Crítica do filme “Pretty Strong”

Documentários sobre esportes outdoor são elaborados com uma determinada matemática na sua produção. Primeiro vende-se o projeto para algumas marcas e empresas e depois, quando se consegue o aporte financeiro, executa-se o projeto. Uma fórmula que parece simples, mas que esbarra no interesse das empresa em marcas a expor seus produtos e seus atletas.

Como algumas marcas apreciam mais que outras promover produções outdoor, acontece o inevitável: os mesmos atletas de sempre realizando feitos muito parecidos. A fórmula criou no inconsciente coletivo, no início da popularização do gênero, a impressão que somente feitos assombrosos deveriam ser mostrados. Foi quando atletas começaram a serem considerados astros dentro do próprio nicho.

Com o amadurecimento do gênero, as histórias é que começaram a ganhar importância, não somente a pessoa que protagonizava a produção. Assim, pessoas comuns que realizam feitos comuns, mas documentados de maneira mais criativa, começaram a ganhar destaque.

Nesse processo de amadurecimento aparece justamente Colette McInerney. A escaladora norte-americana só começou a tirar fotos para que ela pudesse viver na estrada, escalando. A partir dessa fonte de renda, McInerney se tornou uma artista relativamente respeitada em seu meio e, agora, também cineasta. Junto com Julie Ellison, Leslie Hittmeier e Sophie Danison, idealizaram fazer um filme de mulheres, com mulheres, mas voltado a todo o tipo de público.

O objetivo era claro: mostrar mulheres que não são estrelas, nem possui grandes marcas as apoiando, mas possuem força e determinação para inspirar a todo tipo de público. Em outras palavras: fazer um filme de mulheres, dirigido por mulheres, que mostrasse a visão das mulheres para mundo da escalada. Mas sem ter pegada feminista.

Os filmes de escalada, principalmente sobre homens, são criticados há anos, senão décadas, como filmes de amigos, necessitando de mais profundidade e ressonância.

Assim nasceu “Pretty Strong”, uma produção da Never Not a Colective, produtora formada por McInerney, Ellison, Hittmeier Danison. Para alavancar o projeto conseguiram arrecadar dinheiro por meio de financiamento coletivo e acordos comerciais habilmente costurados. Usando todos os contatos que possuía no mundo da escalada, Colette conseguiu reunir quatro histórias independentes, mas que possuem a mesma mensagem: mulheres também escalam forte.

“Pretty Strong” está em segmentos, cada um bem dividido com transições usando colagens no estilo de revista, mostra Nina Williams e Katie Lambert (em escalada tradicional em Yosemite), a boulderista Isabelle Faus (encadeando um V14), Hazel Findlay e Jessa Goebel (em uma divertida road trip de escalada), a finlandesa Anna Liina Laitinen, Daila Ojeda e as mexicanas Fernanda Rodriguez e Alma Esteban.

Por conta da influência profissional, o filme segue muito o formato da Sender Films em seu já tradicional Reel Rock. Até mesmo a edição e diálogos com cortes rápidos torna a comparação de “Pretty Strong” com qualquer filme do Reel Rock inevitável.

À medida que a produção avança em cada pequena história contada demonstra que ainda falta um pouco de habilidade à produtora de costurar melhor o produto final, com histórias mais cativantes do que o velho “rock porn” de sempre. Até pouco mais da metade, a produção mostra boas filmagens mas uma história sem muita profundidade.

Há qualidade no que é mostrado, mas não parece fazer o expectador prender o fôlego e manter a concentração em cada cena. Porém “Pretty Strong” cresce exponencialmente quando a história das mexicanas Fernanda Rodriguez Galvan e Alma Esteban acontece. Cenários diferentes, pessoas diferentes e, principalmente, histórias de vidas diferentes.

A última parte é emocionante, cativante e, principalmente, cheia de alma e emoção. O carisma e simpatia de Rodriguez é sedutor e Colette McInerney soube habilmente captar o modus vivendi das escaladoras latinas. A iniciativa da produtora de documentar locais e pessoas diferentes do que constantemente são vistas nas produções norte-americanas deu certo e presenteou o público com uma história cativante.

Para uma primeira produção, Never Not a Colective mostrou que possui potencial e, principalmente, descobriu uma maneira de abordar a escalada. Não ficar centralizando locais e pessoas exclusivamente dos EUA, potencializado com personagens de carisma e roteiro bem executado, pode ser o caminho das pedras para a produtora.

Portanto, para mulheres principalmente, “Pretty Strong” é um filme quase obrigatório. Seu refino em qualidade e iniciativa em colocar o foco fora das mesmas pessoas e locais de sempre o torna desde já um verdadeiro clássico. Claro que existem pontos a melhorar, mas por enquanto é uma estreia com o pé direito da produtora.

Nota Revista Blog de Escalada:

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