Cansado de escutar boatos e lendas a respeito de campeonatos e decisões a respeito da escalada esportiva, e sobre o mundo dos negócios na escalada decidi pedir para o escalador/empresário/pai/montanhista Alê Silva conceder a já conhecida entrevista de 10 perguntas.
Para quem ainda não sabe, Alê Silva é o proprietário da Casa de Pedra, e uma das pessoas que mais investiu no esporte (e nos esportes de aventura em geral) nos últimos 10 anos.
Alê Silva Gentilmente respondeu todas de maneira completa e bem clara. Desde já agradeço a sua disposição em responder.
1 – A Casa de Pedra passou por um momento delicado ano passado. Pelo menos a academia. A loja casa de pedra reflete o mesmo?
Não, muito pelo contrário. Acabamos de ampliar a loja do Shopping Morumbi e ainda abriremos outra no Shopping Villa Olímpia que será inaugurado em outubro deste ano. Ao contrário da academia, as lojas tem um leque de “consumidores” muito maior e diversificado.
Ainda não. Por muito anos e por diversos motivos (inclusive forte desmotivação) o negócio deixou de ser economicamente viável, porém mantive por pura paixão pela escalada. Depois da re-estruturação de dias, horários e obviamente cortes, conseguimos baixar os custos consideravelmente, porém o mercado ainda está muito retraído. Pelo menos o buraco agora está menor e a vontade de fazer funcionar maior.
3 – Muito se reclamou sobre as medidas econômicas para evitar o fechamento da academia Casa de Pedra. O aperto no cinto valeu a pena?
Como já adiantei na resposta anterior, o buraco está menor. Sem dúvida eu assumi publicamente boa parte dos “erros” da Casa de Pedra, mas também não adianta achar que baixando o preço vamos ganhar no volume, pois já fizémos isso no passado e praticamente não mudou o número de praticantes. A escalada é um nicho muito pequeno e qualquer ação é momentânea, a galera vem se diverte, mas a massa crítica, os escaladores de verdade, são muito poucos. A escalada nunca será um esporte de massa. Hoje a academia praticamente não tem mais diaristas, ou seja, pessoas brincando de escalar, mas sim escaladores que treinam duas ou mais vezes por semana. Se realmente valeu a pena, te direi daqui dois ou três anos.
Posso lhe dar duas respostas: As academias representam hoje talvez 10% do faturamento da marca Casa de Pedra. Nas lojas Casa de Pedra, os equipamentos técnicos de escalada não chegam a 1% das vendas. Mas vale lembrar que mesmo com tão baixa representatividade, a escalada é o que da “alma” ao negócio.
5 – A Casa de pedra sempre patrocinou eventos competitivos, e ano passado passou um período meio esquecido desta característica. Como surgiu a idéia do boulder fest? E como foi designada a premiação?
Desde o primeiro ano da Casa de Pedra realizamos inúmeros festivais, campeonatos paulistas, brasileiros, etc. porém a vontade e gás pra fazer acontecer veio caindo junto com todo o resto. Menor número de interessados, menos atletas, menos apoios ou patrocínios, muita reclamação… Infelizmente passamos por uma geração de novos atletas que parece que o primeiro esporte é reclamar, escalar vem em segundo plano. Lembro-me de campeonatos que participei com um terço da organização e estrutura do que vemos hoje, junto a atletas como Helmut, Pita, Fabinho Muniz, Linha, Pietro Sargenteli e tantos outros… e sempre foi pura curtição.
6 – Quem poderá participar?
7 – Quem serão os route-setters e staff do evento? É veridico o boato de que até os “route setters” do evento também irão participar?
O staff é o pessoal residente da casa mesmo, como sempre foi e deu certo… Quanto ao boato, é pura maldade de quem reclama por esporte. O Route setter em questão é o Belê, que sim abrirá todos os boulders da categoria de diversão, e sem dúvida alguma competirá na outra categoria. Exatamente por isso que as etapas serão em unidades distintas, ele abrirá os boulders em Perdizes enquanto a competição será na Chácara. Provavelmente o Rout Setter da competição será o Paulo Gil, mas mesmo que ele não confirme, temos outros nomes possíveis para abrir os boulders.
8 – A loja da unidade Morumbi foi ampliada, o mesmo se pode esperar da loja do shopping Villa Lobos?
É difícil dizer… Tenho recebido pedidos para voltar a fechar as 23:00h. isso não aumenta muito os custos, e sim influencia na segurança, pois nosso galpão está numa área ainda muito industrial, escura e de fácil acesso a Marginal Pinheiros. Porém se o bairro continuar a crescer, como tem sido nos últimos anos, pode ser que eu volte ao horário antigo. Já o fim de semana, é muito complicado com escala de pessoal. Agora, se a coisa realmente melhorar não tem porque abrir só dias por semana. Tudo depende da quantidade de alunos.
Depois de uma fase “obscura” da Casa de Pedra, eu estou novamente motivado a “tentar dar certo”. As lojas estão crescendo e manter as academias funcionando é um orgulho e prazer pra mim. A motivação é a base da boa administração, nada como trabalhar fazendo o que amamos. Se o panorama continuar assim, com certeza será bem mais fácil levar tudo isso.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.