Entrevista com Antoniela Marinho

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Para aproveitar o ambiente de montanha, nem sempre a escalada é a única opção.

Existem muitos esportes desafiantes e interessantes a quem deseja sair um pouco do ambiente urbano e praticar um esporte ao ar livre e puro existente fora das cidades.

Um eles são as competições de Orientação, um esporte que exige bom conhecimento cartográfico, preparo físico e muita determinação e concentração para sair-se vitorioso.

Para saber um pouco mais sobre a modalidade a Revista Blog de Escalada procurou a atleta Antoniela Marinho, uma simpática potiguar que é um dos principais expoentes do esporte em seu estado.

Antoniela nos atendeu prontamente quando a procuramos e nos concedeu uma das mais esclarecedoras entrevistas sobre o esporte de Orientação já realizado no Brasil.

Leia abaixo a entrevista.

Antoniela, como é a realidade de um atleta que se dedica à competições de Orientação?

AntonielaMarinho7O Esporte Orientação abrange quatro vertentes: competitiva, ambiental, pedagógica e turística.

Mesmo em competições, muitos praticantes participam visando o lazer, a integração com o meio ambiente, a saúde e qualidade de vida (vertentes ambiental/ pedagógica/ turística), sem se preocuparem tanto com a competição propriamente dita.

Os praticantes que representam a Orientação enquanto esporte de alto rendimento no Brasil (vertente competitiva) são em grande maioria, atletas das forças armadas.

Os atletas que visam o alto rendimento sem contar com apoio das forças armadas geralmente enfrentam dificuldades em conseguir patrocínios/apoios.

Acredito que esta dificuldade existe devido a este esporte ser pouco divulgado nas mídias brasileiras, e ser praticado tradicionalmente em áreas não-urbanas (florestas, parques, bosques, etc.), geralmente distantes das cidades, contando com em torno de 100 a 2000 participantes no Brasil, e por isso não seja visto como estratégia de marketing pelas empresas.

Apesar de o Esporte Orientação ser considerado internacionalmente como uma modalidade de baixo custo, no Brasil o investimento se torna um pouco mais elevado devido ao custo do deslocamento do atleta para as competições, visto que a extensão territorial do Brasil é enorme e a maioria das competições ao nível nacional e internacional se concentram respectivamente nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste.

Os investimentos em equipamentos para a prática também tem seu valor um pouco elevado no Brasil pelo fato de serem predominantemente importados.

Mas ainda assim, em comparação a outros esportes outdoor, este investimento é considerado baixo. A rotina de um atleta que se dedica ás competições exige capacitação teórica, treinamento físico de corrida e musculação, e treinamento de Orientação, sendo este último o mais dificultoso, por depender de disponibilidade de áreas mapeadas, autorização para uso destas áreas, e montagem de percursos.

Como o calendario de competições é organizado no Brasil?

AntonielaMarinho4Todas as competições municipais, estaduais, regionais, nacionais e internacionais (quando realizadas em território brasileiro) são reunidas no “Super Calendario Brasileiro de Orientação”.

A elaboração deste calendario é feita pela Confederação Brasileira de Orientação (CBO), considera a não coincidência de datas de eventos na mesma região, e que a data de eventos municipais e estaduais não coincida com as nacionais, regionais e internacionais, para favorecer a participação de todos os atletas.

As competições podem ter duração de 1 a 8 dias, de acordo com a abrangência do evento, sendo os municipais e estaduais geralmente com 1 dia, os regionais e nacionais com 3 dias, e os internacionais com acima de 3 dias.

Mas, vale salientar que, um percurso de Orientação nos moldes que são realizados no Brasil não tem duração de um dia inteiro ou até mais de um dia.

A duração máxima pode variar de 50 minutos a 5 horas, dependendo do tipo de percurso, que pode ser Sprint, média distância, longa distância, ou revezamento.

Sendo assim, em um evento com duração de 3 dias, por exemplo, os participantes realizarão um percurso por dia, geralmente.

Como é realizada a sua preparação para as competições de Orientação?

Para obter o condicionamento físico exigido para a minha atual categoria (D21A, leia-se: D=dama, 21=qualquer idade, A=muito difícil), mantenho uma rotina regular de treinamento físico de corrida em asfalto e trilha, Mountain Bike e musculação.

Para estar preparada para o nível técnico dos percursos, também participo de treinos de Orientação, e realizo frequentemente leituras de trabalhos acadêmicos, artigos, reportagens de revistas e jornais, regulamentos e outros documentos técnicos da modalidade. Procuro sempre aprender com os mais experientes, e participar de cursos quando possível.

Também mantenho uma dieta compatível com as demandas nutricionais que a minha rotina de treinamento e competições exige.

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O Brasil possui uma cultura de esportes outdoor muito pouco desenvolvida. Na sua opinião como isso poderia ser mudado?

AntonielaMarinho3Acredito que primeiramente devem ser estabelecidas políticas públicas para o desenvolvimento dos esportes outdoor, tendo em vista o enorme potencial do Brasil – país de dimensões continentais e que tem a maior biodiversidade do planeta – e o evidente crescimento do número de eventos e praticantes no país.

O governo brasileiro deve criar políticas que incentivem a prática nas escolas, universidades, comunidades, e aumentem os investimentos públicos e privados nos eventos e atletas de esportes outdoor, para que o atual crescimento aconteça de maneira sustentável, respeitando o meio ambiente e os habitantes dos locais onde os eventos são realizados.

Estamos em um ano de copa do mundo no Brasil. Você acredita que o evento interferiu nos investimentos de eventos de outros esportes? Porque?

Acredito que a copa do mundo de Futebol interferiu nos investimentos em outras modalidades esportivas, uma vez que desde 2012 busquei apoios/patrocínios para a Orientação e muitas vezes recebi respostas negativas, com a justificativa de que os recursos para patrocínio estavam comprometidos com a copa.

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Na sua opinião, o que poderia ser feito pelos praticantes de cada modalidade de esportes de montanha para que estes tenham mais espaço nas mídias?

Primeiramente, colaborar com as entidades de prática no estabelecimento de parcerias para divulgação nas mídias e obtenção de patrocínios/apoios.

Também considero o registro dos atletas nas respectivas Confederações, Federações e demais entidades de prática como aliado no fortalecimento destas instituições que representam os esportes.

Assumir posturas que não afetem negativamente a imagem do seu esporte para o público, como realizar o cumprimento das regras de cada modalidade, e não publicar declarações anti-éticas nas redes sociais, também são importantes.

Se alguma pessoa estiver interessada em praticar orientação qual seria o procedimento adequado?

AntonielaMarinho1Recomendo que qualquer pessoa que deseja se iniciar no Esporte Orientação entre em contato com algum Clube ou Federação da sua cidade ou estado para realizar um curso de iniciação desportiva, imprescindível para o aprendizado do conteúdo teórico básico necessário para a prática da Orientação.

Os contatos dos representantes de todos os estados brasileiros estão disponíveis no site da CBO, neste link http://www.cbo.org.br/site/orientacao_estados/index.php. No mundo, são reconhecidas quatro modalidades do Esporte Orientação: A Orientação Pedestre (principal), Orientação em bicicleta, Orientação em Esqui, e Orientação de Precisão (adaptada para pessoas com necessidades especiais).

No Brasil a modalidade “Pedestre” é a mais praticada, e também existem eventos de Orientação em bicicleta, ainda que em menor número. Além do conhecimento teórico, o equipamento básico necessário para um iniciante na Orientação Pedestre é uma bússola, e a vestimenta adequada é composta por calça, camiseta e tênis de corrida.

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