Evolução humana e escalada: Estudo aponta caminho para melhorar desempenho

Estudar o comportamento de nossos ancestrais e espécies que habitam árvores pode contribuir para entender como melhorar o desempenho da escalada. Esta foi a conclusão de um estudo científico realizado pelo especialista em movimento Udo Neumann.

Você se lembra do desenho que aparece nas camisetas em que a evolução do ser humano é apresentada linearmente: de um macaco andando de quatro a um alpinista pendurado de uma mão em uma parede vertical? Precisamente essa ideia não está longe da pesquisa.

O estudo foi apresentado no Congresso Internacional de Pesquisa sobre Escalada, realizado em agosto passado sob o lema “Olimpíadas e Escalada: Rumo aos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020”. Com o título “Da locomoção arbórea de tetrápodes terrestres à escalada em humanos” (Legreneur, P., Neumann, U., 2018).

Parece complicado, mas não é tanto.

De onde surgiu a ideia

O objetivo desta pesquisa foi mostrar como os antecedentes do homo sapiens sapiens (uma subespécie do homo sapiens), como uma espécie que evoluiu de seres que se desenvolveram com habilidade nas árvores.

Estes antecedentes determinaram a locomoção que possuímos (o movimento que um ser vivo faz para se locomover ou mover seu corpo, ou parte dele, de um lugar para outro) e isso, por sua vez, afeta diretamente a maneira como escalamos.

Geralmente, o desempenho da escalada é estudado quando o atleta está treinando, ou em um ambiente competitivo, ou mesmo em condições laboratoriais padronizadas. Entretanto, o desempenho não é analisado do plano de sua evolução, ou seja, da relação entre o organismo e seu desempenho, como resultado de uma adaptação ao meio ambiente por centenas de gerações.

O que o estudo propõe?

O que o estudo propõe aprender observando animais que ainda agem “verticalmente” (como lagartos, sapos, pássaros, alguns mamíferos) e reativar as habilidades “latentes” em humanos. Esta reativação promoveria o movimento vertical e, consequentemente, melhoria a escalada.

Este tipo de abordagem não é algo novo em outras áreas do esporte. A biomecânica do esporte estuda as ações físicas realizadas por outros seres vivos, a fim de melhorar o desempenho dos atletas.

No estudo há a citação abaixo:

“O humano é uma espécie cujo seus ancestrais eram arbóreos. Portanto, seu sistema musculoesquelético é projetado para correr, subir e pular nas árvores.

Esses modos de locomoção são semelhantes aos de outras espécies arbóreas modernas.

Portanto, estudar essas espécies em seu ambiente, nos permite entender a coordenação ótima necessária para a realização da locomoção arbórea e, portanto, o desempenho na escalada, pois são o resultado de milhões de anos de evolução”. Estudo da Locomoção de Árvores de Tetrápodes Terrestres, para Escalada em Humanos.

Como isso pode ajudar no desempenho da escalada?

Estudos Científicos são pesquisas realizadas para comprovar ou refutar uma hipótese, desenhada a partir de alguma questão, geralmente um problema. Um artigo científico é o resultado de um estudo realizado e comprovado através do método científico.

Portanto, não é apenas um “achismo”. Para a elaboração de um artigo científico é necessário a realização de diversos testes, observações e análises. Alguns Estudos chegam a durar anos, até décadas. No estudo de Legreneur e Neumann, concluiu-se que a análise da evolução pode ajudar no desempenho na escalada da seguinte maneira:

Locomoção: estudar o tipo de movimento das espécies que vivem nas árvores ajudaria a descobrir como um escalador pode melhorar seu desempenho.

Uso de energia: o uso de energia aplicada por uma espécie que vive nas árvores não é o mesmo em caso de fuga de um predador, que caçar ou simplesmente se deslocar do local. Além disso, o uso dessa energia é geralmente ideal. Algo que é transcendente, por exemplo, quando um escalador deseja encadenar uma via.

Coordenação: as espécies que habitam as árvores geralmente têm uma coordenação ideal para obter sucesso em seu movimento através dos galhos.

A gama de resultados que poderiam ser obtidos com esses estudos é muito mais ampla e profunda do que aparenta. Analisando o tipo de movimento de diferentes espécies (tempo, força, etc.), suas características fisiológicas (extensão dos dedos, mãos, braços), posição do corpo, inibições nervosas que são ativadas de acordo com as diferentes circunstâncias, é possível otimizar o movimento de escaladores.

Talvez este seja o futuro da escalada de alto nível? Provavelmente sim. Do ponto de vista biológico e evolutivo, a locomoção vertical é crucial para a sobrevivência de muitas espécies. Quanto a isso os escaladores entendem melhor do que ninguém.

Para ler o estudo científico: https://pdfs.semanticscholar.org

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