Os 10 pontos principais que a UIAA considera para seu Manifesto dos Escaladores

A União Internacional das Associações de Alpinismo (UIAA – Union Internationale des Associations d’Alpinisme) foi fundada na cidade francesa de Chamonix em 1932, graças à união de 20 associações de montanhismo em um congresso realizado à época. A título de curiosidade, o conde Charles Egmond d’Arcis, da Suíça, foi escolhido o primeiro presidente.

A nova entidade representativa de escalada trabalhou duro ao longo dos anos. Para se ter uma ideia, entre 1933 e 1939, a UIAA produziu mais de 25 relatórios, amplamente detalhados, que abordavam vários tópicos do montanhismo. Muitos deles continuam relevantes por muitas das organizações existentes até hoje. Tópicos como educação em montanhismo na juventude, estudo de avalanches e proteção de montanhas foram criadas neste período.

Logo após a Segunda guerra Mundial, vários representantes do montanhismo se reuniram em Zermatt, na Suíça, durante nove dias para discutir o papel da entidade no mundo a ser reconstruído. Muitos acreditavam que os montanhistas e a UIAA tinham papel fundamental na “reconstrução moral do mundo”. A primeira assembleia após o conflito foi feita em 1947. Por volta do ano 1950 já representava em torno de um milhão de montanhistas em todo o mundo.

O famoso”UIAA bulletin”, uma espécie de relatório mensal de notícias corporativas da entidade, foi criado em 1957 e hoje é disponibilizado gratuitamente por assinatura de newsletter. Os primeiros testes para certificação de cordas de escalada foram realizados na década de 1960. Para este teste, o responsável pela comissão de segurança da UIAA foi quem inventou a máquina para este fim. Na mesma década o UIAA Safety Label foi criado.

A criação do UIAA foi um momento chave para o desenvolvimento do esporte e também para a história da escalada e montanhismo em nível mundial. Logo que foi criada na Europa, logo se estendeu por todo mundo. Atualmente são quase 70 países filiados ao UIAA. A partir deste momento de fundação, foi criado um comitê encarregado de estudar e propor soluções dos problemas que pudessem ser apresentados às atividades de escalada e montanhismo.

O UIAA possui este papel representativo, em nível internacional, para escaladores e montanhistas em uma ampla gama de temas relacionados com segurança nas montanhas, assim como sustentabilidade e competições (atualmente somente organiza as de escalada em gelo). Por isso, é encarregado de desenvolver documentos chave, que servem de guia de conduta, além de referência para autoridades governamentais. Um destes documentos chave é a declaração de ética na montanha, assim como o Manifesto do Escalador.

O Manifesto do Escalador estabelece dez promessas que todo escalador e montanhista preocupado por boas ações deveria respeitar. Um manifesto é uma declaração pública de princípios e intenções, que objetiva alertar um problema ou fazer a denúncia pública de um problema que está ocorrendo, normalmente de cunho político. O manifesto destina-se a declarar um ponto de vista, denunciar um problema ou convocar uma comunidade para uma determinada ação.

Esta não é a única declaração pública. Além do Manifesto do Escalador, há também a declaração de Kathmandu, que convidava todos os montanhistas a tomar uma atitude contra a degradação das montanhas.

Manifesto dos Escaladores

  • Primeiro: Pratico o esporte sabendo da necessidade de proteger o entorno da montanha

Os problemas com o impacto devastador das mudanças climáticas e a promoção do turismo responsável nas montanhas, são preocupações que todos devem ter em mente enquanto for montanhista.

A Comissão de Proteção das Montanhas do UIAA foi fundada em 1969 e, desde então, se empenha no papel influente da promoção de projetos (de distintas associações e organizações internacionais) sobre sustentabilidade e proteção do meio ambiente nas montanhas.

Todo o detalhamento do manifesto com relação a este tópico, pode ser lido na íntegra neste link.

  • Segundo: Não deixe rastro (leave no trace)

 

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Deixar o mínimo impacto possível por sua passagem nas montanhas, é uma atitude de qualquer montanhista. Todo e qualquer montanhista ou escalador, deve respeitar a rocha e minimizar o impacto pessoal, sempre de acordo com a ética e valores locais e do equipamento.

Muito mais que apenas um slogan, a atitude deve ser seguida por todos os que frequentam a montanha. Deve ser seguida à risca, sem exceções.

  • Terceiro: Sempre trago de volta o que carrego comigo

 

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Este ponto vai muito além de não jogar lixo em lugar indevido na montanha. Tem a ver com a comida, dejetos (sim, o seu cocô) humanos e inumanos que geramos. Mesmo para a escalada, deixar uma costura em uma via, porque voltará em um outro dia também fere este manifesto.

A atividade nas montanhas gera quantidade significativa de dejetos sólidos, águas residuais que podem contaminar a água e o solo, através de absorção e eliminação inadequados. Por isso, não somente a UIAA se envolve em projetos mundiais que tem o objetivo de limpar as montanhas, mas também convoca montanhistas a contribuir e ser parte das iniciativas de limpeza que podem ser feitas nos locais visitados.

Se quer conhecer todos os projetos apoiados oficialmente pelo UIAA, acesse este link.

  • Quarto: Respeito à cultura e estilo de vida dos residentes e comunidades das montanhas que visitar

 

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A Comissão de Proteção das Montanhas do UIAA, reconhece que as atividades nas montanhas não somente devem mostrar a cultura local, mas também estar ali portando-se de maneira sustentável com os valores que os locais defendem. Valores estes tanto econômicos, quanto culturais e, inclusive, de índole mais intrínseca, como os espirituais.

