A escalada no final do século passado mudou sua estrutura com o surgimento das paredes artificiais, processo conhecido por “esportivização” do montanhismo. Ela então passou a seguir as normas do esporte moderno, com a competição, o marketing, a mídia, o dinheiro, o treinamento, o resultado, a ciência. Estes ideais vêm do princípio dos jogos olímpicos da antiga Grécia, em que o “agon”, isto é, a disputa pela vitória até o agonismo do adversário é o objetivo principal. Aqui só a vitória interessa.
Porém a escalada parte de um conceito distinto, conhecido como “ilinx” cujo o objetivo é o enfrentamento dos riscos da natureza através da auto superação. Esta tarefa na escalada carrega características de cooperação, união, confiança e compartilhamento de dificuldades para atingir metas comuns. Qualquer escalador, ou escaladora, que já esteve numa cordada identifica a importância do parceiro numa guiada.
Dilema
Este espírito do montanhismo deve prevalecer agora, quando as entidades representativas da categoria ABEE e CBME estão à frente de um dilema.
Por um lado, a ABEE é a representante legal dos atletas brasileiros principalmente se a intenção forem as competições internacionais. Cabe a ela definir as regras para a participação dos atletas e o fomento de um campeonato que selecione os melhores para a Olimpíada, Mundiais e outras competições fora do país.
Por outro, a CBME deve seguir ampliando a prática de escalada no país com segurança e preservação ambiental, mas além disso deve utilizar eventos, inclusive competitivos para difundir a cultura da escalada.
Neste momento, uma disputa, ou “agon” entre elas não vai favorecer o esporte. É momento de abrir diálogo para encontrar consensos que favoreçam os praticantes, pois:
- A participação de atletas filiados à ABEE em outros eventos aumenta a comunicação da escalada na mídia.
- Grandes atletas são estímulo para os jovens que estão iniciando e que nem sempre podem estar presentes em eventos oficiais da ABEE.
- Os eventos que podem ser homologados devem facilitar a participação desses atletas de maior prestígio.
- A criação de copas de escalada pela CBME deve ser estimulada pela ABEE para aumentar o número e a qualidade dos eventos em todo país, pois a CBME tem Federações em vários estados e muitas pessoas para ajudar nessa organização.
- A futura participação do Brasil nas Olimpíadas e Mundiais depende do surgimento de jovens atletas que hoje tem apenas 5 ou 6 anos e que se envolverão com o esporte se houverem eventos fortes e com toda a comunidade envolvida.
Reflexão
Por fim, não gostaria de ver o mau exemplo de outras modalidades chegar à escalada e seguem alguns exemplos para reflexão:
No Brasil a maior dupla do remo deixou de disputar um mundial com chance de recorde, porque a Confederação não se entendeu com o patrocinador dos atletas.
Além disso, o skate está com problemas para indicar os atletas olímpicos porque a Confederação associada ao COI não é a CBSK.
A natação brasileira teve grande investimento para as Olimpíadas, mas o resultado pífio pode ser creditado aos dirigentes que são acusados de desviar dinheiro.
As Olimpíadas Rio 2016 deixaram legado para poucas modalidades apesar do investimento.
Um abraço a todos e boas escaladas.
Dimitri Wu é Escalador, professor do curso de Educação Física da UNINOVE-SP, doutorando em Educação, autor dos livros Escalada e Pedagogia da Aventura
Parabéns pelo blog!!