Escalando pelo grau: Como superar a obsessão que transforma escaladores em radicais e extremistas

Radicais e extremistas não se enxergam como sendo uma pessoa com essas tendências, mas sempre como “uma pessoa de bem”. Com absoluta certeza, especialmente nas redes sociais, os próprios radicais e extremistas já começaram a deixar mensagens agressivas sem refletir sobre si, nem tampouco ler este artigo, sempre usando a manjada estratégia de argumento ad hominem, típica de quem não possui argumentos.

Esses radicais e extremistas são indivíduos tão cegos pela passionalidade, que a racionalidade é reprimida a todo tempo e acaba se esfarelando. Mas por que designar o termo ‘radicais’ ou ‘extremistas’ a escaladores que medem o valor das pessoas (e o seu próprio) somente pelo grau de dificuldade que escala?

Para o (a) leitor (a) menos passional parece desnecessário responder a essa pergunta, mas o fato é que o valor de uma pessoa, assim como a sua dignidade humana, não pode (nem deve) ser medido somente pela dificuldade de uma via de escalada que consegue subir. E é exatamente isso que fazem os radicais e puristas da escalada ao classificar o valor de uma pessoa ao grau que um indivíduo escala.

É importante lembrar que o valor essencial de um indivíduo é o seu respeito à dignidade humana. Mas, infelizmente, esse é um conceito utópico que vem sendo distorcido pelos xerifões da escalada, que são aqueles que se comportam como senhores feudais em seus grupos de WhatsApp. Os mesmos xerifões que, repito, insistem em deixar mensagens agressivas (que devem estar escritas pelas redes sociais e neste artigo) porque desconhecem o uso da racionalidade e desacostumaram a usar grande parte do cérebro.

Como se comportam os radicais e os extremistas

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Para saber trabalhar a obsessão em torno de atingir o grau escalado, é importante identificar se o grupo (virtual ou não) o qual o indivíduo faz parte (não somente de WhatsApp) é extremista e com pensamentos radicais a respeito da vida. No caso da escalada, o extremismo é identificado pela mentalidade binária (ou algo é bom, ou algo é ruim, não existindo meio termo) e pela obrigatoriedade de ou amar, ou odiar, determinados indivíduos, teorias, veículos, preferências dentro do próprio esporte.

Mais claramente: se nesse grupo é comum a prática de se unirem para atacar pessoas e, constantemente, fazer expurgos internos (ou seja, sempre os integrantes estão ‘pisando em ovos’ temendo de que em algum momento pode não ser considerado ‘bom o suficiente’) e que cada elemento do grupo tem de ser ‘violento o suficiente’ contra o ‘inimigo’, já carateriza que o grupo é formado por radicais e extremistas.

Aliás, que fique claro que todo pensamento purista é, em sua essência, o caminho mais rápido para a radicalização. Mesmo dentro de um esporte, como a escalada. Todo purismo leva ao extremismo e ao radicalismo.

Se cada elemento do grupo (virtual ou não) deve ‘atacar de maneira suficiente’ outras opiniões contrárias à linha de pensamento vigente, ou mesmo ‘elogiar o suficiente’ os ‘escolhidos’ para serem idolatrados no grupo, já caracteriza que processo de radicalização está em andamento. Nesses grupos radicais, sempre há quem está acima de críticas e quem é indigno de elogios.

Para estes ‘escaladores radicais’, há a ideia pré estabelecida de que para fazer parte do grupo, os integrantes devem atingir um ‘nível de suficiência’, que nesse caso é o valor do grau escalado. Qualidades como honestidade, postura diante da sociedade, inteligência e educação ficam em segundo plano.

Esse ‘grupo radical’ é também movido por expurgos, sempre com acusações genéricas (geralmente sem provas) apenas com o intuito de eliminar quem se considera ‘inimigo’ e preservar quem tem comportamento ‘adequado’ à filosofia de busca e conservação de um purismo cada vez mais inatingível. Em termos modernos, são adeptos à ‘lacração’ de quem queira discutir um assunto polêmico.