As comunidades de montanha se encontram nas zonas mais afastadas e sensíveis do mundo. Geralmente rodeadas de pobreza. Por isso a UIAA convida aos montanhistas e escaladores a se envolverem na proteção do modo de vida dos residentes de montanha e, melhor ainda, colaborar nos projetos que buscam melhorar a vida das comunidades citadas.

Toda a informação de como fazer isso, pode ser encontrada neste link.

  • Quinto: Atuar com responsabilidade e de acordo com a cultura e as leis do lugar que visito

 

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Da mesma maneira como o item anterior, o montanhista e escalador deve conhecer previamente as formas de vida, tradições, normas e leis das sociedades que vivem nos espaços naturais, ou arredores, das montanhas que visita.

Assim como já foi abordado na Revista Blog de Escalada, a questão de visitar um local, sem influir na vida e ideais locais tem muito a ver com a primeira diretriz da série televisiva Star Trek. Nela está afirmado que ” nenhum membro (…) pode interferir com o desenvolvimento normal e saudável da vida e da cultura de uma espécie alienígena.” Esta premissa carrega consigo a maior obrigação moral. Isso porque o direito de cada espécie consciente de viver de acordo com a sua evolução cultural normal é sagrado.

Esta regra é baseada na ideia de choque cultural, ou seja, a interferência de uma civilização muito poderosa em outra menos desenvolvida, que pode causar um estrago sem tamanho. Ao longo da história existem vários exemplos de comportamentos danosos à cultura local.

  • Sexto: Escalada limpa

 

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Todo e qualquer deve comprometer-se a praticar o jogo limpo (fair play), cumprindo com todas as regras de antidoping que corresponde comido e a meu esporte. O fair play é uma filosofia adotada no esporte, que prima pela conduta ética dos praticantes. A expressão nasceu em 1896, durante as primeiras Olimpíadas em Atenas. Foi idealizada pelo Barão de Coubertin, o organizador dos Jogos, que a eternizou com a frase: “Não pode haver jogo sem fair play. O principal objetivo da vida não é a vitória, mas a luta”.

O conceito de fair play está vinculado à ética no meio esportivo. Sendo o montanhismo e escalada um esporte, os praticantes devem procurar jogar de maneira justa, não prejudicando o adversário de forma proposital nem mesmo o lugar que pratica a disputa: as montanhas e locais de escalada.

  • Sétimo: Oferecer ajuda a outros, incluindo situações que implique não alcaçar um cume ou minhas metas pessoais

 

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A montanha é o espaço para a amizade por excelência. Não vale a pena conquistar um pico, se isso significa deixar um amigo, ou qualquer companheiro montanhista, em problemas. Seja qual seja a relação que eu tenha com o necessitado.

As montanhas são lugares espiritualmente puros. O princípio da “amizade” deve estar por cima do ego, por cima da atitude de propagar o quanto poderosos somos. As montanhas não perdoam isso.

Para ler a inspiradora história de amizade na montanha, de onde sai este ponto (totalmente desrespeitado nas redes sociais) pode ser lido na íntegra aqui.

  • Oitavo: Usar equipamentos de escalada e montanhismo certificados

 

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A UIAA desenvolveu mecanismos de revisão de equipamentos certificados que são levados em conta a nível internacional.

Para poder desenvolver atividades de escalada e montanhismo de maneira segura, é importante usar equipamento certificado e, preferencialmente, nunca de segunda mão. Mesmo assim, escalar montanhas e vias de escalada de acordo com as minhas habilidades técnicas e experiência.

  • Nono: Respeitar outros montanhistas e compartilhar conhecimentos

Acredito que o alpinista realmente bom, é o homem com a capacidade e técnica do profissional, com o entusiasmo e frescor do fanático” – Edmund Hillary

 

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Para desenvolver boas práticas na montanha, assim como evitar o aprendizado por tentativa e erro, é importante compartilhar conhecimentos técnicos de escalada e montanhismo. Da mesma maneira considerar o ponto de vista de outros montanhistas e, sobretudo, respeitar a outros escaladores.

É melhor absorver a experiência dos que entendem, os quais já se equivocaram e aprendido com isso, do que cometer sempre os mesmos erros.

Este ponto, fundamental para o montanhismo e que, ao menos na América Latina, parecemos ter esquecido, pode ser lido na íntegra neste link.

  • Décimo: Escalar considerando meus companheiros

 

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Este item é baseado na Declaração do Tirol, sendo que a UIAA propõe retomar três pontos importantes: Responsabilidade e autonomia, trabalho em equipe e fazer comunidade.

Responsabilidade e autonomia: Montanhistas e escaladores praticam esportes que possuem riscos. Por isso, cada um é responsável por si mesmo e pela própria segurança.

Trabalho em equipe: Os membros da equipe devem estar preparados para fazer compromissos com o fim de equilibrar os interesses e habilidades de todo o grupo.

Fazer comunidade: Cada um deve um respeito igual a cada pessoa que encontre nas montanhas ou na rocha. Inclusive em condições isoladas e situações estressantes, não devendo esquecer de tratar a todos como desejo se seja tratado.

Toda esta parte do manifesto, pode ser lida na íntegra aqui.

Tradução autorizada: https://freeman.com.mx

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