Quem nunca viu um atleta, considerado muito promissor, que “arrebenta” na sua categoria de base (júnior, mirim, petiz, etc) mas, como um se fosse um feitiço, que não consegue ter o mesmo aproveitamento no profissional. A impressão, ao presenciar a cena, é de que o seu talento “derreteu” junto com seu suor. Até mesmo alguns grandes talentos profissionais parecem que somem, no momento que mais necessitam dele.
O zagueiro de futebol David Luiz, que à época era paparicado pela imprensa como a imagem do futebol moderno, nos jogos decisivos chorava e rendia como um amador. Hoje a imagem que mais aparece ao buscar seu nome no Google, é de seu choro na Copa do Mundo de 2014 após a derrota de 7×1 para a Alemanha.
Exemplos de atletas que decepcionaram em momentos decisivos não faltam. São “zilhões” de pênaltis perdidos em momentos decisivos, expulsões desnecessárias e infantis, quedas inexplicáveis, rendimentos pífios, etc. Toda pessoa lembra de um momento de fracasso inexplicável marcante de algum atleta, não importa o esporte.
O outro lado da moeda também é visto quase todos os dias: atletas que se destacam, mas nunca conseguem repetir o rendimento vencedor novamente. Parece uma inspiração esporádica. Da mesma maneira que são conhecidas várias bandas e cantores de um sucesso apenas, atletas de apenas uma temporada vencedora que aparecem quase todos os dias. Vencer em esporte de alto rendimento é difícil, mas manter-se vencedor por vários anos é algo ainda mais difícil.
Mas que tipo de imagem vem na sua cabeça quando escuta nomes como Martina Navrátilová, Jack Nicklaus, Nadia Comăneci, Edwin Moses e Esther Vergeer? Muito provavelmente de pessoas vencedoras, com momentos de superioridade espantosa em suas modalidades. Não é nenhum exagero dizer que, mesmo não conhecendo sobre o esporte que praticam, alguma vez na vida já escutou falar o nome deles. Muito provavelmente cercado de muitos elogios.
O documentário “Winning” é exatamente sobre isso: qual o segredo de atletas de alto rendimento que conseguiram manter-se por vários anos como os melhores dos esportes que praticaram? Na produção dirigida por Jacqueline Joseph é feito um retrato do pensamento, e dos bastidores, das maiores conquistas destes atletas que mudaram a maneira com a qual seus esportes eram praticados. O filme passa pelo início da carreira de cada um e, de maneira paralela, sem preocupar-se em focar somente em histórias separadas.
Cada uma das histórias, muito bem escolhidas e roteirizadas pela própria diretora, consegue não somente mostrar o ser humano por trás de cada atleta, mas também como enxergam o mundo e a vida. Dramas pessoais são pontuados, assim como o amadurecimento da maneira com a qual enxergavam a realidade que viviam, da mesma maneira que os acontecimentos aos quais foram aparecendo. Mas, principalmente, “Winning” tem o mérito de extrair como cada um dos ex-atletas enfrentaram os desafios esportivos e as adversidades da vida. Pois é neste aspecto que a produção se diferencia de outros documentários esportivos, pois procura não focar nas glórias de atletas, mas de como eles encaravam psicologicamente o treinamento e o desafio.
Fica muito claro que grande parte deles se destacou porque começaram desde pequenos, deixando claro que o papel de um caça-talentos é tão importante quanto a de um bom técnico. Durante várias passagens, especialmente de Nadia Comăneci, fica explícito que um trabalho de base é o que constitui uma geração de atletas vencedora. Um outro ponto, abordado superficialmente, é de como a política (e sua politicagem) atrapalha o desenvolvimento de um atleta. Politicagem esta que afastou técnicos, boicotou olimpíadas, afastou federações e assim por diante.
Já na metade o filme fica bastante evidente que a principal característica de todos, não era somente a sua força física e preparo técnico. Martina Navrátilová, Jack Nicklaus, Nadia Comăneci, Edwin Moses e Esther Vergeer tinham uma concentração (tanto em treinamento, quanto em competição) inabaláveis e o principal talento era a competitividade acima de qualquer outra.
Nenhum, ao menos aparentemente, tinha uma aptidão física que o colocava em vantagem em relação aos adversários. Mas o que fizeram ser imortais nos esportes que praticavam era sua vontade de vencer acima do normal. Várias de suas declarações em “Winning”, deixam evidente que o principal desejo não era derrotar alguém, mas sim render melhor que antes.
Este tipo de atitude pode ser observado quando no filme são abordos momentos difíceis vividos por todos. Encararam a dificuldade que a vida os proporcionou como mais um desafio a superar. Não há em nenhum momento lamentos de nenhum deles.
“Winning” é, a todo momento, envolvente e com excelente ritmo. Não há vontade de abusar de efeitos pirotécnicos de músicas ou grafismos, mesmo com excelentes ilustrações e animações para explicar o rendimento de cada atleta. A produção consegue ao seu fim concluir um magnífico trabalho biográfico de grandes atletas e, ao mesmo tempo, deixar o espectador com desejo de querer ver mais. Somente bons filmes conseguem isso.
Nota Revista Blog de Escalada:
O Documentário “Winning” está disponível para visualização no Netflix

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.