Para o público leigo sobre assuntos de escalada fica difícil entender qual a diferença entre as dificuldades de uma via “a” de uma “b”.
Difícil para eles também compreender o porque uma montanha “x” não é “difícil” que “y” que é mais baixa.
A peculiaridade dos graus de dificuldade é talvez a primeira disciplina que se deve compreender , e internalizar, quando se inicia ao esporte.
Partindo deste princípio, os produtores do filme “K2: Siren of the Himalayas” documenta detalhadamente todos os sonhos, esperanças e dificuldades de uma escalada à montanha K2, localizada no Himalaia.
Para quem não sabe o Monte K2 é uma montanha muito mais difícil de escalar que o Monte Everest.
O filme inicia descrevendo uma expedição ao local realizada em 1909 pelo italiano Luigi Amadeo(Duque de Abruzzi) na primeira grande expedição ao K2 a partir do diário de seu viagem.
A partir daí os principais personagens do filme Fabrizio Zangrilli, Chris Szymiec, Jake Meyer, Gerlinde Kaltenbrunner são apresentados e já explicam qual a motivação de ir escalar a segunda montanha mais alta do mundo.
Para eles, escalar o Everest é um esporte enquanto subir o K2 é totalmente outro.
Esta diferença é dada a discrepância de dificuldade entre os dois locais.
A comprovação desta afirmação pode ser comprovado por dados fornecidos durante a exibição como: em 2009 no K2 tiveram aproximadamente 302 cumes alcançados, enquanto no Everest 4559.
Caso seja mostrada a mortandade nas tentativas de subir ao cume o Monte K2 se mostra ainda mais assustador: em 2009 25% que tentaram cume morreram contra 5% do Everest.
Na introdução explicam com riqueza de detalhes e imagens que por lá enfrentarão um desafio grande.
Não há muito espaço para o turismo em alta montanha que o Everest está se tornando.
O filme , entretanto, se esquiva de mostrar a “farofa” que se tornou o campo base do Everest procurando focar mais no que é a montanha K2.
Uma atitude madura e acertada.
A partir de uma introdução muito bem detalhada, com diversos gráficos e fotos em alta resolução, o filme procura a todo o tempo transmitir a apreensão de se chegar até mesmo ao campo base.
Neste aspecto o filme mostra cenas de fazer o mais valente dos aventureiros sentir frio na espinha: caminhos com pedras rolando e local remoto sem nenhuma possibilidade de acidentes.
Acompanhado por narração em voz pausada e neutra, que é permeada por declarações de cada um dos integrantes, a a real tensão que existe em uma expedição de alta montanha é facilmente percebida.
Ainda há tempo para se fazer brincadeiras com o péssimo “Limite Vertical” realizado no K2 em que até mesmo explosivos foram levados ao topo da montanha no longa estrelado por Chris O’Donnell e que terminou por afundar sua carreira.
Todos os maiores pesadelos do praticante de montanha começam a pontuar partes do filme como colegas escaladores mortos, tentativas frustadas de cume(e a poucos metros de chegar) e avalanches próximas ao campo base.
Todos os aspectos geográficos como localização da montanha, e campos base são mostrados em gráficos em gráficos tridimensionais.
Estes recursos gráficos realizam boa didatica a quem não conhece a região.
Por possuir uma cadência um pouco mais lenta permitiu que o filme fosse exibido com tanto detalhamento de cada etapa de uma escalada em alta montanha.
Uma decisão tomada pelos produtores foi comparar a todo momento a escalada atual com os relatos da expedição de 1902 mostrou-se acertada.
Com ela, muitos detalhes de modernidade de equipamentos há entre hoje e a mais de 100 anos atrás, porém a dificuldade encontrada ainda é a mesma.
Apostando em realizar uma produção com uma trilha sonora discreta apostando no silêncio, sons de ventos fortes e o próprio barulhos da montanha o espectador fica envolvido a ponto de considerar-se parte da história.
Com isso, os pouco mais de 70 minutos de filme parecem voar dada a qualidade de roteiro e edição que conseguiram realizar um filme envolvente em todos os aspectos.
Próximo ao final ainda há uma relativa reviravolta a final do filme, o que deixa a produção mais ainda interessante.
Um outro ponto que se destaca em toda a exibição é a excelente fotografia das imagens.
A qualidade ali apresentadas mostra a preocupação de permanecer sóbrio e pouco deslumbrado do captador de imagens.
Por este detalhe o filme já se destaca de muitos outros que documentam a a escalada de alta montanha.
O filme “K2: Siren of the Himalayas” é sem dúvida nenhuma um “peso pesado” a premiações em festivais de filmes de montanha por onde for participar neste ano de 2013.
Importante lembrar ainda que o diretor Dave Ohlson realizou o filme usando recursos captados em “Crowd founding”, e pela qualidade do que entregou às pessoas que bancaram seu projeto, abre portas para outros interessados em realizar suas produções independente de grandes marcas patrocinarem.
Para toda e qualquer pessoa que gosta de praticar escaladas na modalidade de alta montanha terá sem dúvida nenhuma este filme em qualquer lista “top 5” que documentaram o esporte de maneira digna, verdadeira, e principalmente, com excelência.
Nota do Blog de Escalada:
Engenheiro e Analista de Sistemas, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha e Argentina. É totalmente dedicado ao esporte de escalada em rocha e é aficionado em filmes Outdoor. Para aproveitar melhor esta paixão fez curso de documentário na Escola São Paulo, além dos cursos de “Linguagem Cinematográfica” e “Crítica de cinema” e jurado do Rio Mountain Festival. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Espanha, Uruguai e Paraguai, Holanda, Alemanha e Canadá.