Esportes de montanha no inverno: Conheça 5 questões fundamentais sobre o frio

Está chegando o inverno na América do Sul. Pouco antes da estação do ano começar, uma verdadeira inundação de notícias falsas e boatos foram espalhadas pela internet. A principal delas era de que o inverno de 2018 no Brasil vai ser o mais frio em 100 anos. Sites especializados em checagem de fatos logo desmentiram esta notícia. Obviamente há aquelas pessoas que se recusam a raciocinar sobre o que especialistas sabem sobre o assunto, optando por desejar a qualquer custo acreditar em uma notícia.

O fato é que, ao contrário das informações que estão circulando, meteorologistas afirmam que o inverno de 2018 está longe de ser o mais frio do século ou, sequer, da última década.

Foto: Acervo pessoal Freddy Duclerc – tirada na noite que fez -8ºC

Mas muito frio, ou não, quem pratica esportes de montanha deve prestar atenção a algumas questões consideradas fundamentais. Saber estas questões demanda certo tempo de estudo e, evidentemente, não tem nada a ver com um praticante ser “experiente” ou não. Todos os anos há muitos montanhistas “experientes” que se arriscam a ir para a Patagônia, tanto na Argentina quanto no Chile, com peças de roupas inadequadas. Ter, ou não, experiência em nada evidencia a mais importante das qualidades de um montanhista: a inteligência.

Procurando valorizar os praticantes de atividades de montanha, as principais questões sobre o frio foram reunidas para uma rápida revisão do conteúdo. Grandes partes delas foram coletadas a partir de livros de escolas de montanha da Espanha, Chile e Argentina.

Todo montanhista corre risco de hipotermia?

Sim, todo montanhista corre risco de hipotermia. Este risco é potencializado à medida que o praticante é displicente com a sua própria indumentária e alimentação. A Hipotermia acontece quando nosso corpo não consegue mais produzir calor suficiente e a temperatura corporal cai abaixo dos 35ºC .

Isso pode acontecer devido a várias situações, as mais comuns são: uso de vestimentas inadequadas, esgotamento físico, exposição ao vento e baixas temperaturas, imersão em água, uso de drogas e álcool dentre outros.

  • Hipotermia Leve: O primeiro sinal é uma tremedeira que o indivíduo não consegue controlar, seu corpo esta gelado e frio seus músculos se contraem, apresenta uma conduta pouco característica.
  • Hipotermia Moderada: As extremidades estão frias, podem acontecer câimbras apresenta uma mudança na sua conduta e o nível de consciência começa a baixar, apresenta falta de coordenação motora.
  • Hipotermia Grave: A temperatura corporal cai abaixo dos 33ºC não apresenta mais tremores, a vítima apresenta apatia sem nenhum estímulo o que leva a vítima a um quadro onde seus sinais vitais como pulso e respiração ficam mais lentos.
  • Hipotermia Profunda: A temperatura da vítima esta abaixo dos 31ºC as extremidades estão geladas e rígidas, a vitima entra em um estado de inconsciência, os sinais vitais vão diminuindo sua frequência, as pupilas estão dilatadas e fixas, o próximo passo acaba sendo a morte.
  • Hipotermia por Imersão: Nos casos de hipotermia por imersão as vítimas perdem calor 25 vezes mais rápido quando estão na água, à grande maioria acaba se afogando antes de ser socorrida, um colete salva-vidas é fundamental para sobrevivência da vítima.

Existe algum truque para manter-se aquecido?

Foto: Brian McCurdy – http://www.brianmccurdyphotography.com/

O melhor truque para manter-se aquecido no inverno, é usar uma roupa adequada. Montanhista que não conhece, e não usa, o sistema de camadas é um fortíssimo candilado a passar dificuldade na montanha. Todo e qualquer montanhista que passa dificuldades na montanha por conta de sua negligência com a própria segurança denota possuir uma acentuada falta de inteligência.

