Economia circular: Por que este modelo econômico tem nos plásticos o maior adversário?

Todo praticante de atividades de natureza deveria se preocupar com o meio ambiente. Se não tem este costume, muito menos esta cultura, deveria repensar este aspecto de sua vida. O motivo é relativamente bem simples: uma natureza bem protegida da deterioração, garante a ele maior longevidade dos locais que frequenta para praticar o esporte que gosta.

Portanto, as roupas, comida e equipamentos usados na prática de sua atividade, devem também colaborar para esta conservação.

Exatamente por isso que algumas empresas sem se motivado a tomar decisões, para que a seus produtos poluam o menos possível. A empresa líder deste tipo de “movimento”, é a americana Patagonia.

Apesar da empresa levar a sério o seu papel social, chegando, inclusive, a motivar clientes e empregados a votarem por representantes que abracem causas ecológicos nas eleições parlamentares dos EUA, continua sendo a exceção.

A sua concorrente The North Face começou a dar passos em direção a este tipo de postura, mas ainda de maneira tímida. No Brasil, ainda não há nenhuma empresa que explore o universo outdoor que tenha pensado da mesma maneira.

Este tipo de omissão não é uma exclusividade brasileira, sendo o mesmo modus operandi de todas as marcas sul-americanas que exploram o universo outdoor. Porém a triste realidade é que estas empresas apenas refletem o pensamento de todos os seus clientes.

Desta maneira, quanto mais clientes esperarem empresas tomar a decisão, assim como as empresas esperam que clientes as pressionem, vários locais de prática de montanhismo, trekking e surf são afetados por degradação contínua.

Uma da maneiras de, ao menos, explicitar a preocupação com o mundo que vivemos, sem deixar de continuar a contribuir com o mundo capitalista, é aplicando conceitos de administração e estratégia que demonstre desejo de mudança.

Atualmente, dentre os conceitos estratégicos que existe, a economia circular é o que parece melhor se encaixar em empresas de equipamento outdoor. O nome desta estratégia chama-se economia circular.

O que é economia circular

Economia circular é um conceito estratégico que baseia-se fortemente na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia, no processo construtivo de uma empresa. Desta maneira, seria possível em uma jaqueta, substituir o conceito de fim-de-vida da economia linear.

Este conceito de fim-de-vida é, em termos gerais, uma empresa não se preocupar mais com o fim que o produto leva depois de ser vendido. Ela oferece garantia, mas nada mais que isso.

Na economia circular a proposta é criar novos fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação, em um processo integrado. Portanto a economia circular é vista como um elemento chave para promover a dissociação entre o crescimento econômico e o aumento no consumo de recursos. No atual estágio de mercado de consumo que vivemos, este tipo de relação era vista como inexorável.

A economia circular ultrapassa as ações de gestão de resíduos e de reciclagem. Este conceito possui uma ação mais ampla, que vai desde o replanejamento de processos, produtos e novos modelos de negócio até à otimização da utilização de recursos.

Desta maneira, um dos objetivos principais deste modelo é o desenvolvimento de novos produtos e serviços economicamente viáveis e ecologicamente eficientes. Conseguindo a médio e longo prazo minimizar extração de recursos, maximizar a reutilização, aumentar a eficiência e desenvolver de novos modelos de negócios.

Mas e os plásticos?

Foto : Eduardo Leal | https://edition.cnn.com/

Quem acompanha as notícias no dia a dia, especialmente as que fala do meio ambiente, deve saber que a cada ano aumentam o volume de materiais plásticos nos oceanos e montanhas. Basta observar, por exemplo, o volume de lixo plástico deixado no Monte Everest (8.848 m), hoje considerado o lixão mais alto do mundo.

Na Patagônia argentina, por exemplo, foram proibidos sacos plásticos de qualquer tipo, os quais inundavam as cercas da região pois voavam com facilidade e ninguém ia atrás recolher. Mas na mesma Patagônia, em certos lugares, é possível testemunhar que os sacos plásticos eram apenas uma parte do problema, pois há relatos de várias trilhas existir garrafas plásticas abandonadas.

