Crítica do Filme “Cerro Torre – A Snowballs Chance In Hell”

bigtmp_29814[1]Conhecida por usar pirotecnia tecnológica com mão pesada nas suas produções, os filmes da Red Bull Media House são famosos também pela qualidade de imagens impressionantes, mas histórias não muito profundas (neste caso, quando há história).

Inegavelmente a grande atração de filmes outdoor é a documentação de feitos impressionantes, porém é comum diretores enganarem-se pela ilusão de que a “conquista” por si só basta como qualidade de uma produção.

Junto com este equívoco há ainda outro equívoco comum: a admiração de diretores pelos personagens, e uma certa despreocupação com realizar ufanismos, além de excessiva tietagem, e assim acaba por evaporar a objetividade de qualquer produção.

Este tipo de postura pode ser observada em produções em geral, não sendo restrita a nenhuma em específico.

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Após avalanche de críticas desfavoráveis depois da realização de produções de baixa qualidade como “A New Perspective” e “Red Bull Psicobloc“, todo o staff da produtora divulgou a informação de que iria se reinventar e buscar uma maior qualidade de produto final.

Neste processo de amadurecimento, até mesmo para cunhar uma identidade própria, foi repensar e analisar todos os excessos de recursos utilizados e assim, produzirem filmes mais elaborados.cerro-torre-5

A grande aposta foi justamente “Cerro Torre – A Snowballs Change in Hell”, alardeado por meio de várias ações de marketing como das melhores produções realizadas pela Red Bull Media House.

O filme documenta o escalador David Lama tentando “livrar” (escalar em estilo livre) a via do compressor, localizada na Patagônia argentina, em um feito que pela dificuldade exigiu muito do austríaco tanto fisicamente como psicologicamente.

Não somente Lama sofreu com vários revés, mas também de toda a equipe envolvida no filme no decorrer das filmagens.

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Foram necessários quase 3 anos para realizar todo o projeto no qual enfrentou desde boatos de quebra da ética na escalada, indisponibilidade de agenda e até tempo ruim durante uma viagem.

cerro-torre-3Procurando mostrar um protagonista mais humano, e próximo da realidade de maior parte dos praticantes de escalada, o filme também fala um pouco da vida e carreira do atleta.

Durante toda exibição da produção é nítido o esforço da produtora em não repetir os mesmo erros já mostrados no passado, e tentar assim trilhar o caminho da simplicidade em realização de filmes outdoor.

Porém alguns elementos que agridem visualmente o espectador, como a insistência no uso do deselegante boné da empresa todo o tempo e a incômoda e insistente preocupação em evidenciar a marca em qualquer elemento do cenário, ainda estão presentes.

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Há de se elogiar, entretanto, o amadurecimento na elaboração do roteiro que desta vez se preocupou em elaborar uma história mais profunda e evidenciar que as pessoas são mais importantes do que as “coisas”.

A consistência do roteiro pode ser percebida na primeira parte do filme, quando a construção dos personagens e do desafio é bem executada.

Porém exatamente na metada do filme a insistência na exibição de imagens de David Lama aguardando janelas de tempo dentro do trailer deixam a história maçante.cerro-torre-2

Este tipo de “barriga” provocada por cenas excessivamente alongadas acabam causando a dispersão do espectador diante do tédio após tanta informação de ação prometida no início do filme.

Neste momento é fácil concluir que muitas cenas que não agregam coisa alguma para a história são insistentemente mostradas à exaustão, e poderiam ser eliminadas caso o processo de edição fosse mais criterioso.

Decepcionante também foi a documentação dos dois meliantes americanos, que na época das filmagens arrancaram os grampos da via do compressor, sem ao menos Lama condenar veementemente a ação da dupla (lembrando que o próprio filme mostra que David foi vítima de quebrar a ética no local)

O próprio protagonista no filme que em uma passagem se diz cumpridor da ética, mas decepcionantemente na análise do crime executado pelos pusilânimes se esquivou de emitir opinião.

A partir desta passagem que evidencia um David Lama omisso de opiniões próprias, o roteiro parece dar mais importância às pessoas que filmariam do que o protagonista, relegando a ele um papel de coadjuvante.

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Algumas escolhas no filme mostram que ainda há muito o que aperfeiçoar, pois tanto trilha sonora quanto os efeitos visuais parecem de alguém ainda vive nos anos 80, mostrando pouca sintonia do diretor com a atualidade de século 21.

O filme “Cerro Torre – A Snowballs Chance In Hell” evidencia que os produtores de Red Bull Media House se esforçaram bastante para produzir uma obra de qualidade, tomando algumas decisões necessárias, mas é perceptível que ainda há um longo caminho a percorrer até atingir a excelência e tornar-se referência positiva do gênero.

A produção é interessante de assistir, mas fica evidente que quando a produtora dos “touros vermelhos” se preocuparem em apenas documentar, e não somente criar tensão para catarses seus filmes, se tornarão mais interessantes e com menos aparência de peça publicitária.

Nota Revista Blog de Escalada:

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