Conquista de coreana de 15 anos evidencia ascensão de atletas da Coreia na escalada

Responda rápido: Qual é o país com escaladores (as) mais fortes nas competições da atualidade?

Quem ainda possui como referência atletas de 10 a 15 anos atrás, irá responder que é França, Espanha, Itália, Áustria e Inglaterra. Se ainda estivéssemos em 2006, a resposta estaria correta, pois nesta época, quando até mesmo o Brasil, que comandava o cenário de competições e conquistas na América do Sul, considerava muitos dos atletas destes países as pessoas a serem vencidas.

Entretanto, hoje as competições de escalada já fizeram a sua estreia olímpica nos Jogos Olímpicos da Juventude e muito em breve será atração nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Em outras palavras: o mundo da escalada esportiva mudou, e muito, desde 2006.

O retrato dos escaladores favoritos hoje é outro, e quem afirmar o contrário está simplesmente negando a realidade. As principais potências de escalada esportiva hoje são, sem dúvida, Japão e Eslovênia. Porém uma outra escola desponta correndo por fora: Coreia do Sul.

Os escaladores coreanos

A principal evidência de que a Coreia do Sul possui atletas de ponta, pode ser vista nas competições de vias guiadas deste ano. Praticamente “surgida do nada”, a escaladora coreana de apenas 15 anos Chaehyun Seo venceu a etapa. Detalhe: esta foi a segunda competição de Seo entre os adultos em sua vida. A primeira vez que competiu, mas ficou em segundo lugar, perdendo apenas para Janja Garnbret, que é talvez a melhor escaladora esportiva de todos os tempos.

O sucesso da Coreia do Sul não fica restrito apenas à Chaehyun Seo, mas outra escaladora também frequenta os primeiros lugares há tempos: Jain Kim. Kim já ficou em primeiro lugar em uma etapa da Copa do Mundo de 2018 do IFSC, que foi realizada em Kranj, na Eslovênia. Com mais de duas dúzias de vitórias em etapas da Copa do Mundo de Escalada, Kim é também uma celebridade esportiva dentro de seu país.

Foto: Stanko Gruden/STA

Toda esta publicidade em torno da escalada na Coreia e o status de celebridade de Jain Kim não é à toa. A coreana é ativa com a comunidade local e, ao contrário de vários atletas escaladores patrocinados, mantém contato com todos os escaladores de seu país, orientando-os e dando conselhos. Este compromisso com o esporte e a comunidade, que às vezes parece incomum para atletas de alto nível, parece valer a pena na Coreia.

Ao longo dos anos, os contratos de patrocínio da Jain incluíram marcas como La Sportiva, Spyder, The North Face e Red Bull, mas ela também teve acordos de patrocínio com a SK-II, uma empresa coreana que fabrica produtos de beleza e cuidados com a pele e com a marca de eletrônicos coreanos LG.

Jain Kim | Foto: SonStar | https://www.redbull.com

A reputação de Kim na Coreia do Sul não seria tão discreta se a Coreia do Sul, um dos países mais ricos em mídia do mundo, não fosse rápida em devorar qualquer conteúdo relacionado à escalada. Atualmente faz parte da cultura coreana abraçar tanto do tradicionalismo quanto o modernismo.

O Korea Herald, um dos principais jornais do país, reconheceu o crescente interesse pela escalada e afirmou: “Possivelmente, a melhor parte de abraçar a escalada é o crescente número de competições oferecidas a iniciantes, amadores e profissionais”.

Ao contrário do que acontece, por exemplo, no Brasil. Em território brasileiro o maior jornal esportivo do país abriu as portas para a cobertura de competições de escalada, mas a comunidade esnobou a iniciativa e sequer incentivou a leitura. Lembrando que a iniciativa do jornal é única na América Latina. Mas o desinteresse, ou até mesmo o descaso da comunidade escaladora, acaba condenando a escalada em solo brasileiro à estagnação. Os próprios atletas brasileiros se omitiram de compartilhar este tipo de mídia e apostaram em investir em seus perfis de Instagram ambicionando tornarem-se influencers.

