Entrevista FINAL de Alexandre Diniz

Para quem não conhece, o carioca Alexandre Diniz é o principal responsável pela mostra de filmes de montanha. Tive a iniciativa de procurá-lo para uma entrevista um pouco mais diferente, das que ele mesmo forneceu pela internet afora.

Após realizado o festival sempre ficam perguntas no ar, e procurei fazer todos que escutei em mensagens no blog e até mesmo perguntas soltas na fila de entrada. No Geral um evento que de maneira geral foi exemplar. Obrigatório para todo e qualquer entusiasta de esportes de natureza e ecologia.

Diniz, sempre muito simpático e solícito respondeu todas as perguntas , que não foram poucas a respeito do festival como: planos futuros, números do festival deste ano, possibilidade de levar o festival para São Paulo e até mesmo Brasília. Confiram a entrevista abaixo

Alexandre Diniz, meus parabéns pelo 10º Festival de Filmes de Montanha, em já possui em números o resultado final como quantidade de público?

Este ano tivemos um público de 3.222 pagantes. Se contabilizarmos os convidados, jornalistas, etc, acredito em mais de 4.000 pessoas passando pelo Odeon nesses quatro dias de Festival.

Foi uma média de 400 pessoas/sessão. Nem de longe foi a maior participação de público por sessão, mas se considerarmos que tivemos o maior número de sessões este ano. Não tenho do que reclamar.

Na verdade, a minha intenção é conseguir um bom patrocínio e baixar o ingresso a preços populares e lotar todas as sessões. Não tenho a mínima vontade de elitizar o evento.


Todos os filmes passaram por uma comissão de avaliação especializada, quem faz parte desta comissão?

Todo ano procuro modificar a comissão de seleção. Até porque ninguém recebe por isso. Então não acho justo fazer a pessoa ralar dois anos seguidos na comissão de seleção.

E escolho pessoas ligadas aos esportes e/ou que tenham alguma ligação com cinema, fotografia, jornalismo, etc.

Alguém efetivamente se interesse pelo tema.

Que goste de ficar horas vendo filmes de montanha. O processo de seleção é cansativo. Ano passado que tivemos 50 filmes e ficamos dois dias inteiros em frente à tela.

Como são selecionadas as pessoas que fazem parte desta comissão? Hã muitos oferecimentos para fazer parte?

Eu mesmo ligo para algumas pessoas.

Outras se oferecem.

Tenho buscado apoio em outros esportes de montanha sem ser da escalada. Não sei se reparou, este ano tive mais ajuda do pessoal do voo livre do que da escalada na escolha dos filmes.

A ABVL, na figura do seu presidente, Marcelo Almeida, está ajudando muito na seleção dos filmes. E torço que seja um exemplo para outras confederações.

A Thais de Lima, por exemplo, foi por acaso. Me ligou sobre um trabalho na Mostra, tinha todo uma relação com comunicação e marketing, é ciclista. E assim vamos montando a comissão de seleção.


Como é mantido o sigilo sobre o resultado da crítica especializada e até mesmo da votação dom público até a última hora?

Procuro não falar com ninguém sobre os vencedores.

Acho que a surpresa faz parte da festa. O problema que a surpresa é tanta que alguns diretores nem aparecem para buscar o prêmio.

Isso eu vou ter que modificar.

O júri oficial sabe que não pode falar. Assim mantemos nosso sigilo.

A contagem do voto popular é feita pela 9d. Não tem como vazar a informação.

Qual foi o volume de vídeos enviados este ano?

Recebemos somente 30 filmes.

Menos do que o ano passado que foram 50.

A meu ver os produtores já perceberam que tem que mandar filmes mais roteirizados e com melhor qualidade.

Não que sejamos muito rigorosos, mas é a forma de tentarmos aumentar o nível da produção nacional. Nivelar por cima é a estratégia.

De qualquer forma, ficarei muito feliz quando chegarmos aos 100 filmes inscritos, mantendo a qualidade que conseguimos este ano.

Haverá no futuro, algum tipo de DVD com os ganhadores dos últimos 10 anos no festival? Se não, por quê?

Já pensamos em fazer uma coletânea dos filmes internacionais. Quando fomos calcular quantos DVDs precisávamos fazer para cobrir os custos, impostos, direitos autorais, etc, para valer a pena, ficamos horrorizados.

Eram necessários 10.000 DVDs. Impossível.

