Entenda a importância de usar meias técnicas em trekking

O erro mais comum visto em atividades na montanha é o praticante de trekking e hiking negligenciar o uso de meias técnicas (ou seja, feitas de materiais próprios para montanha). O Brasil por causa de seu clima tropical e pelo fato de poder usufruir de mais de 8.000 km de praias, não possui algo conhecido como “cultura de montanha”.

Por cultura de montanha entenda que sejam conceitos e práticas culturais básicas ligadas à atividade de montanha. Uma boa metáfora de como o uso de meias técnicas são negligenciadas no Brasil é quando a comparamos o uso delas com o de protetor solar na praia.

Como o Brasil tem uma cultura de praia bem estabelecida, todos sabem que devem estar lá utilizando um protetor solar adequado para o tipo de pele que possui. O mesmo tipo de atitude de auto preservação cultural uma população com mais cultura de montanha possui ao fazer uma trilha.

Portanto, o erro mais comum é ver em trilhas pessoas com meias de algodão (além de calçados não apropriados como tênis de corrida urbana, coturnos militares, etc. Mas isso é um outro assunto). As meias para atividades de montanha não são as mesmas utilizadas para para praticar esportes perto de sua casa.

Por que meias de algodão não servem para montanhas?

Já foram escritos aqui diversos artigos sobre a importância de usar calçados impermeáveis ​​e respiráveis ​​nas atividades de montanha. As razões são óbvias: um pé molhado, seja por pisar em uma poça ou absorver o próprio suor, aumenta exponencialmente o risco de problemas de atrito e bolhas, além de fungos (que causam chulé), unhas pretas e outras condições de longo prazo.

Meias de algodão esportivas, destas comuns vendidas em supermercados e lojas de departamentos, possui composição de 65% Algodão 34% Poliamida 1% Elastano. Por possuir alta composição de algodão, absorve e não evapora o suor dos pés. Meias assim em um trekking fazem com que o praticante da atividade sofra com umidade excessiva nos pés, fazendo com que a atividade seja agoniante.

Não ache que isso seja exagero de pessoas “frescas”, pois meias excessivamente úmidas causam sofrimento real devido ao desconforto e à dor, causando também outros desconfortos associados, como lesões ou dores quando o desconforto nos pés os obriga a “pisar mal” até voltarmos para casa. Essa adaptação da pisada aumenta a dor e criaa novos desconfortos ao forçar uma posição desconfortável ao caminhar.

Por isso, tanto a impermeabilidade como a respirabilidade da bota são essenciais e ambas as características devem ser adaptadas ao tipo de terreno e às condições em que a atividade será realizada. No entanto, muitas vezes ficamos indignados ao ver que a respirabilidade da bota ou tênis, que prometia ser uma maravilha, não é tão excelente quanto imaginávamos.

Não raro que por trás dessa decepção está um problema tão facilmente evitável quanto o de substituir nossas meias esportivas de algodão pelas meias técnicas. É inútil ter o melhor calçado de última geração se vamos usá-lo com a primeira meia que encontramos na gaveta.

Os benefícios de respirabilidade e conforto têm de ser iguais e, pelo menos, que a meia respire com a mesma eficiência que o calçado. Tenha em mente que o calçado de montanha e a meia técnica (para atividades de montanha) é um conjunto só. Pense nesse conjunto como um time de futebol, no qual se pensarmos somente nos atacantes, mas não nos defensores, ficamos suscetíveis a perder várias partidas de goleada.

Materiais das meias técnicas

Como descrito anteriormente, meias de algodão vendidas em lojas possui composição de 65% Algodão 34% Poliamida 1% Elastano. O algodão é um material hidrofílicos, ou seja, absorve a umidade.

Não bastasse absorver, também a retém. O algodão é capaz de absorver até 27 vezes seu peso em água líquida, de acordo com a CottonInc (organização sem fins lucrativos fundada por produtores de algodão nos EUA). O algodão precisa estar em um local ventilado e ensolarado para secar rapidamente. Algo totalmente diferente do que se encontra dentro de uma bota ou tênis de montanha.

A baixa respirabilidade e o superaquecimento produzidos por uma meia de algodão são os ingredientes que acabam causando sérios desconfortos durante o hiking ou trekking. Meias de algodão, depois de acumular umidade, tenderão a formar rugas que levarão ao aparecimento de escoriações ou bolhas em nossos pés, além de causar problemas de frio no caso de altas montanhas.

Portanto, ao falar de meias técnicas evitaremos a todo custo materiais hidrofílicos, que absorvem a umidade ou, se esses materiais estiverem presentes na meia, temos de ter certeza que o façam nas camadas mais próximas da pele para absorver a umidade, para que as camadas externas consigam expulsar para fora.

Existem vários materiais nas meias técnicas indicadas para hiking e trekking. O poliéster (altamente repelente à água) e poliamida (menos repelente à água mas mais resistente) são os principais materiais. Seja separadamente ou em combinação oferecem resistência e respirabilidade.

Dependendo do modelo de meia técnica, podem ser substituídos por lã merino, uma pequena proporção de elastano (para dar um ajuste preciso). Para modelos de inverno também são usados ​​outros materiais que proporcionam calor, como polipropileno ou fibras acrílicas.

Além dos materiais, é importante saber a proporção de cada um deles, pois a partir dessa quantidade de material utilizado podemos ter uma ideia das características que a meia terá durante a sua atividade. Por exemplo, meias de trekking de uso mais genérico (caminhas simples e de baixa altitude) está em torno de 40 % algodão, 37% poliester, 20% poliamida e 3% elastano.

Para atividades mais exigentes, as meias já vem com especificação que é para hiking ou trekking. As diferenças entre hiking e trekking já foram explicadas em um outro artigo mais detalhadamente. Meias de maior qualidade possuem 92% poliester, 4% poliamida, 3% Nylon e 1% elastano.

Meias técnicas possui tratamentos e materiais às suas roupas que impedem a proliferação de bactérias, fungos e outros patógenos. Quando as meias são feitas de fibras sintéticas, os tratamentos mais comuns são realizados com fios de prata ou outras fibras naturais antibacterianas.

As fibras sintéticas de qualidade superior possuem nomes comerciais como Polartec PowerStretch, Polartec PowerDry, Thermolite, entre outros nomes.