Escalada em rocha (sim, tocar as rochas) pode potencialmente espalhar o coronavírus

Após um grupo de escaladores saírem da cidade de São Paulo, durante plena quarentena, para escalar em Santa Catarina, muita discussão aconteceu nas comunidades. Sobrou argumentos baseados em opiniões, mas praticamente nenhum fato concreto e científico nessas discussões.

Procuradas, as marcas que patrocinam e apoiam escaladores desse grupo se omitiram e não responderam aos contatos da Revista Blog de Escalada. Entretanto, também não publicaram qualquer coisa sobre uma suposta conquista alardeada pelo grupo em redes sociais.

O grupo, por meio de redes sociais, publicaram justificativas baseadas em opiniões pessoais. Mas o fato é que São Paulo é o epicentro da pandemia no país que, até o momento, já vitimou 45.467 mortes por coronavírus em todo o Brasil.

Somente no estado de São Paulo, onde vive o grupo, mais de 11.132 pessoas já morreram de COVID-19. A quarentena imposta pelo governo estadual desde 15 de março, fechou escolas, academias e estabelecimentos comerciais considerados não essenciais.

A Revista Blog de Escalada procurou a médica infectologista Milena Costa, que já gravou um podcast falando sobre o tema, para saber sobre o problema de infecção em locais de escalada. “Se alguém carregando o COVID-19 tocar na rocha, tossir ou espirar nela, há evidências científicas claras sugerindo que, sim, o COVID-19 pode contaminar a rocha, plástico ou qualquer superfície”.

Um estudo citado pela revista norte-americana The Alpinist, revela descobrimentos de pesquisadores da Princeton University e UCLA que examinou a estabilidade de superfície ao COVID-19. Os resultados desse estudo foram publicados na New England Journal of Medicine em 17 de março.

O estudo relatou que em testes de COVID-19 realizados em aço, cobre, papelão e plástico ainda era infeccioso após ser deixado por 72 horas. Não persistiu tanto tempo em papelão e cobre (que foi um dia ou menos). Os cientistas não testaram em rocha, mas é consenso entre os pesquisadores que os resultados não sejam muito diferentes.

Um resumo do estudo pode ser encontrado aqui.

O artigo da revista The Alpinist, cita uma declaração de Thomas Friedrich, um virologista da Escola de Medicina Veterinária da University of Wisconsin–Madison, o qual também é escalador. Friedrich concordou que a propagação da doença em rocha é possível. “Se uma pessoa infectada toca o nariz ou a boca durante uma via, o vírus fica em suas mãos e depois em outras coisas em que toca, incluindo agarras de escalada”, afirmou Thomas Friedrich.

Ambos os pesquisadores disseram que uma ação mais importante para os escaladores é simplesmente não se reunir em falésias ou em qualquer tipo de ambiente comunitário de escalada. O ponto principal é que devemos evitar grupos de pessoas por um tempo”, disse Friedrich à The Alpinist.

“Pense dessa maneira. À medida que o número de casos aumenta exponencialmente (como na cidade de São Paulo), podemos chegar a um ponto em que, digamos, uma em cada 20 pessoas está infectada. Isso significa que, se você estiver em algum lugar onde vinte pessoas se reuniram, é muito provável uma pessoa está infectada e pode espalhar o vírus para outras. Essa é a situação que estamos tentando evitar”, completou Thomas Friedrich para a revista The Alpinist.

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