Entrevista Cesar Grosso sobre seu novo patrocínio

Em pouco mais de 6 anos mantendo o Blog de Escalada tive a oportunidade conhecer pessoas ilustres. O escalador Cesar Grosso seguramente e uma delas.

Enquanto os mais velhos digam com orgulho que já viram jogadores como Zico, Rivellino e Ademir da Guia jogarem futebel e parecia fácil o mesmo posso dizer sobre Cesinha escalando.

Uma pessoa que possui uma escalada leve, fluída e técnica que faz com que o que para muitos tem o adjetivo de difícil, para Cesinha é fácil.

Cesar Grosso venceu com a elegância de sempre o campeonato organizado pela marca americana North Face no Chile, e pude após varias tentativas conversar com ele.

Acompanhe a entrevista abaixo.

1 – Cesinha, hoje você é o maior ganhador de títulos em campeonatos na escalada esportiva, o que representa isso a você?

Sem dúvida é o resultado de muito tempo dedicado aos treinos e campeonatos.

Escalo desde 1995 e em 2000 comecei a treinar, na época, o campeonato brasileiro era bem disputado, entrar na final era disputa acirrada entre todos os 10 primeiros colocados, neste mesmo ano, saltei de 21o. para 3o. lugar no campeonato depois de 10 semanas de treino e não de escalada.

Isso me fascinou!

E desde então lutei e me dediquei ao desempenho na escalada. Os campeonatos ou títulos são os objetivos ou a razão de tudo isso.

Pra mim é literalmente uma eterna recompensa.

Assim como uma grande conquista ou cadena de uma via.

 2 – Qual é seu principal objetivo para o ano de 2012?

Casar! haha

Não tenho “O” principal objetivo este ano, como ano passado que tinha o Mundial.

Quero escalar na rocha, competir, correr.

O bom que este ano temos muitos campeonatos e tenho muitíssimas vias novas pra entrar em diversos points pelo Brasil.

Mas uma coisa que quero muito e ultimamente vem tomando mais minhas idéias é algo pouco mais ousado nas paredes de tradicional.

Quero algo disso este ano.

 3 – Este último campeonato vencido por você no Chile, como foi a sua preparação para ele?

Desde quando esse campeonato foi confirmado (em novembro de 2011) sabia que seria o principal objetivo do 1 trimestre deste ano.

Então, no dia 9 janeiro (uma segunda – feira) passei a treinar focado nele, exatamente 9 semanas antes.

Fui progredindo bem a cada semana, series de boulder, cada um de um route setter, exercícios de campus, finger, alongamentos, as corridas, etc.

Na semana do campeonato me sentia bem, fui tranquilo nas eliminatórias e semi-final e dei tudo nas finais.

Mais que um mérito físico, os treinos estratégicos e técnicos me ajudaram bem no decorrer do campeonato.

E apesar de ainda ser novo, acho que posso dizer que a experiência também contou (sempre quis dizer isso, hehe)

4 – Você também é nutricionista, houve uma preparação especial para este campeonato no Chile?

Claro! Sempre tem!

Em nenhum esporte a relação Peso X Potência tem tanta importância como na escalada!

Além disso tenho que estar bem nutrido para toda a rotina de treino e pra competição.

Só como o que o corpo precisa. Se você comer a coisa certa, na quantidade certa e na hora certa, posso dizer que são algumas agarras a mais em um campeonato ou via.

Mas nos dias do campeonato como somente carboidrato e nada mais, nem gordura e quase nada de proteína, mas na quantidade e hora certa, pois um erro ai podem ser algumas agarras a menos.

 

5 – Como é a sua rotina de treinamentos em uma preparação para campeonatos?

Depende muito do campeonato, se é via ou boulder, quanto falta, etc.

Mas de forma geral são 5 a 7 vezes na semana, que podem ser 5 a 12 sessão semanais. Mais uma média de 50km de corrida/semana.

Se for treino pra vias, sempre dividido em séries de vias de 20 a 80 movs (dependendo da fase pode chegar a 2000movs/dia ou 11mil na semana) sempre com campus, boulders e finger.

