Crítica do filme “E as vias da Lapinha?”

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Falar de política e a importância da representatividade da qual qualquer comunidade necessita,  ganha muitas vezes um tom  enfadonho e tedioso para quem não conhece o verdadeiro valor.

Por mais “chato” que possa parecer, a construção de representatividade por qualquer comunidade é importante para que a mesma seja respeitada e seus valores e idéias sejam defendidos sob qualquer ameaça.

Se a política enveredou para um rumo não muito nobre, e tenha empregado demagogos e pessoas interessadas apenas nos próprios interesses particulares em detrimento de quem representa é uma outra história.

Abordando levemente a questão da representatividade, mas com precisão cirúrgica, o filme “E as vias da Lapinha?” documenta o crescimento do esporte na região da Gruta da Lapinha e a necessidade de uma representatividade de escaladores ausente à época.e-as-vias-da-lapinha-5

A produção dos diretores Aulus Baia e Walfried Weissmann procura documentar o que à época representava um grande vazio na alma dos escaladores mineiros: a interdição da  gruta da Lapinha à escaladas e escaladores.

A Gruta da Lapinha teve a escalada proibida por um decreto municipal em 2002, e era ainda vigente à época da realização do filme.

Hoje as escaladas na região são permitidas.

Procurando traçar uma linha de tempo desde as primeiras escaladas com a abertura de vias e história dos pioneiros do esporte na região, o filme também coloca como pano de fundo a despreocupação de escaladores com a necessidade de haver representatividade da comunidade de escalada.

Começando com um tom informativo jornalístico no início utilizando fotos históricas, compilação de vídeos da época e depoimentos, constrói o cenário da escalada à  época mas a produção vai ganhando tons mais dramáticos e lúgubres durante a exibição.

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Utilizando declarações de personagens de ambos os lados (escaladores e proibidores) , com maior volume para a parte dos escaladores, pondera, como poucos filmes outdoor brasileiros, como esportes de natureza ainda são pouco compreendidos pela população em geral.

Temas como comportamento dos praticantes , ecologia e impacto ambiental popula a mente de todos que querem discutir a escalada, mas sem muita profundidade.

e-as-vias-da-lapinha-1Do lado dos funcionários estaduais existe excessivo preciosismo, regras surgidas ao momento e boa dosa de desinformação mesclada com intolerância somada à sofismas tidos como conclusões científicas.

Em contrapartida do lado dos escaladores há a costumeira crença de que tudo é livre e de que ninguém pode ou deve controlar o esporte, e que todo lugar deve ser livre para a escalada.

No meio desta dicotomia de filosofias os diretores Walfried Weissman e Aulus Baia conseguem equilibrar e mostrar que ambos lados estão certos e errados e  apontam que houve falta de diálogo de ambos que culminou no fechamento da Gruta da Lapinha.

Tomando o caminho da prudência o filme constrói todo o conflito mostrando sempre os dois lados da batalha de idéias.

Com um final no mínimo melancólico “E as Vias da Lapinha” além de lágrimas convoca o espectador a uma reflexão à respeito de como é o comportamento de escaladores e sua organização política.

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O grande mérito da produção talvez seja que mesmo depois de tantos anos realizada, e a Gruta da Lapinha reaberta, ainda assim servir para a reflexão dos praticantes de atividades de montanha.

Comportamentos infantis, e por vezes pueris, de acreditar que órgãos públicos que regulam cavernas e grutas irão reconhecer montanhistas ou escaladores como turistas comuns, ainda existem na psiquê de cada escalador e fica evidente no decorrer do filme.e-as-vias-da-lapinha-3

Fica nítido e cristalino após o filme terminar a importância da comunidade de escaladores possuir vozes que a represente de fato,  para não ser tratada como algo menor e à margem da lei como foi por quase 10 anos desde o fechamento da Gruta da Lapinha para escalada em 2002.

“E as Vias da Lapinha?” é um documentário que tem em seu ponto forte o conteúdo e convite à reflexão.

O que talvez soe como uma produção “datada” por conta das limitações de equipamento à época que foi realizado, por  não existir filmagens com drones, por do sol em alta resolução, nem tomadas com profundidade de campo que são tão comuns nos dias atuais.

Mas mesmo visualmente em termos de fotografia tendo limitações, é uma obra que deveria ser exibida em academias, discutida em reuniões de clubes de escalada, abrigos de montanha e outros lugares com aglomeração de escaladores e montanhistas para a reflexão.

Sem dúvida “E as Vias da Lapinha?”  é um filme realizado com coração, mas sem perder maturidade e lucidez, muito menos apelar a sentimentalismos baratos.

A produção deve ser guardada com carinho, pois é um documento precioso do esporte e um dos melhores, senão o melhor, existente no Brasil.

Nota Revista Blog de Escalada: 

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