Imagine o seguinte cenário: Uma região como Airuoca ser leiloada , em um evento cercado de suspeitas de corrupção e suborno. Obviamente algo não muito difícil de imaginar se levarmos em conta os acontecimentos políticos dos últimos anos.
Aliado a todos estes ingredientes, haviam protestos de uma grande multidão (e apenas isso), e mesmo assim o leilão segue em frente. Ignorando totalmente a pressão popular e a intensidade dos protestos.
Ao final do leilão as mineradoras de aço e carvão mineral poderiam explorar da maneira que bem entendesse (leia-se destruí-la à vontade). Isso porque as regras de exploração mineral na região eram muito brandas.
Porém um cidadão de brios e com determinação para não deixar acontecer o leilão,o americano Tim DeChristopher, conseguiu ter acesso ao leilão, e durante o evento começou a distribuir lances de alto valor, tirando a “vitória” das mãos das empresas de mineração e com isso impediu que mineradoras adquirissem o local.
Porém DeChristopher, óbvio, não tinha o valor de cada lance, e acabou sendo processado pelo estado por diversos delitos, e o resultado desta medida heroica, e desesperada, foi americano processado pelo governo dos EUA por desobediência civil.
Curiosamente o governo dos EUA decidiu, logo após o ocorrido, cancelar e suspender a venda do local às mineradoras por suspeitas de corrupção e ilegalidade. O local, assim, permanece intocado por mineradoras desde que o governo Obama assumiu.
Seria um final feliz de qualquer história pois oleilão foi cancelado, porém o processo contra Tim DeChristopher não.
O filme “Bidder 70” começa nesta linha do tempo: o instante em que DeChristopher começa a esperar por seu julgamento pelo que fez para proteger uma área natural e ameaçada.
Acompanhando reuniões com os advogados de Tim, declarações de sua mãe, e personalidades como o ator Robert Redford, o filme documenta a angústia da espera por seus julgamentos e apelações (que foram seguidamente negadas) por durante quase dois anos de espera.
“Bidder 70” consegue no seu decorrer levantar questões interessantes a respeito de ativismo ambiental e política ecológica, e até onde chega a sensibilidade do poder jurídico diante de uma situação peculiar.
Fica evidente ainda a inadmissível teimosia, além da intransigência, do governo americano em ignorar aquecimento global e questões ecológicas, se esforçando para fazer com que DeChristopher um exemplo para quem mais se opor à leis absurdas.
A tensão sufocante da impotência de um cidadão que realizou algo para o bem da sociedade ser processado, podendo ser até mesmo condenado à pena de 10 anos de prisão, é sentida aos poucos mas de maneira crescente.
Conduzido por uma direção competente o filme chega ao clímax que é o resultado de seu julgamento de maneira eficiente, deixando a garganta do espectador seca.
Entretanto mesmo de maneira discreta é documentado o nascimento de um novo líder político e militante ecológico.
Com muita lucidez, a cada declaração realizada para o filme, Tim deixa claro que sua figura pública terá cada vez mais força.
No decorrer de toda a duração de “Bidder 70“, a presença de DeChristopher em comícios, campanhas políticas e mesas redondas de eventos ecológicos são constantes e crescentes.
Tim em nenhum momento procura a reclusão, mostra força interior impressionante aliada a uma determinação digna de Che Guevara.
A história termina como todos já sabem: Tim DeChristopher foi condenado à prisão com uma pena absurdamente desproporcional à sua desobediência civil. (Porém no último dia 21 de Abril foi libertado após revisão de sua pena).
Pena esta outorgada por um juiz que rechaçou a todo todo o momento as questões de aquecimento global.
Os produtores também optaram pela sábia escolha de não mostrar nenhuma glamorizarão ou mitificação de seu protagonista. Afinal a criação de mitos pode ser uma faca de dois gumes, e o filme poderia até mesmo ser ridicularizado de acordo com o que poderia transformar seu protagonista.
Por ser um filme que agrega história interessante, roteiro bem escrito e drama real, “Bidder 70” sem dúvida deve ser visto por todos os “eco-chatos” que povoaram, e povoam, os esportes de natureza. Acima de tudo por todas as pessoas que possuem mentes binárias e somente conseguem visualizar o confronto e cusparadas como forma de discussão e persuasão de idéias.
Questões importantes sobre limites de ativismo, consequências de decisões contra a máquina do governo, e possuir uma consciência social de verdade são levantadas com eficiência e elegância. O próprio DeChristopher se pergunta se tudo o que fez poeria ser evitado, além de começar a acreditar que se esforçasse em jogar de acordo com as regras os resultados poderiam ser diferentes.
Para quem está cansado dos “eco-chatos” e entende que deve haver alguma maneira mais madura e menos aborrecida de fazer ecologia, “Bidder 70” serve como guia. Muito mais por ser um documentário sobre consequência de ativismo, e não somente sobre a importância dele.
Nota do Blog de Escalada:
Equipe da redação