Começar falando algo sobre nós nunca é fácil, parar por alguns minutos e descrever nossos sentimentos e momentos é talvez um maior conhecimento de nós mesmos.
Durante anos de minha vida profissional busquei escrever sobre fatos, temas, polêmicas e em poucos momentos parei e escrevi sobre mim, sobre minhas impressões e frustrações.
Mas vamos lá..
A convite da Revista Blog de Escalada, decidi escrever o que passei e vou passar (tomara!) por alguns anos dentro do nosso mundinho “climb”.
Não que eu seja a pessoa mais entendida do assunto, mas com certeza sempre fui uma apaixonada e aluna dedicada à essa escola.
Lições de vida!
Viver entre o amor e o ódio, o ápice da felicidade de cadena e a frustração de uma queda, o aperto de uma despedida e o retorno depois de 4 anos sem viver uma parte de mim.
Talvez esse primeiro texto seja apenas para muitos saberem quem eu sou ou de onde vim, e não pensarem -mas quem é essa aí? rsrs…
Juliana Frare e mãe de Maria, nascida em São Paulo, crescida e criada por tantos lugares entre praias, montanhas e selva de pedra.
O começo no climb não importa, e sim o retorno.
Por motivos de mudança e uma lesão no joelho (que ainda existe, por ser cabeça dura de não operar) me afastei e me exclui da escalada nos últimos 4 anos, talvez por não suportar a dor de não estar bem e não poder evoluir ou talvez por puro ego…
Mas me conformei e decidi esquecer e viver outros mundos, mesmo que sentindo uma falta muito grande, dias e noites de choro, resolvi parar de escalar.
Vendi todos os equipamentos (menos um par de estribos que tinha ganhado de presente de aniversário da galera mais incrível que conheci!) e decidi não pensar em voltar.
A vida tocou e mudou! E haja mudança!…
Poucos anos depois me veio a maior mudança de vida, ser mãe.
Normal na vida de muitas pessoas, mas ali, naquele momento parei para repensar em zilhões de coisas que poderiam ser mudadas, direcionadas, agarradas…
Entre elas voltar a escalar.
Pode parecer loucura ou até um momento em que muitas parariam de escalar.
Mas bateu a vontade de voltar, de ter Maria comigo, a simplicidade de viver, o desapego, o foco em objetivos, a curtição com amigos em conquistas e cumes alcançados.
Talvez o sonho ou desejo de toda mãe escaladora (e que hoje somos muitas), talvez seja ver seus filhos terem a mesma admiração e dedicação com a escalada.
Demorei a inserir Maria no esporte, mas aos poucos aconteceu naturalmente, sendo minha parceirinha em algumas trips, tomando picadas, comendo lanches durante o almoço, ficando imunda de terra e mato.
Ela ficava lá… só observando, apreciando e até nem se importando tanto.
Me lembro muito de um domingo de escalada que a levei comigo para a rocha no Morro do Moreno, em Vila Velha-ES, e quando chegamos na base das vias, começaram a aparecer vários macaquinhos e calangos próximo a nós, ela abriu um sorriso tão lindo e risos, dizendo “mamãe olha..olha o macaquinho!”.
Talvez pareça besteira…Mas ver a alegria dela por ter esse contato simples e livre com a natureza me encheu os olhos de brilho e a certeza ainda maior de que este é o caminho que quero seguir com ela.
Agora só faltava saber o que e como fazer esse sonho acontecer…
Os treinos de escalada intensificaram e tornaram-se uma rotina.
Academia, muro, rocha…
O objetivo “viver de climb” foi acontecendo.
Meus planos pessoais junto a escalada foram ficando claros, como a vontade de ser atleta, o objetivo de viver da escalada, não só sair por aí viajando e curtindo, mas sim que a escalada fosse meu “ganha pão”, e que fosse o dia a dia da Maria…
Talvez de tanto desejar e sonhar …Aconteceu!
Alguns meses depois, nasceu uma parceria junto a Sapo Agarras e a Gringa Agarras, além do apoio esse foi o início de uma grande amizade …
Não imaginaria que realmente se tornaria tão forte.
Em setembro do ano passado, Sapo entrou em contato comigo com um novo projeto, administrar e gerenciar um ginásio de escalada que seria construído em Porto Alegre – hoje conhecido como ONSIGHT (parceria da Sapo Agarras e Sherpa Alpínismo Industrial)…, projeto que mudaria tudo em minha vida, os objetivos como escaladora e mãe escaladora se tornariam realidade.
Sem hesitar aceitei o desafio.
Foram 12 dias de muito trabalho, objetivos sendo cumpridos, sonhos se tornando realidade, anos de trabalhos para ter experiência e base para encarar esse desafio!
Não tenho palavras para agradecer e descrever essas todas novas amizades que nasceram e uma nova família …
Mesmo com tudo muito intenso … Foi tudo simples e leve!
Era hora de voltar para casa e resolver as burocracias de apartamento e mudança do Espírito Santo para o Rio Grande do Sul.
Depois de tudo resolvido era a hora pegar a mochila, o pacotinho (Maria) e viver um sonho.. Um objetivo!
Um ano novo começou …
Só agradecer e fazer acontecer o sonho de uma mãe escaladora!!!
Mãe de Maria, Comunicadora (Tagarela !) por vocação, jornalista por opção, mãe solteira e escaladora por filosofia de vida, superação e paixão !!