Uma outra boa prática para manter-se aquecido é saber se hidratar corretamente. Abdicar completamente de bebidas alcoólicas é uma boa estratégia, visto que ela além de não aquecer também desidrata. O consumo de água sempre será o mais importante em qualquer exercício. A água serve para manter os músculos bem hidratados para que exista uma contração muscular adequada, além de ajudar a prevenir lesões, pois funciona como um lubrificante nas articulações, tendões e músculos. Por isso, caso seja possível, para aquecer aproveite para consumir chás, preferencialmente com baixo teor de cafeína.

A revista Human Brain Mapping publicou um estudo que afirma que a desidratação afete negativamente o cérebro, e portanto corrige negativamente mostra atividade intelectual. Se uma hidratação correta influi diretamente no funcionamento do corpo, também sua influência na mente. Os processos mentais que intervêm no pensamento sofrem alterações como consequência da desidratação.

Quando possível, ficar exposto ao sol é uma clássica estratégia. Mas esta exposição não deve ser prolongada e, preferencialmente, após passar protetor solar no rosto e partes do corpo expostas na montanha. A potência dos raios ultravioleta aumenta de acordo com a altitude porque há menos atmosfera para absorvê-los.

Estudos a respeito do fator de aumento de exposição a esta radiação foram realizados e chegou-se a conclusão que a cada 300 metros de altura o risco aumenta em até 5%. Assim em um lugar, como o Pico dos Marins (2.420 m) a incidência de raios UV aumentam 40%. Este fator de risco aumenta quando estamos em algum pico nevado.

Existe algum medicamento que evita congelamento das extremidades?

Mais ou menos. O que existe de remédio neste aspecto são os vasodilatadores, pois este tipo de medicação aumenta o fluxo de sangue às todas partes do corpo. Consequentemente, as partes mais suscetíveis de sofrer congelamento são irrigadas mesmo em baixas temperaturas. Alguns destes medicamentos ajudam no tratamento de patologias como embolia pulmonar (causada pela obstrução das artérias dos pulmões por coágulos).

Há muitos suplementos para academia que podem auxiliar o aumento da produção de vasodilatadores naturais, como o óxido nítrico (NO). Eles são os suplementos vitamínicos minerais que contêm em sua composição alguns aminoácidos.

Mas é importante lembrar que altos níveis de saturação de oxigênio no sangue não implicam, necessariamente, em boa aclimatação, nem quer dizer que estão mascarando os sintomas do Mal Agudo de Montanha (MAM). Isso porque uma pessoa com MAM, inevitavelmente, vai ter dor de cabeça, vômitos, insônia, etc.

Como me preparar para qualquer imprevisto?

Foto: Breno Botelho

Saber como atuar em situações de emergência é essencial para todos os praticantes de atividades ao ar livre. Saber identificar, avaliar e tratar de lesões, ferimentos e doenças utilizando técnicas específicas podem fazer a diferença entre a vida e a morte, principalmente quando estamos a quilômetros de um hospital é imprescindível.

Na década de 1980 são criadas várias associações médicas voltadas aos atendimentos médicos em locais remotos como a Wilderness Medical Associates (WMA) e a Wilderness Medical Society (WMS ) entidades que tem como objetivo pesquisar e desenvolver estudos sobre assistência médica em locais remotos. No Brasil os cursos WFA ainda são pouco difundidos e conhecidos pelos praticantes de atividades ao ar livre, são muito poucas as entidades ou centros de treinamento que estão habilitados e certificados a ministrar esses cursos no Brasil.

Da mesma maneira que não se deve acreditar nas primeiras notícias a respeito de algum assunto de seu interesse, sem ao menos chegar a fonte, informações a respeito de primeiros socorros e técnicas de escalada também.

There are 2 comments

  1. Luiz Miné

    Muito instrutivo, gostei bastante, as dicas foram bem interessantes, mas uma boa estratégia que eu acho que deveria ser abordado tambem é o planejamento das expedições considerando a época do ano… muitos “inesperientes” focam em temporadas baixas e promoções de passagens aereas, deixando de priorizar a estação do ano…. é só uma opinião minha. valeu!

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