Fotografar escaladores pode parecer uma tarefa simples, especialmente para quem já tem prática.
Entretanto na prática as dificuldades aparecem, e é bem nítido que existem grandes diferenças entre os estilos de fotografia.
Um dos mestres na arte de fotografar escaladores e criar imagens icônicas é o argentino radicado a 12 anos na Espanha Bernardo Gimenez.
Gimenez já é um profissional experiente e suas fotos parecem saltar aos olhos de quem as vê.
Bernardo recentemente veio visitar o Brasil para fotografar uma viagem de Daila Ojeda.
A Revista Blog de Escalada procurou Bernardo Gimenez para uma conversa para que pudesse falar de aspectos de fotografia, escalada e viagens pelo Brasil.
Acompanhe abaixo:
Bernardo, você recentemente visitou o Brasil, como te pareceu o país?
Espero que não seja mal interpretado, mas o Brasil é, creio, o país que mais gosto de todos que já visitei.
Foi minha segunda visita ao Brasil, a primeira foi em 2005 para abrir uma via na Pedra Riscada, e me apaixonei pelo país.
Como começou a idéia de voltar a visitar o Brasil para escalar?
As meninas da Prana queriam fazer uma viagem juntas. Eu estava a tempos falando com Daila sobre o Brasil e o bom que tinha me parecido durante minha viagem anterior.
Então se foram decidindo até que ficaram Brasil e Cuba como possibilidades.
Brasil “ganhou”.
Você é um fotógrafo muito conhecido. Como é a vida de quem trabalha tirando fotos de escalada?
A maioria pensa em viver de férias ou que é como ir escalar e já que está aí faz algumas fotos , e te pagam por isso.
Lamento dizer que não é assim, ao menos no meu caso.
Quando trabalho não escalo, nem tenho tempo nem interesse na escalada neste momento.
Todo meu tempo e energia é para obter as melhores fotografias possíveis.
Fotografar escaladores e fotografar outros esportes são duas coisas diferentes? Porque?
Não acredito que seja diferente, a fotografia possui suas bases e seus conceitos bem definidos.
Assim, já conhecemos as fórmulas para que uma imagem “funcione” seja de escalada, surf, futebol ou um retrato.
O que é de fato diferente é a parte técnica e sim devemos trabalhar pendurados em um bigwall, por exemplo, é necessário conhecimentos que um fotógrafo de surf não tem e nem necessita.
Na fotografia existem dois “clubes”: Nikon ou Canon. De qual você é?
A verdade é que não sou de nenhum clube.
O fanatismo, em qualquer que seja suas variantes é algo que me não me parece saudavel.
É o contrário de ter a mente aberta, é não estar disposto ao novo e ao diferente.
Trabalhei com câmeras Nikon por 10 anos e agora uso Canon por algumas questões técnicas que em seu momento foram decisivas.
Mas para mim é o mesmo, todas as marcas conhecidas são suficientemente boas para estar no limite entre fazer fotos boas ou ruins desde que o fotografo tenha criatividade.
Muitos fotógrafos se dedicam a fazer também vídeos. Você acredita que é uma tendência sem retorno?
Isso depende de cada pessoa, há alguns que descobriram que gostam de fazer mais vídeo do que fotografia e outros, entre os quais me incluo, que no querem deixar a imagem parada de lado.
Apesar de que ambos os meios se parecem e o efeito que produzem no “espectador” são bastante diferentes.
O vídeo (que não o cinema) está mais relacionado com o imediato e visualização rápida da informação.
A fotografia é, em contrapartida, requer do espectador mais paciência e calma, mas em contrapartida oferece, no meu entender, uma experiência mais prazerosa e nos mostra coisas que os olhos não podem ver.
É um pouco de mágica.
Ainda assim também gosto e aproveito muito fazendo vídeos.
Quais foram os fotógrafos que mais inspiraram seu trabalho? Porque?
Os que inspiraram desde sempre não são fotógrados que faziam fotografia de escalada,
Pessoas como Alex Webb, David Alan Harvey, o brasileiro Sebastião Salgado, Cartier-Bresson, Jody Cobb, Josef Koudelka e muitos outros, me fizeram ficar horas e horas olhando seus livros uma ou outra vez.
Dentro da escalada e aventura há, ou houve, gente que me surpreendeu muito com suas imagens.
Para citar algunos: Uli Wiesmeier, que não faz mais fotografia de escalada agora, mas quando as fez foi excelente, Frank Hurley fotógrafo da expedição de fShackleton à Antártida em 1914.
Eu gosto que a fotografia me surpreenda, que me provoque vontade de vê-la uma ou outra vez, que seja complexa e harmônica ao mesmo tempo , e estas pessoas que citei conseguem.
Tem algum conselho a quem planeja trabalhar tirando fotos de escaladores?
Não esperar resultados imediatos.
Não pretender ficar rico, mas sempre cobrar e nunca presentear seu trabalho.Se não cobrar está dizendo: “não vale nada”.
Trabalhar duro (ir fotografar NÃO É ir escalar e tirar umas fotos de passeio).
Olhar muitas fotografias, não somente de escalada.
Copiar o que gosta no princípio, o estilo pessoal já virá sozinho.Focar em fazer melhores imagens, pensar que quantidade não é qualidade.
Tem planos de voltar ao Brasil e ficar mais tempo?
Sim, estou preparando um projeto que me interessa muito. Está um pouco relacionado com a escalada, mas não é o tema central.
.Tomara que tenha sorte e consiga que as empresas que quero me apoiem para poder realiza-lo.Adoraria voltar ao Brasil.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.