Realizar filmes que documentam um local, ou esporte, é um desafio grande por si só.
Muitas vezes a paixão acaba se sobrepondo à razão fazendo com que a produção soe sentimentalista em demasia.
Produções que tentam documentar o esporte a leigos acabam muitas vezes caindo na armadilha de ter a objetividade afetada pela passionalidade como ocorreu com os brasileiros “Chapaless” e “Brasil Vertical“, ou o americano “Western Gold“.
O excesso de imagens de efeito, pirotecnias de ângulos criativos e POV (Point of view) acabam por deixar o filme arrastado e desconexo, especialmente se não há uma história interessante e bem escrita para justificar o uso de grande quantidade de recursos técnicos.
Equilíbrio entre beleza de imagens e história é fundamental para qualquer tipo de vídeo.
Sabendo desta importância os produtores de “Down the Line” encararam a dura tarefa de explicar como é, e o que é, a prática de Canyoning.
Para isso viajaram para Squamish no Canada para filmarem um local pouco explorado por praticantes e assim evidenciar o quão prazerosa e divertida pode ser uma pequena excursão de Canyoning lá.
Com um roteiro bem simples mostraram como é a prática, e quais são as diferenças entre o esporte com outros como, por exemplo, a escalada, o filme consegue envolver o espectador cena a cena
Aproveitando a beleza natural do lugar realizam tomadas de imagens de bom gosto, e minuciosamente estudadas com antecedência.
Durante toda a exibição há alternância de sequências de imagens com música com outras com diálogos explicativos do porque estão realizando cada procedimento.
Aproveitando todos os ângulos possíveis e disponíveis (incluindo debaixo d´água) as imagens de beleza exuberante convida o expectador a também querer experimentar a experiência.
O filme flui naturalmente até o apoteótica sequência final de imagens com uma tomada de câmera de um mergulho que merece estar em vinhetas de filmes outdoor por muitos anos.
Fica evidente que o filme possui uma sensibilidade singular devido à qualidade das tomadas, e uma edição seguiu a mesma linha.
A qualidade do roteiro merece também ser destacado ensinando de maneira eficiente, e simples, que Canyoning não é somente fazer rapel em cachoeiras, e sim toda um conjunto de técnicas e objetivos explicados ao longo da exibição.
“Down the Line” possui fotografia de ótima qualidade e a cada cena é mais exuberante, o que não seria nenhum exagero afirmar que seria um crime exibir em qualquer local que não sejam a tela de um cinema.
Pelo conjunto de detalhes de qualidade ímpar a produção se diferencia da média existente visto que poucas documentam esportes de natureza são planejadas para serem exibidas em salas de cinema.
Pela riqueza de conteúdo e imagens sustenta a teoria que é um equívoco a ideia de que filmes outdoor podem ser exibidos em qualquer lugar desde celulares até telões em parques públicos (o que é um erro gritante pois desvaloriza produções sérias).
Embora exista produtoras que apostam todas as fichas em somente produzir imagens de efeito amontoadas, como o americano “Into the Mind“, a necessidade de uma história que cause empatia com o espectador ainda são itens que fazem a diferença para considerar qualquer obra como de qualidade.
“Down the Line” é dos poucos filmes pensados para que som, isolamento e qualidade de imagem que justifique um trabalho de tamanha qualidade excelência.
A produção é antes de tudo uma prova cabal de que quando a qualidade e excelência são pensadas desde a concepção o resultado é o deslumbramento da platéia.
Este deslumbramento por “Down the Line” é inevitável.
Nota Revista Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.