Se no ‘grupo radical’ a questão da dignidade humana é tratada com desdém, pois no grupo somente alguém somente é digno (a) se ele (a) concorda com as ideias radicais do grupo, fomentando ainda mais a radicalização. Isso porque o ‘grupo radical’ não reconhece o fato de que a dignidade humana é inerente ao ser humano, e inegociável (como por exemplo escalar na graduação que quiser).

Sim, todo aquele que condiciona a dignidade humana a algo como o grau de escalada, e que condiciona o respeito à dignidade humana à adesão de determinados valores, é um radical e extremista. Seja ele de escalada ou mesmo praticante de Reiki.

A obsessão dos graus

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Não é fácil lidar com dificuldades. Não importa como você o faça, escalar se torna muito mais divertido quando você se sente forte. Isso é um fato.

As escaladas mostram ao escalador sua habilidade em certas situações. Se você escalar por tempo suficiente e se importar profundamente por tempo suficiente, será difícil escapar da armadilha de valorizar o grau. Como escapamos dessa armadilha?

Comece refletindo sobre porque começou a escalar. Uma pergunta que provavelmente terá muitas respostas. Os graus de escalada oferecem ao escalador uma métrica que parece medir o esforço é o progresso no esporte. Dessa forma, eles se tornam viciantes.

Ainda assim, se lembrar dos outros motivos pelos quais começou a escalar, talvez possa refletir sobre o amor pelo esporte. Caça as seguintes perguntas:

  • Você amou estar na natureza?
  • Você se sentiu atraído pela comunidade?
  • Como o treinamento o fez evoluir?
  • Você gostou de encontrar um esporte onde pudesse ter um verdadeiro tempo sozinho?
  • Você gostou ter um nível de foco incomparável?

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Seja qual for as respostas, tente ponderar sobre o grau escalado e o prazer que sente. Qualquer um que percebe que tem um problema com a maneira com a qual encara a graduação de vias na escalada, também percebe que a solução desse problema vem de outros aspectos do esporte.

Dizer que a graduação na escalada só contribui para uma parte da escalada, pode não parecer muito útil. Pense na graduação das vias de escalada como algo que contribui para o esporte, em vez de ser o único motivo para escalar.

A progressão na graduação é fácil quando se começa a escalar, porque o iniciante tem que usar músculos que nunca usou antes. Portanto, um escalador só pode melhorar, mas o limite muda. De repente, três sessões de duas horas por semana não o deixam destruído da mesma forma que quando você escalou uma via fácil.

Muitos escaladores acham que deveriam ter se tornado mais fortes neste ponto de sua carreira, mas o que isso significa? Mais forte do que quem? É importante reservar um tempo para refletir se você se compara a outros escaladores ou a você mesmo.

A comparação destrói o prazer de uma pessoa pelo esporte e, com as redes sociais, tornou-se extremamente difícil de evitar. Você pode ver outra pessoa com seu tipo de corpo passeando no seu projeto, mas nunca vê os outros aspectos de sua vida.

Você nunca vê o plano de treinamento dessa pessoa. Se tudo o que ela fizer for escalar, então sim, provavelmente irá evoluir mais rápido do que você. Se escalasse exclusivamente, melhoraria mais rapidamente também.

Aproveite então para ter um interesse fora da escalada. Quer esse interesse venha de um trabalho, de seus estudos ou de algo artístico. Mas encontre aquilo em que possa se dedicar quando escalar não for possível para você.

Mas mais importante de tudo: escale com pessoas que tornam a escalada divertida a você. Que não sejam os puristas radicais que pululam na escalada a todo tempo. Algumas pessoas ficam com receio de escalar com outras devido ao fator de comparação, mas um bom parceiro de escalada sempre considerará sua última escalada boa.

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