Uma maneira eficiente de conseguir com que uma grande empresa ou uma grande marca consiga bancar projetos ousados é elaborar projetos que contempla expedições em lugares remotos.
Isso porque toda e qualquer tipo de expedição arregala os olhos de qualquer departamento de marketing.
Porém expedição não é a garantia de que a produção de filmes seja de qualidade.
Elementos fundamentais de realização de um filme como edição, roteiro, fotografia e divulgação são pontos chave para tornar-se referência no gênero.
Com muita ambição de criar uma superprodução os realizadores de “A New Perspective” foram bancados por patrocinador de peso (a empresa austríaca de bebidas energéticas Red Bull) o qual resolveu investir pesado no projeto de David Lama.
David Lama tem como projeto pessoal escalar em livre (sem uso de equipamento de escalada artificial) as vias mais icônicas do mundo.
Suas tentativas de escalada em livre Cerro Torre já foram difundidas (e discutidas) na mídia à exaustão.
Nesta etapa da realização de seu projeto vão até a “Nameless Tower” enfrentar frio, vento e neve para escalar um dos lugares mais bonitos e inóspitos do mundo.
Para realizar um filme de imagens impactantes convocaram o escalador e fotógrafo Corey Rich para utilizar seu talento nato na fotografia da aventura.
Inegavelmente o olhar e lentes de Rich concedeu à produção uma qualidade impressionante e que impacta positivamente.
Entretanto os produtores levaram muito com “mão pesada” a parte visual do filme, e deixaram de ter a mesma preocupação que tiveram com fotografia, em outros pontos importantes da produção como roteiro e edição.
Com esta despreocupação “A New Perspective” não aprofunda em detalhes dos personagens, insistindo desnecesssariamente na criação de “heróis gladiadores escaladores”.
Erro comum, e recorrente, de grandes empresas e publicitários que patrocinam e produzem filmes outdoor.
Por possuir um roteiro tão superficial a edição burocrática o filme possui um desenvolvimento de história afobado que passa a sensação de que a escalada foi de certa facilidade.
O que não foi o caso.
Os drones foram outro recurso não muito bem utilizado e se resumiu a poucas cenas não justificando o investimento no equipamento.
A fotografia do filme é sem dúvida exuberante, e tanto na tela do cinema quanto em televisão com qualidade Full HD agrada, mas não é suficiente para prender a atenção na história.
Mas como citado anteriormente a história em si é pouco desenvolvida.
O filme “A new Perspective” se mostra como mais uma obra que investe unicamente nas imagens belíssimas, mas possui praticamente nenhuma história relevante a contar e a ser lembrada pelo público.
A produção é um exemplo da recorrente artificialidade que peças publicitárias possuem em sua maioria e que, infelizmente, são confundidas com filmes outdoor.
Filmes tão superficiais e de apelo publicitário forte parece esquecer de que quem pratica esportes de aventura são pessoas e não especificamente Deuses heróicos.
Torna-se perceptível que em tomadas de imagens houve um desnecessário esforço de criar uma mitologia de heróis escaladores.
Os produtores parecem ter desconsiderado que escaladores que viram lendas são pelos feitos ao longo de um período, não por meio de um filme publicitário.
A conclusão que se têm desta, e de outras produções patrocinadas por grandes marcas, é que alguns marqueteiros ainda pensam como os frequentadores do Coliseu de Roma a mais de 2000 atrás quando à época a criação de gladiadores e grandes heróis era necessária para domínio intelectual da população.
Nunca é demais lembrar que praticantes de montanhismo, escalada e atividades outdoor são antes de tudo pessoas, com sentimentos e histórias pessoais e que parece ser sido deixado em segundo plano.
Um fato tão simples mas que parece que as grandes marcas e seus publicitários não conseguem entender.
Nota do Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.