro de UC’s.

Resumindo, podemos dizer que por aqui a educação dos escaladores vai muito bem… e esperamos que continue assim! Sejamos éticos e cortês com a população local: a educação e o respeito são princípios que só engrandece o ser humano.

E no caso de nós montanhistas, isso a base para que não tenhamos as porteiras fechadas. Pense sempre no coletivo!

3 – Me conte sobre a elaboração de um Guia de Escaladas do Estado.

Já venho há um bom tempo captando material sobre as vias pelo estado à fora: fazendo croquis, demarcando acessos, fotografando, etc.

É um trampo danaaaaaado, se pensarmos que é um guia que abrange um estado inteiro! Cansa só de pensar, rs.

Resolvi separar o projeto do guia em duas etapas. Neste presente momento o foco é um primeiro volume, que trará nas páginas a região metropolitana (parte central no mapa do estado), que conta com escaladas em 23 municípios (por enquanto).

Depois, em um momento futuro (não faço idéia de quando), a proposta é fazer um segundo volume sobre as regiões Norte e Sul do Estado, e assim catalogar as escaladas desse Espírito Santo!

Um acontecimento ‘bascana’ foi o fato do guia ter conseguido apoio de uma Lei de Incentivo à Cultura daqui do estado.

Isso deu um gás a mais para fazê-lo virar realidade: tirar do computador e colocá-lo de vez em folhas impressas!

E a proposta é lançá-lo até o final deste ano.

4 – Após seu filme, premiado no Festival de Filmes de Montanha do Rio de Janeiro em 2009, há planos para outros?

Existe sim, com certeza.

Um projeto que ronda minha mente é sobre um filme/documentário que tem a proposta de trazer à cena um pouco da história do Montanhismo no Espírito Santo/Brasil, tendo como foco principal uma montanha que representou muito nas décadas passadas, e representa até hoje.

Mas por enquanto é uma idéia, e das grandes (= algo muito trabalhoso de produzir), rs.

Quem sabe para o ano que vem!?

Esta premiação na Mostra (na verdade pra mim inesperada) me serviu como um grande incentivo para seguir com as produções.

Não sou especificamente da área do áudio-visual, com formações acadêmicas neste seguimento: sou é um grande curioso com vontade de fazer acontecer.

5 – Fui informado que você está planejando publicar via internet algumas Videorreportagens sobre escalada. Como é este projeto?

Sempre busquei divulgar as potencialidades do Montanhismo do ES, para que pessoas de todo canto possam conhecer e usufruir disso tudo que temos aqui, que diga-se de passagem: é muita coisa.

Por tempos fiz isso através de textos para impressos e internet.

E hoje, estando à cada dia mais interessado e aficcionado com as possibilidades dos vídeos/filmes, me veio a idéia de produzir vídeos em um formato mais voltado para reportagens.

Assim como o Eliseu Frechou e o Gustavo Piancastelli tem feito muito bem.

Produzir algo no formato de documentário demanda muuuuito trabalho: é a captura de imagens de vários ângulos de uma mesma escalada para ‘mesclar’ na hora de editar, é a trilha sonora que tem que ser perfeita e precisa ‘casar’ literalmente com as imagens para assim transmitir toda a emoção daquela cena, desenvolver um roteiro muito bem elaborado, ter um olhar clínico sobre a fotografia, dentre tantos outros detalhes.

Isso na hora de produzir da uma trabalheira danada!

Trabalheira esta que curto demais, e certamente continuarei fazendo, rs.

Já nas videorreportagens é possível transmitir em um curto espaço de tempo – uns 5 minutos, que é o que estou estimando para cada uma delas -, todas as características do local ou acontecimento que se queira apresentar e divulgar.

Digamos que vejo como uma forma mais ‘dinâmica’ de vídeo, e que para produzir, particularmente, acho mais fácil.

Tive esta idéia no final do ano passado.

Mas para que este projeto se tornasse possível, parti em busca de parceiros, conseguindo o apoio das marcas: Deuter, Conquista, Equinox, Sea to Summit, Princenton Tec, Lorpen e Resseg.

Todas estas se mostraram altamente receptivas com o projeto, e entraram como parceiras desde o primeiro instante.

E para divulgar este material, a parceria foi firmada com o site Webventure (www.webventure.com.br), que até semana que vem deverá publicar a primeira delas.

6 – Já se sabe quem serão os primeiros entrevistados?

Tenho filmado com freqüência, e deixado muitas imagens em arquivo.

No andar da carruagem vou editando e finalizando os vídeos. Não tenho uma ordem muito definida do que vem primeiro.

Mas a proposta é mostrar de tudo que acontece aqui no estado: escaladas do Boulder ao Big Wall, descoberta de novos points, conquista de vias, eventos e acontecimentos em geral do cenário capixaba.

Tudo isso narrado através de entrevistas com os escaladores que estarão ligados com cada fato ocorrido.

7 – Há algum plano para que aconteça algum evento de encontro de escaladores no Espírito Santo?

Já acontece!

É um evento que já contou com quatro edições, e é organizado pela Associação Capixaba de Escalada.

No ano passado rolou o 4º Encontro de Escalada do Espírito Santo na cidade de Castelo, que foi para inaugurar os dois setores que citei (Apeninos e Furlan), e claro, fazer toda aquela boa confraternização que os festivais proporcionam, somando com palestras e outros atrativos.

Existe a proposta de um primeiro festival de vias tradicionais, à ser realizado no Complexo do Itabira em Cachoeiro de Itapemirim. Já fica ai o convite!

Mas futuramente a divulgação será feita de forma amplificada. E desde já, se alguma empresa/marca quiser apoiar este evento, será muito bem vinda.

8 – Hoje, como é o perfil dos escaladores do Espírito Santo?

Bom, existe por aqui uma diversidade de identificações com as várias maneiras possíveis que as montanhas nos oferece para galgá-las.

Até porque, hoje temos aqui no estado escaladas nos mais variados estilos, resultado disso só alcançado exatamente por ter escaladores de vários estilos. E isso é muito bom: a diversidade!

9 – Como esta a questão organizacional da escalada no estado?

Nossa entidade representativa (filiada à CBME) é a Associação Capixaba de Escalada – ACE (www.ace-es.org.br), que sempre teve por objetivo fazer com que a escalada no estado cresça de forma segura, organizada e ética.

Neste mês de abril a ACE faz 8 anos, e tem muito a comemorar:

Por hoje ter um reconhecimento perante os órgãos públicos. Por ter participação em reuniões em Unidades de Conservação e participação em Conselhos Consultivos.

Por organizar eventos como festivais e aberturas de temporada.

Ter um espaço com um bom muro para reunir seus associados (e visitantes), e assim cooperar na evolução técnica destes.

Por promover ações de preservação e manutenção de áreas de escalada. Dentre outras conquistas realizadas ao longo destes anos, e muitas outras estão por vir.

Tudo isso fruto de muito trabalho voluntariado, assim como são movidas todas as entidades de Montanhismo nesse nosso Brasil.

10 – Para saber mais sobre seus vídeos e filmes, como o interessado deve proceder?

Mantenho um Blog onde divulgo este material e os acontecimentos pelas montanhas capixabas: www.blogdobaldin.blogspot.com .

As videorreportagens estarão no site Webventure: www.webventure.com.br . E tenho um canal no Vimeo: http://www.vimeo.com/baldin e no Youtube: www.youtube.com/user/baldin23

O montanhista Oswaldo Baldin tem apoio da Deuter, Equinox, Conquista, Princeton Tec, Resseg, Sea to Summit e Lorpen.

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