Uma coletânea com os melhores da Mostra Competitiva pode ser mais viável. Vamos fazer cálculos para viabilizar a ideia.

Não há como fugir da pergunta: há possibilidade do evento, ou mesmo somente o “Banff World Tour” para outras cidades, como São Paulo, Curitiba e Belo horizonte?

Vários interessados já nos procuraram querendo levar para outras capitais. Quando apresento a planilha de custo, alguns nem respondem mais. A minha planilha inicial começa com mais de 100.000,00.

Conforme os apoios que consigo (ou não), vou reduzindo os custos. Mas não sai por menos de uns 50.000 aqui no Rio. E graças a esse público maravilhoso que ainda temos Festival de Filmes de Montanha.

Essa é a verdade.

De qualquer forma, acredito seriamente que conseguiremos levar o festival para São Paulo. Brasília também está mexendo os seus pauszinhos. Não levo para outra cidade sem ter um bom patrocínio por trás. Só resta aos paulistas e aos brasilienses torcerem.

Depois da exibição do filme “Caminho Teixeira”, há algum outro filme em processo de produção por você?

Vou começar o roteiro de um documentário sobre o Mozart Catão. Este será um documentário mesmo. Já fizemos contato com o Marco, irmão do Mozart. A ideia é ir para o Aconcágua entrevistar e filmar do cume.

Estou até lendo o livro “Montanha em Fúria” que fala sobre o Aconcágua para ter uma base melhor para o roteiro.

E ainda não perdi a esperança de produzir um longa sobre a conquista do Dedo de Deus. Só que entraria toda a parte dos alemães.

Esse projeto/ideia é mais ambiciosa. Acho que demora a ir para o papel. Está apenas na ideia. Falta tempo.

Haverá algum concurso para os cartazes, e camisetas para o próximo evento, assim como há para a “invasão feminina” ou a abertura de temporada do Rio de Janeiro?

Sim. Estou querendo a partir do ano que vem fazer um concurso fotográfico para selecionar o fotógrafo e a foto do cartaz do ano seguinte.

Vou ver se faço o regulamento no início do ano.

Assim partimos para uma escolha mais democrática. E a votação será através do site. Receberemos as fotos. Selecionamos os melhores trabalhos.

E depois colocamos para o público escolher a que melhor representará o cartaz.

A camiseta é a base do cartaz. Então já vem com a marca do fotógrafo. E quem faz é o próprio design do cartaz.

Não consigo gerenciar tanta coisa muito próximo do evento. Mais um concurso para a camiseta não rola.

Quem são os responsáveis pela elaboração e confecção dos troféus para os ganhadores do festival de filmes de montanha?

O responsável pelo design do troféu foi o Ricardo Barcelos que atualmente está morando no Canada. É o mesmo que fez a logo da CBME e aquela camiseta de mínimo impacto onde metade é um friend e a outra metade é uma árvore.

A confecção é simples.

Mas para o ano que vem pretendemos fazer modificações nele. Deixá-lo mais moderno. Já tenho um artista plástico para o projeto.

Em breve saberão quem é.

Especulou-se este ano do festival ter quase uma semana de duração, há realmente esta possibilidade no futuro?

Sim.

Os editais de festivais pedem no mínimo 5 dias de evento.

Então temos que chegar no mínimo em 5 dias. Na verdade, temos filmes estrangeiros de sobra para isso.

O que não temos é verba para direitos autorais, legendagem, aluguel do cinema… Isso que impede de termos mais dias.

Os 7 dias previstos para este ano foram por conta do Odeon que ofereceu 1 semana pelo mesmo custo dos 3 dias. Topei, mas sabia que seria difícil fazermos tanto tempo. Os quatro dias ficaram de bom tamanho.

Só partiremos para mais dias quando tivermos mais verba, seja de editais ou de um grande patrocinador, e não precisarmos cobrar tanto pelo ingresso.

Na sua opinião, o que mudou, em termos de qualidade nos filmes apresentados desde a primeira edição até a edição atual?

Bastante coisa.

Sempre tivemos um filme despontando entre todos os selecionados.

Era o filme com um melhor roteiro ou mais empolgante.

Este ano não senti tanta diferença, apesar do “Dias de Tempestade” ter levado no voto popular com grande margem em relação aos outros.

Vi na maioria dos filmes um roteiro melhor, a qualidade da filmagem melhor e várias técnicas aplicadas.

No início era apenas uma filmagem das pessoas escalando.

Isso já não empolga mais.

