Todo e qualquer filme outdoor sobre alguma viagem é um retrato vivo das impressões que os produtores tiveram do lugar, na qual tiveram contato com cultura totalmente diferentes das que usualmente estão inseridos.
Por isso é fundamental que os diretores da produção tenham a sensibilidade de identificar os aspectos mais interessantes, despi-los de qualquer preconceito, e apresenta-los como uma espécie de propaganda do lugar.
Este pequeno detalhe além de tornar o filme interessante, consegue ganhar a empatia do expectador com a mensagem, além do lugar de onde se passa todo o desenrolar da história tornar-se interessante. Em palavras mais simples é dizer que a viagem impactou os participantes em diversos aspectos.
O principal erro neste tipo de produção está em captar imagens a esmo, e sem nenhum critério, para tentar contar uma história de viagem que ao final acaba por soar como uma bravata de quem volta de viagem.
O tipo de análise acima resume bem o que o filme “Valley of Giants”, e o tipo de mensagem que procura passar ao seu público.
Procurando contar a história de uma viagem de Philippe Ribière e Dan Bates, os produtores Read Macadam fizeram o “Valley of Giants”, um filme sobre escaladas em boulder no Omã.
Mostrando um local totalmente novo para a comunidade de escaladores esportivos , e em um local impressionantemente singular, o filme tinha vários ingredientes para sair do lugar comum que as produções sobre a prática de boulder acabam por ficar.
Culturas, pessoas, clima e, obviamente, locais diferentes do que é mostrado usualmente em filmes de escalada, “Valley of Giants” tinha todo o potencial para ser uma produção diferenciada das demais, e cercada de uma expectativa acima do normal por ter sido realizada no Omã.
Porém a teoria mostrou-se diferente da prática, e o filme “Valley of Giants” acaba por ser apenas uma produção regular sobre um local diferente, que acaba sendo mostrado como um lugar qualquer. Não há uma divulgação do lugar, e apenas dos escaladores e as marcas que o patrocinam.
Todas as cenas de escalada são demasiadamente longas, e por vezes até mesmo tediosas, e muitas vezes de maneira apenas ilustrativa, seguindo o estilo vazio de “videoclipe de escalada”.
Toda a propaganda indireta dos equipamentos às vezes beira a deselegância.
A iteração de Philippe Ribière e Dan Bates com a população local é colocada de maneira tão superficial que passa despercebido, assim como os tipos de comidas, religião e vestimenta que a população local vive.
Fosse comparar a rasa profundidade apresentada pelo filme, seria comparável às também fracas reportagens sobre viagens que frequentemente aparecem nos canais de TV, e que são vendidas como uma novidade.
Inegavelmente o filme possui uma direção de fotografia belíssima, e muito preocupada em mostrar a majestosidade da região. Somente este aspecto é muito pouco para sustentar uma produção de meia hora, ainda mais para alardear em sites e mídia outdoor.
Indiscutivelmente os escaladores ali documentados são fortes escaladores mas, assim como grande parte de filmes de escalada esportiva, os produtores imaginam ser o suficiente para que uma produção seja interessante, deixando em segundo plano roteiro e profundidade de história.
“Valley of Giants” é um filme que é carente de sensibilidade, além de ser nítido que os produtores poderiam ter olhado mais à volta do que apenas querer focar demasiadamente na escalada.
Nota Revista Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.