Entrevista com Daniel Lustoza

Os últimos anos para o universo outdoor brasileiro está sendo marcado pela renovação das pessoas nos diversos esportes da categoria.

Em todas as áreas há alguém realizando algo interessante, inovador e diferente, contribuindo assim para a evolução da cultura de montanha e com o esporte.

Daniel Lustoza é uma destas pessoas que, mesmo que silenciosamente,  vem se destacando por seus vídeos de escaladores e suas edições mais estilosas.

Foto: Camilla Porto

Foto: Camilla Porto

Pela qualidade apresentada, não somente pela afinidade dos amigos, suas produções são compartilhadas nas redes sociais e são grande atrativo para quem gosta de vídeos de qualidade.

Saber mais os valores e costumes dos integrantes deste novo mercado consumidor dos esportes outdoor, e que está com fome de renovação e inovação, a Revista Blog de Escalada procurou Daniel Lustoza para uma conversa aberta e cheia de conteúdo.

Daniel, você tem se dedicado fazer vídeos de escalada. Como nasceu este interesse?

Bom Luciano, antes de qualquer coisa gostaria de agradecer pelo espaço que você gentilmente me ofereceu para falar do assunto que mais gosto, escalada!

Respondendo a essa primeira pergunta, acho que descobri os vídeos de escalada assistindo à famosa série “Masters of Stones”.

Lembro que esses filmes abriram um horizonte novo sobre o que eu conhecia acerca de escalada, nessa época nem sabia que existia uma modalidade chamada boulder! Eu achava que montar esses vídeos era algo intangível, nem tinha ideia do que era edição.

Então, descobri um site nacional onde qualquer mortal podia postar a sua própria versão do “Masters of Stone”, o Escalada Brasil, aí pensei que também podia fazer isso!

Várias vezes esses filmes do escalada Brasil foram o meu guia ou mesmo um“banco de dados” e de betas/linhas em muitas das minhas viagens, já que, mesmo hoje, a maioria dos picos de escalada pelo Brasil não tem croqui.

Foto: Rodrigo Nunes

Foto: Rodrigo Nunes

Nesse momento, eu senti que também precisava divulgar os picos e linhas que conhecia, para que outros pudessem se beneficiar desses “vídeo-croquis”.

Comecei da forma mais tosca possível, filmando, colocando uma música qualquer e mandando para o ar!

Ficava bastante feliz quando alguém falava que conseguiu achar alguma linha ou descobriu um beta graças a um dos meus vídeos. A partir daí as coisas ganharam volume, principalmente com o nascimento do Focanoclimb.

Mas, sinceramente fiquei surpreso com essa pergunta sobre edição de vídeos, nunca considerei que realmente tivesse editado alguma coisa esteticamente razoável, na minha cabeça sempre foram vídeos “educativos”.

Acontece todos os anos no Rio de Janeiro o Rio Mountain Festival. Você pretende realizar algum filme para participar? Por que?

Foto: Claudio Brisiguelo

Foto: Claudio Brisiguelo

Nossa! Nunca nem passou pela minha cabeça!!! rs

Realmente, nunca considerei que qualquer um dos meus vídeos tivesse condições mínimas de participar de um festival desse porte.

Nunca fiz nenhum curso de edição ou nada relacionado a isso. Edito de orelhada, espremido no tempo que sobra na rotina.

Lembro que há alguns anos o Ricardo Cosme fez um curta sobre minha esposa e eu, e na época o coitado ficou alguns finais de semana em função disso.

Foram inúmeros takes e várias horas de edição, não tenho nem capacidade de produzir algo com esse nível de qualidade.

Vídeo para mim, só por fanfarronagem!

Na sua opinião no Rio de Janeiro estão surgindo novos destaques no cenário do montanhismo Brasileiro? Por que?

Tenho mais conhecimento sobre o cenário do boulder. Nele, a minha impressão é que essa onda teve uma causa multifatorial. Acho que o ponto mais importante foi a abertura de novos muros no Rio, principalmente do Evolução, pelo Alex.

