Entrevista com Bernardo Biê Rubim

Bernardo Biê Rubim - Foto: Seblen Mantovani

Foto: Seblen Mantovani

É inegável o crescimento e popularização dos esportes de montanha no Brasil.

Por isso o interesse da mídia tradicional em ter ao menos pessoas que figurem como representantes de uma geração praticante de esportes de montanha .

Uma destas pessoas agraciadas (por ter sido abraçado pela mídia tradicional ) é o carioca Bernardo Biê Rubim.

Rubim é uma destas pessoas com bastante humildade e determinação dentro e fora da escalada, e mesmo sendo alvo de certo ciúme de vários escaladores (que desejariam estar em seu lugar) estrelou a série “Montanhistas” para um canal de tv à cabo.

Mesmo atingindo certa notoriedade, Bernardo não deixou a simplicidade de lado nem abraçou a soberba por conta da badalação que as câmeras de TV trazem e conseguiu realizar um bom retrato da escalada em rocha para o público leigo.

Trabalho este inédito e sem precedentes na história do esporte no Brasil.

Por esta razão a Revista Blog de Escalada procurou Bernardo Biê Rubim para uma uma entrevista e foi prontamente atendido pelo simpático escalador.

Leia a entrevista abaixo

Bernardo, o que a escalada representa para você?

Thaiwand wall_Thailandia

Foto: Seblen Mantovani

A escalada representa um grande marco na minha vida, desde que me entendo por gente pratico atividades outdoors, mas foi a escalda que libertou totalmente meus instintos mais selvagens me proporcionando momentos inesquecíveis que mudaram completamente minha interação comigo mesmo, com o mundo e com as pessoas.

Dentre os estilos de escalada, qual o seu favorito e porque?

Sempre prezei em tentar praticar todos os estilos que a escalada oferece.

Coquetel de Energia_RJ

Foto: Guilherme Taboada

Ainda tento praticar um pouco de cada estilo, mas tudo que faço em relação a escalada é visando escalar montanhas, seja fazendo um boulder, tentando uma via esportiva ou me arrastando dentro de uma chaminé.

No fim tudo que quero é estar preparado para o que a montanha pode me exigir.

Com o crescimento do esporte muitos escaladores praticam sem ter realizado um curso básico. Qual a sua opinião a respeito disso?

Antes de começar a escalar efetivamente, fiz o curso básico de escalada em rocha que me deu muita noção dos riscos eminentes do esporte e como administrar situações e procedimentos básicos.

DWS na Thailandia

Foto: Seblen Mantovani

Sempre que alguém me pede para começar a escalar indico que antes de mais nada procure uma escola de escalada, clube de montanha ou um instrutor qualificado para aprender os procedimentos básicos que são prioridade para uma prática segura.

Ainda hoje muitas pessoas começam a praticar com a instrução de amigos que são considerados “experientes”.

Não acho isso uma coisa muito segura quando não temos parâmetros para avaliar se a experiência desse amigo e a instrução dele são suficientes para formar um escalador consciente e tornar uma prática divertida em algo seguro.

No ano de 2013 houve muitos incidentes de mau comportamento de escaladores. Qual seria o motivo deste crescimento?

Fiesta de los biceps_Espanha

Foto: Seblen Mantovani

Com o crescimento do esporte no pais, a demanda de formação de escaladores aumentou em ritmo desenfreado, e a preferência pelos estilos de escalada menos comprometidas tiveram impacto direto na formação dessa mentalidade. 

Além disso, a influência de outras culturas de escalada também causaram algumas confusões na compreensão da identidade da nossa cultura de escalada.

Isso foi o que mais me preocupou em alguns incidentes que acompanhei pelas discussões nas redes sociais e espaços designados para tal.

Acredito que a mudança de mentalidade das novas gerações de escaladores tem pontos positivos e negativos, o mais importante é que não podemos esquecer de colher o verdadeiro aprendizado diretamente da fonte da montanha, pois são elas que sempre ensinaram a essência do que é escalar a todos os escaladores de todas as gerações.

Você possui uma rotina de treinos rígida? Qual?

Historia sem fim_RJ

Foto: Guilherme Taboada

Hoje em dia sou pai de família, por isso construí um muro de escalada em um quarto e tento treinar pelo menos 1hora por dia, já que não tenho mais tanto tempo livre. 

Não tenho uma rotina fixa de treinamentos, tento ouvir o meu corpo e sentir onde devo investir os poucos e valiosos minutos que tenho, o que nem sempre é suficiente para escalar na rocha.

Assim pelo menos mantenho uma forma física que me proporciona tentar escaladas perto do meu limite.

No ano de 2013 não houve a organização de campeonatos de escalada. na sua opinião, você acredita que as competições de escalada são viáveis?

É uma pena não existir no Brasil um calendario de competições de escalada aos pés da qualidade dos atletas que temos.

Mumita em Montserrat_Espanha

Foto: Seblen Mantovani.

As últimas etapas do campeonato brasileiro de boulder que assisti foram bem satisfatórias, não sei porque as empresas do ramo não se mobilizam para investir nas competições.

Espero que de alguma maneira isso mude e torço para que as empresas e instituições se mobilizem nessa direção, pois a escalada Brasileira só tem a ganhar com isso.

Na sua opinião qual seria o estilo de vida de um típico escalador?

Na minha opinião um típico escalador leva um estilo de vida bem simples mas com o pensamento elevado, em todos os sentido, visando sempre evoluir naquilo que se propõe.

A maioria dos escaladores que conheço são fanáticos, verdadeiros obcecados pela escalada e por tudo que ela nos proporciona na vida.

Esse típico escalador provavelmente faz todo o possível para estar na pedra e esse é o verdadeiro espírito da coisa.

O esporte de escalada cresceu muito nos últimos anos, mas a abertura de novas academias de escalada não acompanhou este crescimento. Na sua opinião qual seria este motivo?

Apesar do crescimento do número de escaladores nós últimos anos, a indústria da escalada no Brasil não acompanha esse crescimento, principalmente os ginásios de escalada, que na minha opinião são os que mais sofrem pra sobreviver no mercado.

A realidade é dura para lojistas e donos de academias de escalada, muitos escaladores não se preocupam em incentivar a indústria nacional e vice versa. Acredito que essa relação ainda é muita distante do ideal para ambos.

Os empresários não conseguem o retorno esperado para incentivar atletas e competições, com isso os escaladores não se motivam tanto em buscar uma academia de escalada para desenvolver um trabalho sério ao ponto de alcançar um nível competitivo.

Apesar desses fatos, a cultura de escalada no Brasil ainda não é muito sólida e infelizmente para o público em geral escalada é coisa de maluco.

É lastimável ver uma loja de produtos para escalada abrir e fechar ou uma academia de escalada acabar depois de anos lutando contra a maré.

Volto a enfatizar que esse tipo de coisa segue o rumo da mentalidade que os próprios escaladores constroem do esporte, mas tenho fé que os anos que virão a escalada e o montanhismo vão ser impulsionados pelas atividades esportivas que ocorrerão no país.

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