O principal foco da grande maioria dos filmes outdoor que documentam o Tibet são os escaladores e seus desafios.
Poucos mostram que grandes escaladores, tidos como valentes e destemidos na verdade são assessorados pelos sherpas.
Estes são os carregadores nepaleses que levam grande volume da carga.
Escalar o Everest e outras montanhas do Nepal tem o seu mérito , e isso é inegável.
Por isso sempre o foco das câmeras estão nestes “ocidentais destemidos” e pouco nas pessoas e estilo de vida dos habitantes do Himalaia.
Pensando nisso a “Enigma filmes” procurou mostrar este outro lado da vida nas montanhas.
Com o filme “A Terra da Lua Partida”os diretores Marcos Negrão e André Rangel foram ambiciosos ao produzir um documentário totalmente narrado em idioma local.
Além de ter esta particularidade também contém trilha sonora original e que deixa evidente ainda o desejo de ser inovador dentre os filmes de montanha.
Conduzido a um ritmo lento, o que é pouco característico das produções do gênero, “A Terra da Lua Partida” se assemelha a documentários do “National Geografic Channel” realizados no fim dos anos 80 e início dos anos 90.
Não que isso seja defeito, na verdade é uma característica de estilo.
A única diferença desta referência talvez seja na ausência de uma narração impessoal ao fundo para conduzir o espectador aos dramas e enredo, além de facilitar a compreensão do roteiro.
A história principal gira em torno do anúncio de um habitante que irá sair da vida simples de nômade comum àquela região do Tibet.
A partir desta decisão é documentado com detalhes as reações de cada familiar a respeito da cultura local.
A partir daí o filme vai mostrando de forma discreta e com a intenção de ser poético cada aspecto da psique de cada habitante.
A escolha dos diretores de deixar cada personagem se apresentar por forma de diálogos como se a câmera não existisse proporcionou vários momentos em que , aparentemente, estão interpretando e não reagindo com naturalidade.
Alguns aspectos do filme mostram certa falta de refinamento com aspectos técnicos de filmagem como enquadramento e composição fotográfica.
A captação de imagens mostra possui imperícia evidenciada por excessos de closes nos rostos (técnica comum de filmes da década de 80) e esquecendo detalhes de mãos, pés ou sorrisos que poderiam ilustrar mais de cada personagem.
O filme a partir de sua metade começa a se arrastar devido ao roteiro não tão denso , e também por uma edição preocupada em mostrar muitas imagens ilustrativas entre cada diálogo.
“A Terra da Lua Partida” sem dúvida possui belas imagens, contudo é importante lembrar que não necessariamente significa boa fotografia.
Constantes tropeços nos quesitos de enquadramento e composição fotográfica o filme possui fica aquém do que poderia ofecerecer, não exploranto todo potencial da história.
Tendo um ritmo que incomoda o espectador acostumado à ação e tensão de escaladas o filme merece elogios sim pela iniciativa de mostrar um povo sofrido.
Entretanto ficou a sensação de que a certo ponto o desejo de ser reconhecido mais como filme artístico e menos como produção outdoor tira um pouco da qualidade filme poderia ter.
A pretenção de ser soprar ventos mais artísticos em filmes outdoor”A Terra da Lua Partida” merece elogios, entretanto está distante de romper barreiras e a arrebanhar título de “cult movie”, ficando aquém de sua potencialidade.
Nota do Blog de Escalada:
Engenheiro e Analista de Sistemas, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha e Argentina. É totalmente dedicado ao esporte de escalada em rocha e é aficionado em filmes Outdoor. Para aproveitar melhor esta paixão fez curso de documentário na Escola São Paulo, além dos cursos de “Linguagem Cinematográfica” e “Crítica de cinema” e jurado do Rio Mountain Festival. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Espanha, Uruguai e Paraguai, Holanda, Alemanha e Canadá.