O espaço dado à escalada na imprensa coreana, junto da paixão dos coreanos pela escalada refletiu-se na evolução do esporte. Como dito acima, a Coreia do Sul não se resume somente a Jain Kim e Chaehyun Seo. Leve em consideração que a equipe nacional de boulder da Coreia do Sul terminou a temporada da Copa do Mundo do IFSC de 2018 em oitavo lugar geral.

The Ja’s Climbing Gym & Shop | Foto: http://www.koreaontherocks.com/

Um bom exemplo é o escalador Jongwon Chon, o qual é considerado um dos melhores boulderistas do mundo. Como Jain Kim, Chon é conhecido por ser metódico, possuir excepcional força de reglete e, claro, ter um estilo bailarino de escalada. Chon venceu etapas da Copa do Mundo do IFSC em 2015 e 2017 e, mais recentemente, os Jogos Asiáticos de 2018. Além dele Hanwool Kim, Hyunbin Min e Sol Sa, chegaram às finais nas competições da Copa do Mundo do IFSC em 2018.

Essa abundância de escaladores, que frequentam a elite de competidores, é sustentada por um interesse popular em escalada que se manifestou na forma de muitas academias surgindo na Coreia do Sul nos últimos anos. Seul, a capital do país, com aproximadamente 10 milhões de habitantes, possui 50 academias dentro de seus limites urbanos. Todas lotadas e bem administradas, com preços diferenciados para adultos, atletas e crianças.

Dada a densidade urbana do país (507 hab./km²), a maioria dos ginásios coreanos tomou a forma de espaços dedicados ao boulder e localizados próximos de centros corporativos e shopping centers. Um exemplo clássico é o Koala Climbing Gym, uma instalação relativamente pequena, que fica no quarto subsolo de um prédio comercial de 20 andares. O espaço, apesar de limitado, obriga os clientes a interagir. Esta “obrigação” faz com que qualquer academia visitada seja também uma experiência social.

O segredo: Educação e serviço militar

Foto: https://themaghrebtimes.com/

Assim como acontece no Japão, onde a escalada e o sistema educacional são interligados, na Coreia do Sul não é diferente. Com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,903 (valor considerado muito alto e ocupando o 22º no ranking) e uma taxa de analfabetismo de 0,28%, a Coreia possui também uma peculiaridade com relação à sua cultura: todos os homens na Coreia do Sul são obrigados a servir nas forças armadas por cerca de dois anos, geralmente antes que eles atinjam a idade de 30 anos.

Com a popularização da escalada no país, esta obrigatoriedade de serviço militar começou a ser enxergada como um empecilho para o desenvolvimento do esporte. Assim, já está sendo estudada a possibilidade de criar uma “unidade de escalada esportiva militar”.

O sistema educacional coreano foi implementado em 1953, quando um imenso investimento na área foi promovido. O país tinha acabado de sair de uma guerra que o destruiu. Mais do que os recursos empregados, foi também a vontade da sociedade coreana, em investir seu tempo e energia na melhoria do “capital humano”, que no final colaborou com os esforços do governo para levantar o país das cinzas. Portanto, um técnico, “homem da ciência”, engenheiros e intelectuais, se tornaram ideais a serem alcançados e respeitados. Muito similar à própria ideia “confuciana” de educação (onde sabedoria se alcança com os estudos).

Com uma população de pouco mais de 51 milhões de habitantes e uma área que corresponde a pouco menos de 100.000 km², a Coreia possui também como porto forte, além de seu sistema educacional, a sua cultura comunitária. Tendo o confucionismo como base central, preocupações como a moral, política, pedagogia e religião, reconhecidos como “ensinamentos dos sábios”, são ensinados deste a infância por escola, comunidade e os pais.

A educação na Coreia do Sul é considerada o principal aspecto para o sucesso do país em competitividade, e considerada pelo governo como sua mais alta prioridade. A educação é administrada de forma centralizada pelo governo federal, desde o primeiro até o último ano escolar. A única exceção é o jardim da infância. Os alunos entram na escola com idades entre 3 e 7 anos e o país foi o primeiro do mundo a fornecer internet banda larga em todas suas escolas de seu território.

Este sistema educacional já possui status mundial como um perfeito exemplo na qualificação de seus estudantes. Muitas escolas também possuem atividades extras aos finais de semana, consumindo assim, a vida do adolescente por inteiro. Dentre as atividades, está a prática de escalada.

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