Documentar personalidades é um desafio que demanda várias escolhas dos produtores.
Dependendo de quanto é pesada, ou leve, a mão do diretor e roteiristas o filme pode ser uma obra prima ou naufragar.
Dentre as pessoas que produzem documentários e filmes outdoor é tido como verdade o fato de que qualquer pessoa tem algo interessante a contar.
Se esta afirmação é verdade ou sofisma, é outro assunto para um outro tipo de artigo.
Com o desejo de documentar a força feminina, as consequências de escolhas feitas na vida e o facínio de pessoas com personalidade forte e marcante que os produtores Allison Otto e Scott McElroy elaboraram o ousado projeto de realizar um filme sobre Elizabeth Hawley, conhecida como a guardiã das montanhas (e serviu de título para o filme).
Hawley foi durante muitas décadas a responsável por documentar, quase que exclusivamente, todas as ascenções no Himalaia de toda as expedições de alta montanha.
Utilizando outras palavras é ela que concede o “carimbo” que atesta a realização de cume ou não.
Que existe “mi mi mi” entre escaladores e montanhistas não é novidade para ninguém, e por isso Elizabeth é a responsável por dar a palavra final.
Palavra esta dada após escutar todos os lados e analisar fatos e fotos.
Figura mítica e detentora de várias “lendas pessoais” (leia-se fofocas sobre sua vida pessoal) Elizabeth Hawley é retratada em seu dia a dia, e comenta abertamente sobre fatos e acontecimentos de sua vida e de outros montanhistas.
Analisando o histórico de produções já realizadas torna “Keeper of the Mountains” um filme outdoor com uma ótica diferente, que procura documentar uma pessoa que não é necessariamente de montanha (e nem gosta de realizar atividades de montanhismo), mas que é figura histórica para o esporte.
Esta aposta dos produtores resultou em um filme com capacidade de agradar a todo o tipo de público: praticante ou não de esportes de montanha.
Predominantemente com narração em primeira pessoa, e de roteiro e edição impecáveis, o filme flui com naturalidade, sem perder ritmo em nenhum momento de usa exibição.
Declarações inesperadas e diretas como seu suposto romance com Edmund Hillary, o porque de sua solterice, a morte da mãe, a escolha do carro (usado até hoje), entre outras histórias faz do filme tomar ares de documento vivo do montanhismo mundial.
O filme serve ainda de inspiração para o público feminino, especialmente as mais feministas, pois fica evidente que mesmo com pouca divulgação Elizabeth Hawley é um exemplo a se seguir por todas as mulheres.
Todas as palavras proferidas por ela soam como ensinamentos sábios e valiosos.
Tão valiosos que Allison Otto e Scott McElroy souberam valorizar com um filme de igual valor.
Não seria exagero nenhum classificar “Keeper of the Mountains “ como um filme atemporal, que pode ser visto, e revisto, por várias gerações por anos e anos a fio.
Por todos estes elementos, “Keeper of the Mountains” certamente a seu final irá figurar como uma das produções preferidas de todos que assistir.
Nota do Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.