Existe um consenso de que um dos principais problemas da humanidade é a falta de comunicação.
A maneira com que a abordagem em qualquer tentativa de comunicação entre duas pessoas faz toda a diferença e por conta desta dificuldade existem vários casos de atritos gerados por “mal entendido” entre duas partes de um diálogo
Também é perceptível que não são poucas as pessoas inaptas em se comunicar abertamente e sem a menor intenção acaba por não transmitir o que o receptor captou.
Quando este tipo de debilidade chega à produção de obras audiovisuais, boas ideias acabam por naufragar fragorosamente ao ser apresentado ao público.
Este é o caso do filme “Humano”, um filme alardeado como uma produção ousada e que iria filosofar sobre perguntas simples como “de onde viemos?”, “para onde vamos” e assim por diante.
Acompanhada de pesado marketing digital, com website de visual arrojado entre outras pirotecnias prometia ser a produção um divisor de águas em filmes de montanha.
A produção documenta a viagem de um jovem argentino a um local nos andes para uma busca de autoconhecimento com um xamã o qual o conduz a uma jornada psicológica e espiritual para a sua transformação.
Durante a exibição são mostrados vários métodos de xamanismo andino, substâncias psicotrópicas naturais, além de vários rituais que visam a auto análise e reflexão sobre a civilização.
Nos seus pouco mais de 1h20min estes temas e situações recorrentes são pontuadas com animações de boa qualidade para descrever aquilo que não foi possível filmar.
O resultado final de toda esta química é em um filme tedioso, sem ritmo e que se arrasta desde o seu início, apoiando-se em uma história sem sentido nem profundidade.
É natural e compreensível que praticantes de atividades na natureza quando estão em uma viagem a lugares de beleza exuberante meditarem sobre o assunto de existência e sobre os rumos que tomar em suas vidas.
Não é incomum que estas mesmas pessoas abandonem a vida que possuem para uma busca de meios alternativos de viver.
O deslumbramento com lugares, culturas e natureza diferentes de nosso cotidiano é comum,e até mesmo necessário, para que a sanidade mental do ser humano seja mantida.
Durante a exibição de “Humano” é nítido que os produtores desejam avidamente transmitir a ânsia por respostas do protagonista. 
Mas somente com “boas intenções” não se realiza um bom filme, é necessário o desejo de passar ao menos uma mensagem e neste aspecto a produção naufraga.
Com imagens recorrentes que se assemelham entre si, e palavras jogadas a esmo pelo xamã de maneira repetitiva em alguns momentos o filme arrasta-se por mais de uma hora sem evoluir nem construir uma história ou mensagem.
O que existe na realidade é uma coletânea de pensamentos desconexos e declarações vagas do xamã para com o protagonista.
O filme “Humano” tem claramente um desejo latente de realizar uma mensagem edificante, mas falha profundamente.
O resultado de todos os ingredientes usados é que o trabalho de marketing digital realizado com perfeição e de um filme que está muito aquém do esforço gasto para divulga-lo.
Nota do Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.
São justamente, os motivos que o levaram a não compreender a mensagem do filme, é que estão acabando com a essência da humanidade. O que, inevitavelmente, nos levará a um esgotamento tão profundo, que seremos forçados, no futuro, a criarmos ou fazermos um arco de retorno no espaço-tempo, de volta para a busca desta essência. Alguns sempre souberam disso, como mostra o xamã, outros buscam por isso, alguns de nós já aceitaram estas verdades, outros, como você ainda não conseguem, devido ao apego a ilusão tecnológica e a egocentrismo elitizado, por arrogância e presunção, de que se é possível ir além de onde estamos, ou sermos mais do que já somos, uma ilusão tão profunda que, quase nos faz crer que a vida em si seja imperfeita,ou que a manifestação da vida seja um erro, e que, alguns de nós sejamos capazes de recriar a própria vida e, dar-lhe um sentido maior, do que ela já tem.
A mensagem do filme é a própria visão cosmológica do xamã; ela é um fim em si mesma. E esse é o motivo pela qual a etnologia ameríndia é tão fascinante para muitos ocidentais – é um jeito de contemplar e tentar compreender um conjunto de sistemas de pensamento e concepções de mundo que se formou durante milênios de maneira completamente apartada da nossa – cristã e ocidental (note que não falo de religião, e sim de cosmovisão). O utilitarismo faz parte da nossa cosmovisão; tem seus bons impactos e seus maus impactos. O utilitarismo nos proporciona confortos e otimização produtiva, mas pode nos afastar da essência das coisas mais elementares que nos define: a vida e a humanidade. Pode afastar porque é uma visão de mundo que faz minguar nossa sensibilidade. Descobrir cosmovisões diferentes da nossa é colocar esse utilitarismo em cheque, afim de resgatar uma forma de sensibilidade que está inconsciente dentro de nós.
Realmente concordo 100% com vc Stefaffanie. Achei o filme mto especial, simples, com fotografia e animações lindíssimos. Talvez quem fez essa crítica é evangélica ou de alguma religião que não o permite abrir os olhos para pensa/refletir sobre outros conhecimentos, neste caso a filosofia de vida andina. Se vc não e uma pessoa curiosa e pensante, vai ver outro doc qualquer.
Acredito que sua visão do filme como entediante e sem ritmo é justamente o fato de você não estar em sintonia com a visão de mundo que o filme mostra. Talvez seja um filme para assistir despido dos pressupostos da nossa civilização, sem julgamentos, e sim com ânsia de compreensão de uma cultura que tem um tipo de racionalidade que a maioria das pessoas da nossa cultura não consegue compreender por estar presa demais às noções de existência típicas da civilização ocidental. Talvez pareçam desconexas as reflexões pra você porque você ainda não conseguiu fazê-las, muitas pessoas já conseguiram. Assisti ao filme duas vezes, e em cada vez o filme foi capaz de me passar uma nova mensagem, simples, mas de uma riqueza imensa. Fico triste que você não tenha sido capaz de compreendê-la, pois é uma mensagem realmente transformadora de vida. Recomendo que você assista de novo, com menos julgamento e expectativa e mais introspecção e vontade de conhecer o novo, de aprender um pouco mais com uma cultura ancestral. Abraços.