Entrevista com Charlie Boscoe – O locutor do streaming do IFSC

Qualquer pessoa que consome conteúdo televisivo já deve saber que a tendência de transmissões esportivas, especialmente de esportes de nicho como a escalada, será o streaming. Há, claro, tentativas improvisadas de quem ainda não entendeu o que é de fato uma transmissão esportiva, acreditando que é somente colocar imagens na internet que já está garantida audiência.

Em uma transmissão de streaming é necessário muito mais que disponibilizar imagens do esporte. Se não houver qualidade de imagens, cuidado na edição, compreensão do interesse do público-alvo e, principalmente, um narrador com boa dicção, inteligência e carisma, de nada adianta o dinheiro investido.

 

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Por este motivo que a International Federation of Sport Climbing (IFSC) apostou no inglês Charlie Boscoe, que apresentou por muito tempo o programa Climbing Daily no EpicTV. O britânico não se intimidou com o desafio e atualmente, sem nenhum exagero, é o principal nome das transmissões do IFSC. Em pouco mais de três anos, Charlie Boscoe já testemunhou momentos históricos do esporte e ninguém melhor do que ele para analisar o momento que a escalada esportiva vive no momento.

Traçando um paralelo de comparação entre o Brasil e a Inglaterra, veremos que as vozes que comandam as transmissões esportivas aqui são comumente chamadas de “narradores”, as quais exalam emoção gritos e até chegam a torcer durante uma transmissão. Já na Inglaterra elas são tratadas como “comentaristas”.

No Brasil, que é um país acostumado a narradores superlativos, como Galvão Bueno, Luciano do Valle, Sílvio Luiz e Milton Leite, além de monstros sagrados do rádio como José Silvério, Fiori Gigliotti e Osmar Santos, é normal que o público brasileiro, e latino em geral, estranhe o estilo mais comedido e ponderado de Boscoe. O público mais atento deve ter reparado que o estilo de Charlie lembra muito os do comentarista britânico Martin Tyler, o qual foi transferido para o videogame FIFA desde 2006. Na Inglaterra, culturalmente falando, o narrador deve mais opinar sobre o que acontece. Dependendo do acontecimento, o inglês também se vê obrigado a “narrar” certos momentos, mas sem os exageros como estamos acostumados por aqui.

A Revista Blog de Escalada procurou Charlie Boscoe, que estava super atarefado com com a missão de narrar toda a maratona de provas da etapa extra do Mundial de Escalada do IFSC, que acontecia no Japão e classificou os primeiros atletas para a olimpíada. Charlie respondeu pacientemente cada uma das perguntas e elegantemente nos presenteou com uma das mais esclarecedoras entrevistas publicadas este ano.

Charlie, você é a principal testemunha de escalada esportiva no streaming do IFSC. Como isso aconteceu na sua vida?

 

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Essa é uma longa história, então vou contar a versão curta!

Tudo começou quando estava morando em Chamonix em 2013 e meu amigo Jack Geldard estava fazendo o Climbing Daily na EpicTV. Jack decidiu desistir e me recomendou para o trabalho. Embora eu nunca tivesse feito nenhum trabalho de TV / mídia.

Fui, fiz um teste, consegui o emprego e acabei apresentando o Climbing Daily por 2 anos.

Depois disso, tive bons contatos no mundo da escalada e, por coincidência, o IFSC estava procurando um novo comentarista. Eu tive que trabalhar muito duro para conseguir uma reunião com o IFSC, mas eventualmente eles me contrataram e estou lá desde o início de 2016.

Estando em todos as transmissões de streaming, quais foram os momentos mais memoráveis ​​que nunca esquecerá?

 

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Uau, tem muitos. Com certeza AdamOndra vencendo no World Championships de 2016 em Paris se destaca como um grande momento esportivo. Mas às vezes pode ser algo “pequeno” como se alguém chegar a uma final pela primeira vez e vejo o quanto isso significa para eles.

Houve muitos destaques para mencionar envolvendo Janja Ganrbret, mas sua vitória em Vail 2019 (e completar todas as etapas em primeiro lugar) foi muito especial. Eu me lembro de assistir a cerimônia do pódio enquanto o sol se punha e me sentindo com muita sorte por estar lá.

Na sua opinião, o que está faltando para a América do Sul sediar um evento IFSC, como os jogos YOG foi um sucesso em Buenos Aires?

 

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Como a maioria das coisas na vida, acredito que seja uma questão de orçamento.

Eu não sou um especialista, mas entendo que as cidades têm que pagar uma taxa para sediar uma etapa da Copa do Mundo do IFSC. Se nenhuma cidade puder pagar a taxa na América do Sul, nós não iremos.

Espero que isso mude no futuro!

Como estão as suas expectativas na transmissão de jogos olímpicos?

Eu não acho que vou estar transmitindo das Olimpíadas, infelizmente!

Quem foi seu modelo na mídia que influencia seu estilo de transmissão na transmissão do IFSC?

 

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Uma publicação compartilhada por Charlie Boscoe (@charlieboscoe) em na Fórmula 1 por muitos anos e vem comentando sobre o esporte há cerca de 20 anos.

Ele é capaz de tornar um assunto muito complicado em algo simples, e também é capaz de expressar uma opinião, permanecendo totalmente justo e equilibrado. Para ser honesto, a coisa mais importante que você precisa fazer como broadcaster é ser você mesmo, então, apesar de eu pegar coisas de outras pessoas, tento ser eu mesmo e trabalhar em meu próprio estilo.

Você sempre pode dizer quando alguém está fingindo e tentando ser algo que não é, então eu apenas sou eu e espero que funcione.

Já que a escalada faz parte dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, você acredita que a maneira como as pessoas veem a escalada, dentro e fora do esporte, mudou?

 

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Sim, mudou para todos no esporte e para as pessoas que o veem do lado de fora.

Para as pessoas dentro da escalada, de repente eles têm uma grande oportunidade de ganhar a vida com o esporte e, potencialmente, ter acesso a um público muito maior. Então seu valor para os patrocinadores realmente aumentou.

Isso fez a coisa toda parecer muito mais séria, porque a diferença entre ir às Olimpíadas e não ir, poderia ser enorme para a situação financeira de alguém.

Fora do esporte, as Olimpíadas dão credibilidade para a escalada. Se eu conheço alguém e digo a eles o que faço para ganhar a vida, geralmente não estão interessados ​​até eu falar que a escalada se tornou um esporte olímpico.

Toda a sua percepção do esporte muda assim que você diz isso a elas.

Sobre a hipótese da escalada esportiva ser confirmada como parte de Paris 2024, Que impacto você acredita que acontecerá no esporte e no mercado?

Eu realmente não tenho ideia!

Eu só estou pensando no ano que vem, e vou falar sobre Paris 2024 assim que Tóquio terminar!

Para transmitir um evento de escalada, quais são as principais habilidades que você acha obrigatórias?

 

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Uma publicação compartilhada por Sierra Blair-Coyle (@sierrablaircoyl) em

Mais do que habilidades, acredito que uma certa atitude é necessária. Você tem que ser você mesmo. Você também tem que ser humilde e lembrar que não é a estrela, os atletas é que são as estrelas.

Eu vejo o meu trabalho como o centro das atenções onde ele precisa ir: nos atletas. Algumas emissoras querem ser as estrelas e penso que esse é o jeito errado de fazer as coisas.

Além disso, você só tem que lembrar que você está lá para o benefício do público. O público não se importa comigo. Ele quer ser entretido, engajado e informado, então sempre tento fazer minhas transmissões sobre os escaladores e o evento, e não sobre mim.

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