Mas vilanizar os plásticos é uma visão simplista e míope de todo o problema. Grande parte dos forros sintéticos de jaquetas, são feitos de plásticos. O tecido de várias calças de trekking, assim como os neoprenes dos surfistas, ou as jaquetas de softshell, também são feitas de plástico.

Portanto o problema de uso de plásticos, ou mesmo diminuir o uso indiscriminado deles, é o grande desafio da economia circular.

Há tecnologia existente que permita que grande parte destes plásticos possa ser reciclada. Somente não é aplicada. Existe até mesmo “plásticos sustentáveis” (plásticos de fontes renováveis), embalagens biodegradáveis de fibra de coco e plástico oxibiodegradável.

Porém para o uso como forramento de jaquetas e confecção de indumentária outdoor, ainda é muito limitado esta prática. O que, inevitavelmente, cria um problema para quem deseja uma roupa “ecologicamente correta”: as roupas que usamos, podem poluir o planeta.

Além disso, há um outro problema: a baixa preocupação em reciclar plásticos. Hoje, segundo levantamento da Unilever, apenas 14% das embalagens plásticas são coletadas para reciclagem no mundo. Somente o interesse de empresas em obter matéria-prima de plástico reciclado, pode fazer com que cresça o número de empresas oferecendo este produto.

Uma matemática muito parecida com a de latinhas de alumínio. À medida que cresceu o interesse, além de aprimoramento de tecnologia, as latinhas de alumínio são consideradas um exemplo perfeito de manufatura de economia circular.

Empresas outdoor que reciclam

Mas além da Patagonia, que é excessivamente paparicada e queridinha do público ecologicamente correto, quais outras marcas estão procurando utilizar plástico reciclado em seus produtos.

Uma delas é a também americana Columbia. Sua jaqueta Jacke OutDry Extreme Eco, que é a primeira jaqueta impermeáveis feito sem utilizar perfluorquímicos. Cada jaqueta é feita de poliéster 100% reciclado que é feito de 21 garrafas plásticas.

Todos os acabamentos, incluindo o comutador, a arruela, as etiquetas, os zíperes e a linha também são feitos com 100% de conteúdo reciclado. O tecido livre de tintura economiza mais de 13 litros de água.

A marca irlandesa Grown, desconhecida por grande parte do público brasileiro, possui uma linha de jaquetas consideradas “éticas”, que adotam a política semelhante que a americana Patagonia: plantam uma árvore natural da flora irlandesa para cada camiseta que vender, além de reverter 1% da venda para a fundação “1% for the planet“.

Porém os esforços para se adaptarem à economia circular parecem que são muito mais fortes na marca Patagonia. Exemplos não faltam, sendo do seu mais icônico esforço a jaqueta Nano Puff Hoody, à prova de vento e resistente à água, com isolamento feito com 55% de conteúdo reciclado pós-consumidor e envolto em uma capa de poliéster 100% reciclado e forro.

Um outro exemplo é o wetsuit Yulex, um traje de neoprene que é isento de neoprene. Como Assim? O traje é feito com 85% de borracha natural e 15% de polímero de borracha sintética, que atende aos rígidos padrões de sustentabilidade ambiental e maximiza a durabilidade

Além disso, o programa da empresa Worn Wear, também colabora, e muito, para uma economia circular ser implantada. A empresa americana The North Face, especializada em indumentária outdoor (camisas, jaquetas e fleeces, etc), anunciou neste ano um programa de venda de equipamentos recuperados. A iniciativa ainda é tímida, pois foi implementada apenas como um teste piloto nos EUA.

A timidez por parte de empresas, como a já citada The North Face, assim como toda e qualquer marca sul-americana, tem uma explicação: a falta de interesse do público neste tipo de iniciativa.

Como a imagem pública destas empresas permanece inabalável neste aspecto, não é interessante investir uma quantidade de esforço e dinheiro em mudar algo que, ao que parece, ninguém se preocupa.

Portanto, o maior desafio da economia circular é fazer com que as pessoas pressionem as próprias empresas a adotá-la. Afinal se isso não acontecer, poder ser que fiquemos sem onde usar os seus produtos.

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