Os produtores/esportistas estão procurando fazer cinema e não apenas um vídeo de escalada, de voo livre ou de mountain bike.


Para você, pessoalmente, como é o impacto na sua vida pessoal nos dias de promoção do evento?

Loucura total.

Trabalho muito sozinho por conta da falta de verba para contratar mais pessoas. Às vezes acordo 4h da madrugada para mandar e-mail para o design, para a assessoria de imprensa, para o webdesign, para a gráfica, mesmo sabendo que só abrirão lá pelas 10h.

Lógico que tenho um cronograma de tarefas, mas são vários detalhes que não são colocados nas tarefas e vou lembrando no andar das coisas.

E quando lembro procuro encaminhar logo o e-mail para não esquecer.

Meus filhos é que sofrem com o festival.

Próximo do evento fico com a cabeça tão voltada para as tarefas que ainda faltam que as vezes estou totalmente distante deles. Fico muito triste com isso.

Mas faz parte.


Este ano houve a estréia de um novo site, com visual mais elegante, e uma interação maior com o público em “twitter”, e “facebook”. Como foi esta experiência para você?

O site já era um velho desejo de reformular.

Então para comemorar os 10 anos do festival resolvi investir nele.

Acho que o pessoal gostou muito. Bom, a comparação também é cruel. Na minha visão saí de um site estático sem ser muito atraente para um mais dinâmico e mais atraente.

O investimento nas Redes Sociais foi em função do aumento de dias.

Quanto mais dias de evento… Mais divulgação tem que fazer. Não tem jeito. E a forma mais barata que encontrei de fazer essa divulgação era pelas redes sociais. Clear Channel, anúncio no Globo e em TVs são caríssimos.

Foi a saída que encontrei. E vi a força realmente das Redes Sociais.

O retorno foi realmente excelente.

Saltei de 300 visitas/dia em 2009 para 700/dia em 2010.

Isso na época do festival, claro.

E pretendo manter informações através do twitter que é mais fácil e rápido para divulgar.

Há alguma probabilidade de se aumentar as categorias premiadas nas futuras edições, ou até mesmo a criação de um prêmio homenagem?

Ainda não conseguimos separar um “Uruca” ou um “Caminho Teixeira” dos outros. Eles acabariam concorrendo sozinhos.

Ainda temos que colocar tudo num mesmo bolo.

Para criarmos mais categorias temos que ter mais filmes. No futuro com certeza teremos mais categorias.

Provavelmente uma específica para montanhismo/escalada.

A ideia da homenagem também já foi pensada.

Mas tudo é custo. Até mais premiações com troféu já pensamos.

Tem gente louca para eu criar o prêmio de melhor roteiro.

Cadê o dinheiro?

Para você o que torna fundamental para um vídeo ser considerado bom, e até mesmo ganhador do Festival de Filmes de Montanha?

Atualmente tem que ter um bom roteiro, qualidade e empolgar.

Quanto mais ralação melhor.

A maioria do público é de praticantes.

Não adianta vir com aquele blá, blá de que é a coisa mais difícil do mundo. Não sensibilizará ninguém.

Tipo o solo da Alex Honnold. Não diria que é um excelente filme, mas não tem como não impressionar.

Os vencedores sempre empolgaram por que foram feitos (ficcionais ou não) mostrando alguma situação extrema.

Tem que ir lá e fazer a coisa acontecer.

Quais são seus filmes de esportes de natureza que você considera imperdível?

Para mim um bom filme nacional que as pessoas devem ter como exemplo é o Ciclos.

É um filme longo para os padrões de filmes de montanha, mas que empolga do início ao fim. Tem momentos de humor.

Tem momentos de ralação/roubada. É um acontecimento real.

Traz a cultura brasileira.

Não teve melhor fotografia. Não teve melhor direção. Nào teve melhor montagem.

Mais foi um excelente filme.

Existe alguma mensagem para quem deseja realizar algum projeto para participar do evento no próximo ano?

O principal é que deve fazer cinema.

E quando falo em cinema, vai desde o roteiro, passando pelo orçamento, captação, produção, pós-produção e finalização.

Tenho visto muita gente ter problema para finalizar o seu filme.

Eu fui um deles. Mesmo com o apoio da Link Digital para a finalização do Caminho Teixeira, cheguei no final e não consegui finalizá-lo em HD por questões técnicas.

Então, devem pensar em todos os passos com calma para não chegar ao final e sair frustrado.

No mais… Até o ano que vem!

 

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