Se for boulder o que mais faço são boulder, o mais difícil é mante-los ecléticos, somando também o finger e campus, ai as séries de via ficam de lado.

E sempre, 12 meses ao ano, corrida matinal, que na semana de campeonato baixo para uma média de 15 a 20km na semana.

 

 6 – Você disse que recebe muitos pedidos para fornecer treinamentos para as pessoas, você pensa em fazer isso de maneira mais profissional?

Sinceramente, não muito.

Pelo menos por agora.

Primeiramente, me toma o único tempo que tenho para me dedicar aos treinos.

Quando dava aula, as vezes 1h de aula me tomava duas horas ou mais, entre espera, atraso, a “social” no ginásio, aquecimento, etc.

Muitas vezes perdia a tarde de treino por uma ou duas horas de aula.

E mesmo que for planificando (como as vezes ainda faço) eu me sinto obrigado a dar uma assistência ao escalador.

7 – Como é o apoio da família e noiva na sua preparação?

Não só família e noiva, mas todos meus amigos, sem excessão, me apoiam muito!

Diariamente todos me pilham, meus pais sempre me perguntam como vão os treinos, minha noiva sempre tem uma critica construtiva sobre minha escalada, etc.

Muito motivador, muitas vezes eles são muito necessários!

Agradeço a todos!

8 – A partir deste patrocínio com a North Face, o que mudou na sua carreira de escalador?

Claro que a motivação sobe! A The North Face me patrocina desde outubro de 2011, desde de então, me proporciona treinar com mais foco pelas viagens e campeonatos que temos.

Sem falar dos equipamentos The North Face, que, patrocínio à parte, são os melhores e mais técnicos que existe, sendo assim, posso pensar em feitos mais extremos.

Agradeço também a G2 adventure pela parceria desde abril de 2011.

9 – Qual a sua expectativa com o campeonato que irá ocorrer durante a semana de montanhismo do Rio de Janeiro?
Mais do que o campeonato, eu vejo a semana como uma grande conquista do montanhismo Brasileiro. Será histórico.Sobre o Campeonato, também vejo como uma grande passo para a esportiva no Brasil, espero que bata o recorde de participantes.

Minhas expectativas são as melhores, espero escalar bem e, quem sabe, pegar um pódio.

10 – Hoje há poucas etapas de campeonatos brasileiros, e até mesmo o campeonato paulista deixou de ser organizado. Na sua opinião quais seriam os motivos que levaram a esta situação.
Realmente a escalada passou por uma crise.

Difícil apontar os motivos, mas eu vejo que foi principalmente por consequencia “lá de cima”.

Como já disse, desde qu

e comecei a escalar, até 2002/2003 bombavam os campeonatos, e eram muitos!

Tinhamos mais ginásios, mais lojas de escalada, tinhamos uma grande feira realmente de aventura na Bienal de São Paulo.

Eu, com 16 anos, tinha um excelente patrocínio com um bom salário mensal, assim como outros escaladores.

Daí, não sei se foi o dólar que subiu quase até R$4,00 ou simplesmente a escalada saiu de moda, ou as vias tijolantes deram lugar aos acessíveis boulders, mas todo o mercado de aventura despencou, lojas e ginásio fechando, poucos campeonatos e com 6 ou 7 escaladores, etc.

Sendo assim, é compreensível como todos desanimaram em organizar e competir.

Mas hoje tudo está se reerguendo novamente, lojas abrindo, novas marcas e produtos surgindo e fortalecendo, teremos pela primeira

Não sei dizer  vez na história um ranking nacional de boulder, as academias lotadas, até mesmo muita gente das antigas voltando a escalar, etc.

Espero também que nesta mudança ascendente, tomemos mais forte a cultura de competição.bem o porque, mas que bom que o pior já passou.

O Brasil é o único pais que vejo onde a galera não compete muito, alguns tem como medo da comparação.

Temos que mostrar que a competição não é pra ver quem é melhor e sim é uma grande oportunidade de aprendizado, auto conhecimento e evolução, é uma adrenante brincadeira.

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