Expedições sempre foram fonte inesgotável de realização de muitos filmes de montanha.
A conquista de um feito sempre desperta muita curiosidade do público e são produzidas obras de respeito como “Harmatan“, “K2 – Siren of Himalayas” e “Cold“.
Todos estes filmes documentando o lado humano de escaladores, fugindo do objetivo de criar heróis.
Entretanto o outro lado da moeda também existe.
Há histórias de tragédia que atiça ainda mais a curiosidade do público que fica ávido por saber algum fato que o atormentará pelo resto da semana.
O espanhol “Pura Vida” é um misto dos dois: é uma história de expedição tragédia mas também sobre a paixão e motivação de escaladores.
A produção documenta a história da tentativa de resgate de Iñaki Ochoa no Annapurna e o engajamento de pesos pesados do alpinismo mundial na tentativa de resgatar o espanhol.
O Monte Annapurna fica no Himalaia e é a décima montanha mais alta do planeta mais de 8000 metros de altitude.
Ochoa era um alpinista conceituado e teve complicações de saúde na sua ascenção ao cume
Por conta destas complicações um resgate delicado era necessário.
Para resgatá-lo formou-se uma equipe de pesos pesados do alpinismo mundial como: os nepaleses Nima Nuru Sherpa e Mingma, os russos Horia Colibasanu e Alexei Bolotov, o suíço Ueli Steck, cazaquitanês Dennis Urubko, polonês Robert Szymzak, os romenos Alex Gavan e Mihnea Radulescu e os canadenses Don Bowie e Nancy Morin.
Seria o equivalente a todos os heróis dos vindadores (hulk, capitão américa, homem de ferro e etc) fossem resgatar algum outro personagem do mundo fantasioso da marvel comics.
A partir deste enredo o filme procura dissecar todos os detalhes da morte de Iñaki .
O detalhamento de todos os aspectos vão desde o início do incidente e é apresentado com declarações de cada um dos alpinistas da equipe.
Junto com a descrição de cada resgatista também há espaço para que filosofem sobre os motivos de irem à montanha.
Nestas declarações estão muitos dos momentos emocionantes do filme, emq ue não analisam somente a vida de montanhista mas o esporte.
Por se preocupar em documentar tantos detalhes não tão interessantes a quem não sente paixão pelo esporte, o filme passa a sensação de lentidão.
Esta sensação se justifica pelo diretor optar por mostrar tanto o drama e tensão de ir a um resgate como também diálogos filosóficos.
Por esta escolha parece que são dois filmes distintos em paralelo.
O público que está acostumado a filmes de montanha e escalada conter muita ação e gritos guturais sentirá incômodo por um que procura fazer as pessoas pensar.
Questionamentos são levantados durante o filme com relação ao esporte e algumas imagens da preparação física dos russos e poloneses para a escalada são icônicos.
Mesmo tendo um ritmo lento, “Pura Vida” tem o mérito de documentar um resgate e ao mesmo tempo enaltecer o companheirismo de escaladores.
Importante destacar que homenagens a Iñaki Ochoa foram comedidas e na medida certa e com elegância .
Tudo documentado sem colocá-lo em pedestal ou classifica-lo como herói.
“Pura Vida” é um filme a ser cultuado por praticantes de alpinismo por muito tempo devido à sua qualidade e deve ser visto até por quem não aprecia o estilo.
Entretanto seu ritmo lento pelo volume de informações a documentar tira um pouco do brilho que o filme possui deixando brecha a quem não aprecia o alpinismo.
Mesmo assim a produção é de qualidade acima da média e põe uma lupa em várias éticas, dogmas e filosofias do montanhismo.
Análise esta que poucas produções fazem tão bem quando “Pura Vida”.
Nota do Blog de Escalada:

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.