Realizar filmes outdoor que documentam uma viagem de um grupo de pessoas é talvez a fórmula mais usada para produções do gênero.
Para todo e qualquer ser humano, a necessidade de viajar para algum lugar fora do seu normal, e ter contato com pessoas, costumes e realidades diferentes não somente faz com que qualquer um evolua como esportista, mas também amadureça para a vida.
Qualquer viagem internacional serve para expandir os horizontes e contribuir para o amadurecimento intelectual de qualquer pessoa.
Por ser tão agradavel poder viajar, filmes que documentam viagens despertam a curiosidade do espectador para o local visitado assim como tem boa possibilidade de imersão na história e identificação com os personagens.
Acreditando nesta fórmula os produtores de “Valle De Las Rocas Bolivia Rock Climbing” resolveram sair dos EUA para ir para o interior da Bolívia para realizar escaladas em boulder.
Primeiramente causa estranheza, já que na Bolívia estão montanhas e lugares que chamam mais atenção do turista de esportes de montanha, além de que o lugar visitado não é mundialmente conhecido, e reconhecido, como uma área de boulder.
A produção de pouco mais de 40 minutos começa bem, mostrando as diferenças impactantes de cultura e vida entre os que os protagonistas estçao acostumados, e as que existem no país sul-americano.
Mesmo sem muitos diálogos é mostrado como ficam estarrecidos com o nível de pobreza e modo de vida do boliviano são humildes e muito próximo da miséria.
Tudo é documentado com qualidade e até os 10 minutos passados do filme, é documentado a parte social da jornada desde a cidade até o local onde iriam desfrutar dos boulders bolivianos.
A partir do ponto que chegam aos lugares de boulders “Valle De Las Rocas Bolivia Rock Climbing” cai no lugar comum de filmes de boulder: ausência de diálogo, excesso de gritos e grunhidos, humor pueril e de gosto duvidoso, piadas internas entre personagens e cenas longas, e por vezes desnecessárias, de escaladas em vários formatos de blocos existentes.
Dados como formação geológica, colonização do lugar, e motivação de porque praticar boulder na Bolívia, foram esquecidos.
Muito apegado à quantidade de inagens obtidas passam a adotar o estilo “Porky’s” e “American Pie” sempre com espírito adolescente e bagunceiro em alta e preocupação com história inexistente.
A frustração do espectador fica justificada por ter começado a produção focado mais nas pessoas e aspectos sociais mas que fica totalmente fora de sincronia com o restante do filme.
Viagens filmadas de maneira aleatória sem preocupação de ser filmes é comum.
Mas em produções outdoor a edição deste material é o ponto crucial para que haja a realização de um filme que se leva a sério como “Quanta Patagônia” sem cair no lugar comum de uma produção descartável.
O diretor Michael Bay ficaria satisfeito com a grande quantidade de imagens desnecessárias que seguem sua escola de cinema.
Todas as cenas de boulder são filmadas com qualidade fotográfica boa, sem pirotecnia, e com boa trilha sonora, mas o diretor perde a mão e abusa deste recurso batizado de “rock porn” por muito tempo, testando a paciência do espectador para tantas cenas repetitivas.
Próximo ao seu final “Valle De Las Rocas Bolivia Rock Climbing” já deixa a certeza de que se os produtores de filmes de boulder não se preocuparem com o produto, correm o risco de ficarem estigmatizados como produções superficiais dentro do gênero.
Mesmo para quem deseja realizar uma viagem à Bolívia para escalar boulder e esquecer lugares como as altas montanhas de lá e até mesmo o Salar do Yuni, o filme não consegue agregar nada, nem mesmo despertar a curiosidade.
Fica ao final o gosto amargo de ver tanta potencialidade em uma produção não ser utilizada com se espera.
Mesmo “Valle De Las Rocas Bolivia Rock Climbing” possuindo boa fotografia, e uma intenção de ser algo mais que um simples vídeo de uma viagem de amigos, mas que poderia ter investido mais tempo na qualidade final de roteiro e edição tendo assim um verdadeiro desejo de ser mais sério.
Quando tratar as pessoas com mais interesse, esquecer de documentar gracinhas e situações esquecíveis, filmes de boulder terão mais repercussão e relevância.
Nota Revista Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.