Escalada no Dedo de Deus: Um relato de viagem de uma das mais tradicionais escaladas brasileiras

O Dedo de Deus, com seus 1.692 metros de altitude está situado na Serra dos Órgãos, carregando a fama de ser um dos ícones do montanhismo no Brasil, foi conquistado pela primeira vez em 1912 pela via Teixeira. Atualmente a montanha possui várias vias de escalada até o cume. Uma das mais famosas é a linha da face leste, que possui duas linhas: Diedro Blackout e variante Maria Cebola.

Foto: Camila Reis

Escalar esta montanha sempre foi um sonho, depois de algumas pesquisas e conversas com os amigos escaladores Camila Reis, Flávio Silva e Igor Melo da Summit Ginásio de Escalada, decidimos formar as duplas e tentar escalar o Dedo de Deus pela variante Maria Cebola.

Foto: Igor Melo

Chegamos em Teresópolis e fomos direto para a casa que seria nosso abrigo. Aproveitamos o resto do dia para descansar, separar os equipamentos e pegar as últimas dicas com o escalador local que nos alugou a casa.

O Dedo de Deus é um pico de escalada muito frequentado, em muitos casos chega a dar fila de escaladores. Sabendo disso, saímos do abrigo bem cedo, e com a lua cheia clareando o horizonte já conseguimos ver a silhueta do Dedo de Deus.

Foto: Marcelo De Paula

A aproximação é dividida em duas partes, uma trilha de dificuldade moderada para difícil e alguns lances em artificial com cabos de aço. Chegamos a base dos cabos de aço com o dia amanhecendo e para nossa surpresa, na nossa frente tinha um exército com 25 soldados em treinamento de montanha.

Por sorte, os treinamentos do exército não focam na escalada como esporte, e sim na ascensão da montanha, ou seja, os soldados subiriam usando as cordas fixadas pelo primeiro escalador do grupo, o que não atrasaria muito.

Dedo de Deus

Foto: Marcelo De Paula

Começamos a subir pelos cabos de aço e depois de alguns lances em artificial chegamos ao polegar do Dedo de Deus, onde começa a escalada da face leste.

Fizemos uma pausa no polegar para esperar até que os 25 soldados ganhassem mais distância. Deste ponto dava para ver que alguns já estavam na variante Maria Cebola (3ª cordada), e mesmo de longe dava para ver que aquela cordada seria um dos “perrengues” da escalada.

Dedo de Deus

Foto: Marcelo De Paula

Aproveitamos o tempo parado para combinar o revezamento das guiadas e para minha felicidade, Camila pediu para guiar a variante Maria Cebola, mas para isso eu teria que guiar as duas primeiras cordadas. Nem preciso dizer que aceitei a oferta na hora ? Deixamos a dupla Igor e Flávio começarem e logo em seguida comecei a primeira parte da via.

As duas primeiras cordadas foram tranquilas e não demoramos muito para chegar na segunda parada e analisar mais de perto a tão falada Maria Cebola. Logo que a primeira dupla começou escalar, descobrimos que além de exposta, a cordada é completamente sem comunicação com o segurança.

Foto: Marcelo De Paula

Apesar da exposição, passamos por essa cordada sem muitos perrengues, e logo conseguimos ver a chaminé da próxima cordada.

Quando consegui entrar na chaminé e ver mais de perto, percebi que a variante Maria Cebola era o menor dos nossos problemas, a próxima cordada dentro da chaminé é ainda mais exposta que a anterior.

Apesar de muito exposta, a chaminé foi facilmente escalada primeiro pelo Flávio, que por segurança, achou mais prudente montar uma TOP Rope (técnica de escalada com a corda já fixada no topo da via) para os demais participantes.

Foto: Marcelo De Paula

Continuamos o revezamento das guiadas e depois de mais duas cordadas, chegamos a base da escada que da acesso ao cume por volta das 15:00.

Chegamos ao cume com a alegria de uma criança que acaba de ganhar um brinquedo novo de Natal. A vista é linda, um mirante 360º para a Serra dos Órgãos e os picos ao redor do Dedo de Deus.

Camila e Flávio disseram que conseguiram ver o mar na cidade do Rio de Janeiro, acho que de tão eufórico, não reparei neste “detalhe”.

Foto: Marcelo De Paula

Livro de cume assinado, fotos tiradas e vídeos gravados, hora de iniciar o rapel da volta, que foi feito pela via Teixeira. Depois de quatro rapeis curtos, chegamos a trilha e começamos a caminhada de volta. Descemos a trilha completamente anestesiados pela sensação única que foi escalar o Dedo de Deus.

Chegamos no carro as 20h30 e completamente sem energias, fomos direto a uma pizzaria comer e brindar o cume do Dedo de Deus.

Foto: Marcelo De Paula

Escalar o Dedo de Deus foi uma das escaladas de aventura mais bonitas que fiz nos últimos tempos, requer sintonia, foco, resistência e muita paciência para lidar com os contratempos da escalada. Mas como sempre, valeu a pena.

Um agradecimento pela sintonia dos amigos e parceiros de escalada Igor Melo, Camila Reis e Flávio Silva.

Que venham os próximos cumes!

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