Efeito dominó: Como pandemia afetou a indústria dos esportes outdoor

Esta semana o governo brasileiro anunciou um tombo recorde na economia no segundo trimestre de 2020, com queda de 9,7% na comparação com os três meses anteriores. Seguramente o resto da semana será a respeito desta notícia. Tecnicamente falando, o país está em recessão.

Em outras palavras, a produção e o poder de compra caem. Dessa maneira, há aumento do desemprego, diminuição da renda familiar, aumento do número de falências e concordatas e queda dos níveis de investimentos. Como a indústria dos esportes outdoor vive muito de produtos importados, prepare-se para uma alta forte nos preços de equipamentos.

Esta recessão não é um cenário do Brasil somente, ele é generalizado. Há cerca de um mês, em 30 de julho, veio a notícia de que o PIB dos EUA havia caído 32,9% no segundo trimestre. Na Alemanha, a maior potência econômica da Europa, o tombo da economia também foi histórico. O PIB alemão de abril a junho recuou 10,1% em relação ao trimestre anterior e é a queda trimestral mais acentuada desde 1970 (quando os registros começaram).

Portanto, também espere uma escassez em eventos de entretenimento para o público outdoor. A Sender Films, que voltaria a realizar em solo brasileiro projeções de seu prestigiado Reel Rock Tour, que há 4 anos não acontece no Brasil, em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória, avisou que terá de adiar por tempo indeterminado e as projeções não serão realizadas em 2020.

Além disso, não espere grandes evoluções em equipamentos, nem lançamentos de produtos baratos ou “revolucionários”. Promoções e queimas de estoques, tanto no Brasil quanto no exterior, serão raras. Iremos viver um ambiente de “pós-guerra”, sem ao menos ter vivenciado uma.

Para que o público em geral entenda a gravidade do que a pandemia representa, além dos impactos no futuro, a Revista Blog de Escalada, realizou uma pesquisa para ilustrar o impacto que houve na indústria de esportes outdoor.

Efeito dominó

O efeito dominó, efeito em cascata ou efeito em cadeia sugere a ideia de um efeito ser a causa de outro efeito, gerando uma série de acontecimentos semelhantes de média, longa ou infinita duração. É exatamente isso que irá acontecer na economia: uma sucessão de pequenas crises que parecem não ter fim.

Este termo se encaixar perfeitamente no processo de entendimento de como a indústria de esportes outdoor do mundo inteiro retraiu. O coronavírus causou estragos nos cronogramas típicos da indústria e o “normal” parece estar muito distante.

Tudo isso começou há pouco mais de 8 meses, Quando o lockdown da China em Wuhan foi anunciado durante em janeiro, mantendo as fábricas fechadas além do período usual de feriado do Ano Novo Chinês, e uma vez que elas reabriram, a produção aumentou lentamente.

A desaceleração fez com que alguns fabricantes atrasassem os lançamentos no outono de 2020 e assim, a desaceleração se espalhou para além da China. O efeito foi sentido também em outros países produtores de roupas outdoor, como a Índia.

A Índia, que fabrica grande parte das roupas esportivas vendidas por marcas norte-americanas, projetou atrasos na produção em quatro meses, que alguns serão entregues com um ano de atraso. A própria manufatura norte-americana, aquela produzida em solo dos EUA, também parou. Houve fábricas que pararam por quase três semanas enquanto desenvolvia procedimentos alternativos de produção que levavam em conta o distanciamento social e o aumento das diretrizes de segurança.

Um dos maiores players de mercado mundial, a marca Patagonia, foi a primeira marca outdoor dos EUA a fechar suas 39 lojas e negócios de comércio eletrônico e pretende ser a última a voltar a trabalhar. Segundo reportagem do The New York Times, perdeu metade de suas vendas nos EUA. A marca privada vende cerca de US$ 1 bilhão em equipamentos todos os anos.

2020: o ano que não existiu nos negócios

Além disso, a primavera e o verão de 2020 são quando as marcas projetam os equipamentos da primavera de 22, mas, neste ano, o distanciamento social eliminou as avaliações pessoais dos modelos, testes de protótipos e viagens às fábricas para discutir projetos nascentes, retardando o processo. Além disso, a maior feira de negócios da indústria outdoor, a Outdoor Retailer, foi cancelada.

Retornar aos cronogramas “normais” após a parada em 2020 pode levar um tempo surpreendentemente longo. Alguns preveem que o tempo normal não será retomado até a primavera de 2022.

A varejista REI, a maior loja de produtos outdoor dos EUA, fechou seu campus corporativo, que estava quase concluído no subúrbio da cidade de Seattle, e mudará as operações da sede para locais em toda a área de Seattle, já que a pandemia de coronavírus afetou o modo como faz negócios.

Os 1.200 funcionários da sede da REI trabalham remotamente desde 2 de março, enquanto a empresa enfrentava a pandemia, o fechamento de seus mais de 160 locais de varejo em 16 de março é um declínio dramático na receita. Mas a pandemia forçou a REI a repensar não apenas onde seus funcionários trabalham, mas também quanto capital ela pode investir em um único ativo em um momento de incerteza econômica. Em maio, a empresa projetava queda de 30% na receita do ano devido à pandemia.

Depois de eliminar um quarto dos cargos em sua sede em abril, corte de 100% no pagamento pelos próximos seis meses, e a liderança sênior também receberia uma redução de 20% no salário, a popular varejista de produtos outdoor anunciou mais demissões em julho. As dispensas somam menos de 5% dos 13.000 funcionários de varejo da empresa.

Efeitos no Brasil

No Brasil, a indústria outdoor não divulgou números a respeito de sua queda ou desempenho durante a pandemia. Mas é possível obter um dado não muito otimista, pois maioria esmagadora das marcas que atuam no mercado brasileiro são empresas familiares.

Segundo o IBGE, 716.000 empresas fecharam as portas desde o início da pandemia no Brasil. Praticamente todas são de pequeno porte (como as marcas nacionais de produtos outdoor), segmento que teve pouca ajuda do Governo.

Como o horizonte não é muito otimista, a melhor solução para estas empresas é estreitar laços de afetividade com o público, além de cortar gastos desnecessários. Mas como fazer isso? Esta é a pergunta de um milhão de dólares que somente as empresas melhor administradas irão conseguir responder.

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