O que mediria o nível de maturidade e independência de uma pessoa? Alguns mais pragmáticos preferem acreditar que a idade.
O que dizer então da holandesa Laura Dekker, que com apenas 16 anos à bordo de um veleiro deu a volta ao mundo sozinha.
Esta é a história principal da produção “Maidentrip”, que além de documentar a viagem de Dekker em seu veleiro, também da pinceladas em sua personalidade, vida pessoal e pensamentos sobre aspectos importantes de cada indivíduo como amor, família e convivência social.
Contando a história desde o início, quando houve uma briga judicial para autorizar Laura a viajar e que acabou colocando em xeque até mesmo a guarda legal de seu pai, o filme mostra aspectos de sua viagem e suas divagações.
Sempre com animações de alta qualidade, que imitam pinturas em aquarela, os pontos de parada que a protagonista visita são marcados: Ilhas Canárias, São Martinho, Panamá, Ilhas Galápagos, Polinésia Francesa, Austrália, África do Sul e finalmente São Martinho (seu destino final).
Durante o decorrer do filme Laura Dekker mostra que, apesar de pouca idade, possui experiência e conhecimento de sobra para controlar o barco, dominar o tédio em dias de calmaria, cozinhar e fazer compras e provisões para seus dias no mar.
Tudo é captado praticamente pela própria protagonista, e habilidosamente editada para que o filme tivesse um ritmo e cadência que lembrasse muito a navegação dentro do barco.
Porém a escolha de não somente utilizar imagens captadas no barco, mas também imagens de sua infância para suas reflexões e narrações a respeito de aspectos de sua vida, fez com que o filme tivesse mais dinâmica e ao mesmo tempo conquistasse empatia do espectador.
Pesa a favor da protagonista também seu carisma e simpatia, que junto com sua voz doce de criança, sabendo contar uma história, que aparentemente renderia dramas e perigos, em um filme interessante e reflexivo.
Porém aspectos sobre suas escolhas, tanto da viagem ao redor do mundo quanto das cidades escolhidas, foram abordadas superficialmente.
Partes da viagem, e da estadia nos lugares escolhidos para aportar, também sofreram uma resumida que enfraquecem a história de sua volta ao mundo.
Não foi abordado também de onde saiu o suporte financeiro a Dekker, nem como tinha dinheiro local para compra de mantimentos, aluguel de marina e etc.
Mas escolhas certas do roteiro que fez questão de não ficar enfatizando Laura com frases de efeito vazias como “A Primeira Mulher a fazer isso”, ou a “mulher mais jovem a fazer esta viagem” muito utilizadas por quem quer mascarar feitos vazios.
Mérito também de “Maidentrip” é não tentar ser aquilo que ele não é: um filme de ação, ou naufrágio, ou heróico, e sim um documentário sem firulas nem invenções.
Por todo o desafio, e pela simplicidade e tenacidade que Laura Dekker demonstra, seguramente faria vários palestrantes de feitos vazios (como subir ao Everest) sentirem vergonha de si mesmos.
Nota Revista Blog de Escalada

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.
Boa crítica, vi o filme ontem e gostei muito, mas fazendo apenas uma pequena correção, na parte financeira, ela diz logo no início do filme/documentário, que correu atrás de patrocínios, e até podemos observar alguns desses em marcas adesivadas nos mastros do barco ou carrinho de compras onde fazem questão de filmar a famosa marca de refrigerantes por exemplo. Quanto a moeda local, fiquei com a mesma dúvida, mas minha constatação é que ela devia utilizar dólares americanos, que são aceitos em praticamente qualquer canto.