O escalador americano Joe Kinder, de 37 anos, perdeu o patrocínio que tinha com a marca de sapatilhas de escalada La Sportiva e com a americana Black Diamond. A marca italiana, que faz 90 anos este ano, tomou a decisão, após grande polêmica que se alastrou nas redes sociais na semana passada. A marca americana alegou tolerância zero com a prática de cyberbullying (conhecido formalmente como assédio virtual) e encerrou o patrocínio na última sexta-feira.
Conhecido por seu espírito brincalhão, com humor que agrada mais adolescentes que pessoas adultas, o atleta ainda não se pronunciou sobre o caso. Os outros patrocinadores do atleta não se manifestaram publicamente sobre o caso. O cyberbullying pode trazer consequências drásticas, como a morte ou suicídio de alguém.
Tudo começou a partir de uma “brincadeira” que Kinder realizou com a escaladora Sasha DiGiulian, que desmarcou uma viagem à Espanha para ficar com sua avó em um hospital dos EUA. Joe, que possuía uma conta de Instagram restrita, com nome de “jetskijoyrider”, somente para “brincadeiras” com fotografias, postou uma montagem com o rosto de Sasha e seu namorado (veja a foto abaixo). A escaladora americana, obviamente, não gostou da brincadeira e protestou por meio de suas redes sociais.
Com uma chamada bem sugestiva, Sasha DiGiulian pediu que todos se levantem e lutem contra o Cyberbullying (“Rise Against Bullying”). Logo todos os seguidores da escaladora foram atrás de Joe Kinder exigindo satisfações. O escalador americano deletou a conta, assim como todos os comentários ofensivos deixados em sua conta pública do Instagram. Além disso, aproveitou para pedir publicamente desculpas à escaladora, alegando que sempre é brincalhão e não quer magoar ou ofendê-la.
O Joe Kinder alegou que também é vítima de cyberbullying, citando um episódio ocorrido em 2013, quando uma poda de árvores em área reservada causou revolta da comunidade de escalada.
Logo após as desculpas de Kinder, Sasha DiGiulian aceitou, mas manteve sua declaração de incentivo às pessoas que não se acovardem diante da prática de ofensas na internet. “Respeite as pessoas de todas as forças, formas e tamanhos da maneira que elas são”, complementou a escaladora. Seu empresário divulgou um vídeo (assista no topo do artigo) em seu canais de vídeos sobre o assunto.
Joe Kinder, que atualmente vive na Espanha, deve retornar ao seu país nos próximos dias, para tentar remediar a situação e salvar os outros patrocínios e apoios que possui.
A empresa Black Diamond, logo após terminar o patrocínio a Joe Kinder, aproveitou para enviar uma mensagem à atleta americana dando apoio à sua indignação e reiterando que a empresa possui política zero, com relação ao cyberbullying . Atletas como Emily Harrington, patrocinada da rival The North Face, publicou uma declaração de apoio à DiGiulian, assim como Conrad Anker.
Já o atleta patrocinado pela The North Face Cedar Wright, também conhecido por seu humor de gosto duvidoso, chamou de “some crazy drama” (dramalhão) em sua redes sociais, alegando que era apenas uma bricandeira interna que foi longe demais e tomou proporções acima do normal.
Marcas brasileiras não se importam
Ao contrário das marcas americanas, as brasileiras, principalmente as que exploram o nicho de mercado que são os esportes outdoor, preferem ignorar qualquer tipo de má conduta de seus apoiados e/ou patrocinados.
Mesmo com vários atletas (praticando largamente o cyberbullying) apoiados por marcas e ostentando seus logotipos em participações de torneios e eventos, as empresas aqui no Brasil se esquivam de exigir respeito ao público consumidor.
Basta uma rápida pesquisa por redes sociais para verificar que a prática é largamente realizada, à revelia dos patrocinados das marcas. Mesmo os representantes nacionais de marcas estrangeiras, a exigência de postura diplomática e educada de um atleta.
A ausênca de preocupação com a postura de um atleta, assim como a total falta de interesse em apoiar a cultura do respeito no esporte, é a atual realidade que existe atualmente no Brasil. Atualmente, para quem sofre de um ataque cyberbullying, a pessoa deve procurar a polícia civil e fazer um boletim de ocorrência.
A partir daí, deve procurar um advogado para identificar os IP´s dos agressores, acompanhado de todos os printscreen’s das ofensas recebidas em um documento que será usado no processo.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.