Lá, muitos escaladores que estavam querendo treinar forte encontraram um ambiente perfeito para se desenvolver, e a proposta do Alex sempre foi ouvir para evoluir; sem palavras para agradecer pelo que ele fez.

Foto: Camilla Porto

Foto: Camilla Porto

 

Um segundo ponto importante foi que nós, cariocas, começamos a documentar as linhas e os picos novos ou reativados, e o “boom” aconteceu com a “descoberta” do Gomes, na Urca, e o desenvolvimento do Bosque Escocês.

Lembro que quando comecei a escalar boulder no Rio perdia muito tempo achando e limpando linhas, descobrindo betas e no fim das contas aquele boulder “novo” já existia há anos. Esse retrabalho atrapalhou muito a nossa evolução na rocha.

Quando começamos a documentar tudo o que fazíamos, os que vinham depois de nós puderam começar de onde paramos.

Por último, acho que hoje existe uma integração bem grande entre os escaladores cariocas e, pelo fato de estarmos sempre viajando pelo Brasil, esse intercâmbio de experiência acontece também entre nós e a galera de fora do Rio.

Também cabe citar as visitas de escaladores brasileiros bem fortes que deixaram aqui linhas novas e projetos para nos motivar mais ainda.

Os campeonatos de escalada estão voltando a acontecer. Na sua opinião, você acha que escalada de competição é viável no Brasil? Por que?

Pergunta complicada… a questão financeira aqui no Brasil é um problema sempre presente.

Foto: Camilla Porto

Foto: Camilla Porto

É muito difícil conseguir dinheiro para esses eventos e a partir daí sempre surgem problemas como premiação inadequada, dificuldade de filiação a IFSC, atletas que não são capazes de viver da escalada e muitas outras coisas que culminam com campeonatos brasileiros e estaduais com caráter quase amador.

Felizmente, como você mesmo disse, as coisas estão mudando.

Torço para que com a criação da ABEE, concebida por pessoas que entendem de competição, e com a nova visibilidade internacional que a escalada brasileira está ganhando, graças a escaladores como o Felipinho e o Nishimura, a gente venha a receber uma atenção especial das grandes marcas mundiais que financiam esses eventos.

Acontece no Brasil inteiro vários encontros de escalada, que são uma raridade no Rio de Janeiro. A que você deve este fato?

Considero que esses eventos são idealizados ou por um escalador fanático, ou por um grupo de escaladores que se organizam e realmente fazem acontecer, como o pessoal da 4climb, em BH, ou do “clube dos 30”, em São Bento.

No caso específico do Rio de Janeiro não existe ninguém “disposto” a promover um evento desses.

Foto: Ricardo Cosme

Foto: Ricardo Cosme

Para exemplificar isso uso a minha situação: trabalho todos os dias da semana e alguns dias esporadicamente nos finais de semana, portanto se já é muito difícil manter a rotina de treino, imagina conceber um festival de escalada, arrumar apoio, conseguir acesso junto aos órgãos público, já que os picos no Rio estão todos em parques urbanos, e arrumar uma logística que caiba no bolso daqueles que viriam para o festival, porque o Rio é caro, e bem caro…

Enfim, isso da um trabalho que não tenho como assumir.

Acho que muitos, senão todos os outros entusiastas de festivais que são do Rio se encontram na mesma situação que eu.

Assumo a minha parcela de culpa por essa falta de um festival carioca na agenda!

Para o ano de 2015 você possui algum projeto pessoal em termos de escalada?

Com certeza!

Estou mantendo meu treino, mais forte do que nunca, e espero conseguir me manter na casa dos 2 dígitos até a minha primeira viagem para a gringa, que deve acontecer lá para abril.

Se chegar lá fora com um nível bom o leque de opções de boulders para “experimentar” vai ser bem grande!

 

Gostaria também de manter a tradição de participar de todos (ou quase todos) os festivais nacionais.

No mais, esse ano quero dar um carinho especial ao Bosque Escocês, talvez o melhor pico de boulder do Rio, que sempre fica meio abandonado no verão.

Foto: Rodrigo Nunes

Foto: Rodrigo Nunes

Foto: Camilla Porto

Foto: Camilla Porto

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