O medo está presente em todo ser vivo e faz parte do instinto de sobrevivência de cada um. Negar isso seria negar o óbvio.
Portanto, dito isso, mensurar o medo que alguns sentem em relação a algo pode ser uma tarefa um tanto ingrata. Na escalada o medo, além da sensação de insegurança, faz parte da psiquê de cada praticante e varia bastante a sua intensidade.
Mas a necessidade de criar uma medida, mesmo que seja empírica (medida que se apoia exclusivamente na experiência e na observação), para o montanhismo se fez necessária para que parâmetros de dificuldades fossem criados para que o praticante estivesse preparado psicologicamente. Embora praticantes, muitos com baixa estima e auto confiança rasa, utilizam apenas os graus de escalada para medir o valor de um escalador, a tabela de graduação é na verdade um parâmetro para que o praticante saiba o que vai enfrentar ao decidir pelo percurso.
No Brasil somente em 1998 (portanto a apenas 17 anos) o grau de exposição foi incorporado à graduação de dificuldade da via de escalada, quando apareceu de maneira formal no Guia de Escaladas dos Três Picos (Guia de escalada de autoria de Alexandre Portela, Sérgio Tartari e Isabela de Paoli), no qual havia uma proposta para o grau de exposição.
Em linhas gerais o grau de exposição é uma tentativa de avisar ao escalador o tamanho do estrago que irá acontecer se e quando o escalador cair.
Na proposta Portela/Tartari/Paoli o grau apresenta cinco divisões, indo do E1 ao E5.
Posteriormente foram incluídos graus até E8 pelo autor de guias de escalada Flávio Daflon, o que ainda não foi digerido por escaladores mais puristas e admiradores da convenção inicial estipulada por Portela/Tartari/Paoli.
Porém uma observação seja válida: a letra “E” é de exposição, e em NADA tem a ver com a graduação inglesa de vias de escalada que também utiliza a mesma letra, mas existem outros parâmetros embutidos na formação do grau.
Geralmente usa-se a graduação de exposição para vias tradicionais e bigwall, não sendo muito utilizadas em escaladas esportivas. Alguns guias de escalada, por conta de costuras mais distanciadas e/ou mal colocadas, possuem este tipo de graduação, mas não é usualmente considerada.
Em termos práticos o Grau de Exposição expressa a intensidade da exigência psicológica que determinada via possui em relação às distâncias das proteções existentes na escalada indicando o que aconteceria em caso de queda.
Convencionou-se colocar este tipo de informação ao final da indicação do grau, sempre em letras maiúsculas.
E1- Vias bem protegidas. Usualmente vias esportivas utilizam este tipo de grau de exposição e é considerada a mais segura para os praticantes.
E2 – Vias com proteção “regular” (de acordo com padrão não estabelecido). São vias com a distância entre as proteções que exige um grau de comprometimento e concentração do escalador em nível intermediário.
E3 – Proteção “regular” com trechos expostos que oferecem perigos, onde em certas partes a distância entre as proteções exigem alto grau técnico e concentração do escalador. No caso de uma queda pode haver contusões séries e até fraturas em casos extremos.
E4 – Vias perigosas que os escaladores devem estar conscientes de que, no caso de queda, haverá fraturas graves e necessidade de resgate.
E5 – Vias muito perigosas (em caso de queda), na qual os escaladores devem ter consciência de que uma queda em uma vida nesta exposição seguramente necessitará de resgate. O perigo de morte é real e seguramente deixaria sequelas no caso de sobreviver à queda.
E6 – Vias muito perigosas que é muito pouco provável que um escalador tenta guiar à vista. No caso de uma eventual queda o perigo de morte é uma consequência considerada comum.
E7 – Vias extremamente perigosas , na qual raríssimos escaladores tentarão guiar à vista. No caso de uma eventual queda, o perigo de morte é considerado real e inevitável.
E8 – Vias absolutamente perigosas, na qual uma eventual queda do escalador é considerada certeza absoluta de óbito.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.
[…] A história completa da graduação, assim como a evolução e criação da graduação brasileira, pode ser lida em artigo exclusivo aqui na Revista Blog de Escalada. Além disso, há também um outro artigo que explica, com detalhes, sobre a criação e adoção da graduação de exposição da escalada Brasileira. […]