Crônica de uma mãe escaladora

Começar falando algo sobre nós nunca é fácil, parar por alguns minutos e descrever nossos sentimentos e momentos é talvez um maior conhecimento de nós mesmos.

Durante anos de minha vida profissional busquei escrever sobre fatos, temas, polêmicas e em poucos momentos parei e escrevi sobre mim, sobre minhas impressões e frustrações.

Foto: Carlos Ximenes

Foto: Carlos Ximenes

Mas vamos lá..

A convite da Revista Blog de Escalada, decidi escrever o que passei e vou passar (tomara!) por alguns anos dentro do nosso mundinho “climb”.

Não que eu seja a pessoa mais entendida do assunto, mas com certeza sempre fui uma apaixonada e aluna dedicada à essa escola.

Lições de vida!

Viver entre o amor e o ódio, o ápice da felicidade de cadena e a frustração de uma queda, o aperto de uma despedida e o retorno depois de 4 anos sem viver uma parte de mim.

Talvez esse primeiro texto seja apenas para muitos saberem quem eu sou ou de onde vim, e não pensarem -mas quem é essa aí? rsrs…

Juliana Frare e mãe de Maria, nascida em São Paulo, crescida e criada por tantos lugares entre praias, montanhas e selva de pedra.

O começo no climb não importa, e sim o retorno.

Foto: Carlos Ximenes

Foto: Carlos Ximenes

Por motivos de mudança e uma lesão no joelho (que ainda existe, por ser cabeça dura de não operar) me afastei e me exclui da escalada nos últimos 4 anos, talvez por não suportar a dor de não estar bem e não poder evoluir ou talvez por puro ego…

Mas me conformei e decidi esquecer e viver outros mundos, mesmo que sentindo uma falta muito grande, dias e noites de choro, resolvi parar de escalar.

Vendi todos os equipamentos (menos um par de estribos que tinha ganhado de presente de aniversário da galera mais incrível que conheci!) e decidi não pensar em voltar.

A vida tocou e mudou! E haja mudança!…

Poucos anos depois me veio a maior mudança de vida, ser mãe.

Foto: Juliana Frare

Foto: Juliana Frare

Normal na vida de muitas pessoas, mas ali, naquele momento parei para repensar em zilhões de coisas que poderiam ser mudadas, direcionadas, agarradas…

Entre elas voltar a escalar.

Pode parecer loucura ou até um momento em que muitas parariam de escalar.

Mas bateu a vontade de voltar, de ter Maria comigo, a simplicidade de viver, o desapego, o foco em objetivos, a curtição com amigos em conquistas e cumes alcançados.

Talvez o sonho ou desejo de toda mãe escaladora (e que hoje somos muitas), talvez seja ver seus filhos terem a mesma admiração e dedicação com a escalada.

Foto: Juliana Frare

Foto: Juliana Frare

Demorei a inserir Maria no esporte, mas aos poucos aconteceu naturalmente, sendo minha parceirinha em algumas trips, tomando picadas, comendo lanches durante o almoço, ficando imunda de terra e mato.

Ela ficava lá… só observando, apreciando e até nem se importando tanto.

Me lembro muito de um domingo de escalada que a levei comigo para a rocha no Morro do Moreno, em Vila Velha-ES, e quando chegamos na base das vias, começaram a aparecer vários macaquinhos e calangos próximo a nós, ela abriu um sorriso tão lindo e risos, dizendo “mamãe olha..olha o macaquinho!”.

Talvez pareça besteira…Mas ver a alegria dela por ter esse contato simples e livre com a natureza me encheu os olhos de brilho e a certeza ainda maior de que este é o caminho que quero seguir com ela.

Agora só faltava saber o que e como fazer esse sonho acontecer…

Os treinos de escalada intensificaram e tornaram-se uma rotina.

Academia, muro, rocha…

O objetivo “viver de climb” foi acontecendo.

Meus planos pessoais junto a escalada foram ficando claros, como a vontade de ser atleta, o objetivo de viver da escalada, não só sair por aí viajando e curtindo, mas sim que a escalada fosse meu “ganha pão”, e que fosse o dia a dia da Maria…

Foto: Carlos Ximenes

Foto: Carlos Ximenes

Talvez de tanto desejar e sonhar …Aconteceu!

Alguns meses depois, nasceu uma parceria junto a Sapo Agarras e a Gringa Agarras, além do apoio esse foi o início de uma grande amizade …

Não imaginaria que realmente se tornaria tão forte.

Em setembro do ano passado, Sapo entrou em contato comigo com um novo projeto, administrar e gerenciar um ginásio de escalada que seria construído em Porto Alegre – hoje conhecido como ONSIGHT (parceria da Sapo Agarras e Sherpa Alpínismo Industrial)…, projeto que mudaria tudo em minha vida, os objetivos como escaladora e mãe escaladora se tornariam realidade.

Sem hesitar aceitei o desafio.

Foram 12 dias de muito trabalho, objetivos sendo cumpridos, sonhos se tornando realidade, anos de trabalhos para ter experiência e base para encarar esse desafio!

Foto: Lindomar 'Sapo'

Foto: Lindomar ‘Sapo’

Não tenho palavras para agradecer e descrever essas todas novas amizades que nasceram e uma nova família …

Mesmo com tudo muito intenso … Foi tudo simples e leve!

Era hora de voltar para casa e resolver as burocracias de apartamento e mudança do Espírito Santo para o Rio Grande do Sul.

Depois de tudo resolvido era a hora pegar a mochila, o pacotinho (Maria) e viver um sonho.. Um objetivo!

Um ano novo começou …

Só agradecer e fazer acontecer o sonho de uma mãe escaladora!!!

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